Capítulo 8 - Novas experiências

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"– Poucas coisas ainda me fazem feliz, e você é uma delas." (Como eu era antes de você - Jojo Moyes)

Acho que até agora a ficha não caiu. Como assim a irmã dele tem leucemia? Não dá pra acreditar. Pelo o que já vi nos filmes e estudei na escola, é uma tipo de câncer que dá no sangue e pode matar facilmente, principalmente quando se trata de uma criança. Eu não estou acostumada com isso, mas mesmo assim topei ajudar o Rafa. Agora nós vamos visitá-la algumas vezes na semana, e hoje é o primeiro dia. Ele ficou de me buscar em casa à tarde e chegou na hora marcada. Mas em vez do skate ou da bicicleta, dessa vez ele está de carro com a mãe. Confesso que a presença dela me deixa meio nervosa. Será que ela acha que nós somos namorados?

– Prazer em conhecer você, Karen. – a mãe dele diz, me olhando através do retrovisor. 

– A-ah, prazer em conhecer a senhora também...

– Patrícia. Senhora não, por favor. – ela sorri. – Então... você  é a nova amiguinha do meu filho? – pelo jeito como ela pronuncia "amiguinha", dá pra entender muito bem do o que ela quer dizer.

– Mãe! – Rafael parece ter ficado envergonhado, e eu apenas dou uma risadinha sem graça.

O percurso até o hospital é bastante calmo. Ninguém diz nada, e eu me encontro bastante ocupada pensando em como devo me comportar lá dentro.

– Ei, vamos. – saio dos meus pensamentos com o Rafa me puxando pelo braço.

Nós estamos no INCA (Instituto Nacional de Câncer), e o clima aqui é sempre o mesmo de hospitais com pessoas em estado terminal. Mas não na ala infantil. Há crianças brincando por todos os lados, cada uma com os pais e uma enfermeira na "escolta". A maioria delas está com o rosto pintado, pelo visto hoje é um dia de brincadeiras, já que todas as enfermeiras também estão pintadas para a alegria de todos. Há brinquedos educativos, quebra-cabeças, carrinhos, bonecas e peruquinhas para as meninas espalhadas pela sala que está também toda decorada desde a parede até o chão com tapete emborrachado. Percebi que o Rafa foi em direção a uma garotinha muito bonita que brinca de boneca com um homem ao seu lado. A garotinha deve ser a Júlia, irmã dele. Confesso que fiquei derretida por ela desde a primeira vez que a vi. Ela é um pouco mais baixa que o normal para uma criança de 10 anos, tem longos e lisos cabelos pretos (que em breve terão de ser raspados) e uma pele branquinha como a do irmão. O homem ao seu lado deve ser o pai dele. Depois de todas as devidas apresentações, o Vicente disse que precisava ir para o trabalho e a mãe dele foi conversar algo com o médico. Eu fiquei brincando com a Ju (sim, já ficamos íntimas o suficiente para eu chamá-la assim) e o Rafa foi fazer alguma coisa que eu não sei o quê em outro lugar.

– Você é a namorada do meu irmão? – Júlia me pergunta, enquanto brincamos com um quebra-cabeça que está me dando nos nervos. Paro de tentar encaixar a peça da barbatana do peixe dourado na hora, e sinto as minhas bochechas esquentarem. 

– Não, nós somos apenas amigos. – solto um sorrisinho sem graça.

– Ah, mas você é bonita e eu acho que ele gosta de você. – ela dá uma piscadinha.

Bagunço o cabelo dela na tentativa de me desviar do assunto e nós voltamos a brincar. É muito divertido estar com essas crianças, elas parecem não ser capazes de ficar tristes mesmo com todos os seus problemas. Não se vê um só rosto nessa sala que não esteja com um sorriso estampado. 

Quando olho para a porta, vejo o Rafael de pé com duas latinhas de refrigerante erguidas. Ele me chama com um movimento de cabeça e eu vou até ele.

– Vejo que gostou da Ju... – ele diz tomando um gole de Coca. Agora estamos sentados no sofá da sala de espera.

– É, gostei muito dela. Adorei vir aqui. Essas crianças são uns amores. – Dou um sorriso largo ao lembrar delas.

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