Capítulo 33 - Era uma vez

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"Você só precisa dar uma boa olhada em si mesma, mudar o que precisa mudar e seguir em frente."(Deixe a neve cair)

Fernanda não foi à escola.

Por sorte, eu entrei sorrateiramente na sala assim que o sinal para a segunda aula tocou e o professor ainda não tinha chegado. Ocupei o meu lugar. Uma cadeira vazia, a de Fernanda, me distanciava do Gui.

– Psiu. – o chamei. A princípio ele não ouviu.

– Psiu!

Ele vira para trás. Sua expressão é horrível, de quem teve uma péssima noite de sono, se é que ele dormiu.

– O que aconteceu?

– Por que a pergunta? – ele desvia o olhar

– Você está com uma cara péssima.

Expira.

– Converso com você no intervalo. – e vira novamente.

Isso não está nada bom.

Viro para o lado e o meu olhar cruza com o de Rafael, que sorri de orelha a orelha. Quase tinha esquecido do seu presente. Sorrio de volta, e o meu coração aquece ao lembrar da noite de ontem.

O professor de Geografia, Antônio, entra na sala. Eu nunca tinha falado dele antes, então lá vamos nós: O professor Antônio é beeeem alto. Do tipo que me faz ter que inclinar bastante o pescoço quando preciso encará-lo para tirar uma dúvida ou pedir para ir ao banheiro. Mas ele é extremamente divertido e todos aqui adoram as suas aulas, principalmente pelo fato de que ele nos trata como amigos, e isso torna tudo mais leve. Antônio sempre está com a sua velha bolsa de couro marrom pendurada no braço. Sempre. Ninguém sabe o que tem dentro dela. Ele costuma trazer os materiais nas mãos mesmo, e sempre que nós perguntamos o que tem na tal bolsa, ele responde: "Coisas que ninguém precisa saber." Alguns alunos até fazem graça, dizendo que ele pode ser um agente secreto ou um terrorista, e que a bolsa dele está cheia de explosivos altamente perigosos.

 – Bom dia! – o professor exclama. Atrás dele, vejo um garoto. Provavelmente atrasado como eu, mas ele foi mais azarado por ter chegado na mesma hora que o professor. Mas eu não conheço esse garoto. Um novato? No meio do ano?

– Não lembro de você nas minhas aulas. – Antônio observa o garoto. Aliás, que gato, hein? Esse vai fazer sucesso.

Pelo canto do olho, vejo Rafael me olhar com uma expressão estranha, como se estivesse percebendo os meus olhares para o garoto novo.

– Eu sou novato. – o garoto não parece nem um pouco tímido. Se fosse eu, estaria super envergonhada.

– Tudo bem, cara. – Antônio dá um tapinha nas costas dele – Apresente-se.

Olho para o Gui, e percebo-o trincar os dentes e dar um soco leve na mesa.

– Com tantas escolas nessa cidade... – ele revira os olhos.

– O que disse, Guilherme? – o professor pergunta.

– Não, nada.

O garoto olha para o Gui de uma maneira estranha, como se o reconhecesse.

– Não vai dizer seu nome? – Antônio deposita sua bolsa no birô, cuidadosamente. Depois senta na cadeira.

Ele para de encarar o Gui e olha para a turma.

– Ah, sim. – sorri – Meu nome é Felipe Costa.

+   +   +

A primeira coisa que eu faço assim que o sinal é procurar o Gui. Enquanto desço as escadas, avisto Felipe rodeado por um grupo de garotos, conversando sobre futebol como se já fossem amigos há anos. Rafael está encostado na parede, de braços cruzados.  A "praia" dele são os esportes radicais, nada de bolas. Por isso às vezes ele não se inclui nessas discussões, como qual é o melhor time do mundo e quem jogou melhor no Brasileirão. 

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