Capítulo 53 - Bônus / Elisa

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- Você? - eu pergunto

Ainda estou tão surpresa que nem consigo falar mais nada. Surpresa pelas duas notícias, afinal. Primeiro que a Júlia vai ficar boa, o que é ótimo. Mas daí a saber que a doadora dela será a Judite... essa realmente me pegou de surpresa.

Não é nenhuma novidade que nós duas não nos bicamos. Alguns anos depois que a minha mãe se fora, meu pai se envolveu com ela. E eu, é claro, a odiei no primeiro momento. Pensei que com o passar do tempo pudéssemos ter uma convivência normal, mas a Judite é uma mulher muito fechada, então o resultado foi quase nenhuma palavra trocada entre nós. Uma conversa? Coisa rara. Demonstração de afeto, então? Puff. Nem pensar.

Mas agora vendo ela aqui na minha frente, sabendo que é a responsável por salvar a vida da irmãzinha do Rafa... Não consigo associar essa Judite àquela "madrasta má" que eu costumava conhecer.

- Por que a surpresa? - o médico barrigudo está me olhando - Esta senhora fez uma coisa ótima.

Judite está fitando os próprios pés.

- Ahn... Não, não é isso, é que... - olho para o lado e percebo que todos na sala estão me encarando, e aí eu lembro que ainda estou de pé, então sento novamente. - Não é nada, na verdade.

O cara me olha como se eu fosse louca, então dá um tapinha leve nas costas da Judite e fala:

- Precisaremos de você para fazer a bateria de exames que é necessária antes da doação propriamente dita. Mas, se quiser um tempo com os familiares da garotinha, pode ficar o quanto quiser.

Ele dá um último aceno de cabeça para nós e some pelos corredores.

Henrique aperta mais a minha mão. Ele me entende melhor do que ninguém aqui.

O silêncio prevalece, até que a mãe do Rafa levanta e simplesmente envolve a Judite no abraço mais forte e sincero que eu já vi na vida. Pela cara dela dá pra perceber que foi pega totalmente de surpresa, e digamos que a Judite não seja o tipo de pessoa que abraça muito. Mas ela não diz nada, apenas permanece ali parada, deixando a Patrícia chorar no seu ombro. Do nada, o Rafa levanta também, seguido pelo seu pai, então eles se unem ao abraço das outras duas. Quando eu dou por mim, alguns dos outros também já levantaram. Guilherme, Fernanda, a Karen e o pai, estão todos abraçando a minha madrasta num gesto mútuo de agradecimento. Um grande abraço coletivo.

Os únicos que não estão no meio sou eu, o Henrique e o pai, os pais do Guilherme e a mãe da Fernanda. Mas eles estão observando a cena, emocionados.

Henrique vira para mim. Pela sua expressão, sei que ele está querendo perguntar se eu quero me unir a eles, mas eu apenas abaixo a cabeça e ele entende a resposta.

O momento sentimental chega ao fim, e aí todos voltam para os seus lugares, menos a mãe do Rafa. Judite ainda está com uma cara estranha, meio surpresa, emocionada, confusa, sei lá.

Patrícia toca os ombros dela com as duas mãos.

- Muito, muito, muito, obrigada. - ela está com as pálpebras fechadas, muito cansada, porém indiscutivelmente feliz.

- Eu é que agradeço. - murmura Judite - Só fiz o que era certo.

Eu é que agradeço?

A mãe do Rafa dá um último abraço caloroso nela, e vira para o marido:

- Eles precisam me deixar vê-la. - sei que ela está falando da filha.

Então ela sai, seguida pelo Vicente e pelo Rafael.

A Karen ameaça levantar e ir também, mas o pai dela toca o seu ombro.

- Eu preciso ir. - diz - Tenho uma... - ele pigarreia - uma coisa importante para resolver.

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