Capítulo 12 - Em prática

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"É engraçado como há coisas nesse mundo que só nos enchem o saco, mas de que a gente sabe que vai sentir falta quando se forem."(A garota que eu quero - Markus Zusak).

 Duas semanas se passaram desde então, e eu não vejo a hora de pôr o meu pequeno plano em prática.

 — Bom dia, amores! — Joana entra na sala surpreendentemente equilibrando alguns livros, um projetor e um notebook nas mãos. — Preparados para o seminário?

 Alguns, como eu, gritam: "Sim!". Mas outros apenas ficam calados. Temos que ser sinceros.

 — Ok. Ok. Deixa só eu ligar esse projetor aqui para assistir aos slides de vocês — ela conecta alguns fios na tomada e aperta algumas teclas aleatórias do notebook.

 Meu olhar encontra o da Fernanda, que também vai participar de tudo, e depois o do Gui.

— Agora. — susurro para eles

 Imediatamente, Fernanda levanta da carteira.

 — Professora, posso ir ao banheiro? É urgente! Tipo, suuuper urgente mesmo. — ela aperta as pernas e segura a barriga com força na altura da bexiga, como se fosse entrar em trabalho de parto.

— Mas logo na hora das apresentações, Fernanda? — Joana adverte

— Eu não vou demorar, profs. Por favor, por favor, por favor! — ela faz uma careta

 — Tá bom, se é tão urgente assim, pode ir.  

 Então Fernanda sai correndo. Logos depois nós ouvimos um baque seguidos por um grito.

 — Ai , eu cai da escada. Socorro! Ai minha perna! — Fernanda está gritando

 Todos se assustam, e a professora sai correndo para ver do que se trata.

 — Fiquem aqui! — ela ordena, e sai. 

 Como bons curiosos e desobedientes, todos da turma correm para fora da sala a fim de ver o que aconteceu. Ótimo.

 Pego meu celular e o cabo USB na minha mochila, e entrego para o Gui que já está sentado em frente ao notebook da professora.

 — Vai, rápido! — digo. Preferi ficar em frente a porta, para poder avisar caso alguém esteja voltando.

Estico o pescoço para ver como estão as coisas. Sentada no segundo degrau da escada, Fernanda grita de "dor" e aperta a perna esquerda enquanto a professora tenta ajudá-la e os outros alunos se reúnem ao redor delas, se esticando assim como eu, numa parede de curiosidade. Realmente, ela daria uma ótima atriz.

 — Agora deixa só eu mudar o nome do arquivo para "Guerra Fria", assim ela não vai desconfiar. — Guilherme diz enquanto digita — E... pronto. Tudo feito. — ele sorri

 Recolho o celular e o cabo para guardá-los de volta na mochila. Agora é só esperar.

Quando o sinal toca para a segunda aula, a professora e os alunos enfim voltam para a sala. Fernanda entra mancando, com um braço ao redor do pescoço do Lucas enquanto ele a ajuda a andar. Percebo que o Guilherme fica emburrado.

 — Bom, diante do imprevisto com a colega — Joana aponta para a nossa atriz — Acho que hoje apenas alguns grupos poderão apresentar os seminários. Os outros ficam para amanhã. Ok?

 — Ok! — todos concordam. Assim vai ser até melhor.

 — Qual será o primeiro grupo a se apresentar?

Bruno levanta a mão de uma maneira entusiasmada demais, e é fuzilado pelo olhar de Fernanda que o condena mentalmente por ele ter se oferecido. Mesmo assim, ela levanta fingindo ter dificuldades para andar, e vai até a frente da sala. A apresentação demorou um pouco mais do que deveria, considerando a gagueira do Bruno que o faz demorar mais de um minuto para concluir uma simples frase.

 — Segundo grupo? — a professora diz e Guilherme levanta a mão. Daniel e ele vão até a frente da sala.

 — Professora, nós fizemos um slide. — Guilherme avisa — Eu já passei ele para o seu notebook.

 — Mas já? Como?

 — O nome do arquivo é "Guerra Fria" — ele ignora a pergunta dela

Então a professora abre o arquivo, e as gargalhadas começam. O vídeo da Elisa cantando horrorosamente mal é ampliado no quadro negro, e alguns riem, outros tampam os ouvidos.

 — Mas o que... — Elisa fica paralisada. Depois de alguns alguns segundos sua ficha cai, então ela dispara para fora da sala.

A professora fecha o vídeo.

— Senhor Guilherme, você está muito encrencado. Venha comigo. — ela o puxa pelo braço.

 Não sei como o Gui topou fazer isso por mim, porque obviamente ele sabia que iria se encrencar por causa disso. Mas ele é esperto, e no mínimo talvez só vai leve uma suspensão de um ou dois dias.

 — Isso foi demais! — Fernanda continua rindo, uma das mãos apoiada sobre a perna "machucada."

— Sim! Você viu a cara que ela fez? — digo rindo também — Ah, e você é uma ótima atriz, Crazy. Se eu não soubesse de tudo, acho que até acreditaria na sua encenação.   

— Eu sei, querida. — ela manda beijinho — A Globo não sabe o que está perdendo em não me contratar.


 Na hora do intervalo, encontro o Gui sentado no banco da cantina solitariamente tomando uma Coca-Cola. Eu e a Fernanda sentamos ao lado dele.

 — Você foi muito corajoso. — Fernanda dá um selinho nele

 — Ai, será que alguém pode me emprestar um balde? Acho que vou vomitar. — eu levo um dedo até a boca.

Fernanda me empurra sorrindo.

 — Você se encrencou muito? — pergunto para o Gui

 — Um pouco. Apenas uma suspensão de dois dias. Meus pais nem ficam em casa pra saber quando eu falto ou não, então não faz diferença. — ele dá de ombros, batendo os dedos no banco.

 — Que bom. — abraço-o — Obrigada, Gui.

 — Eu sei que sou demais, não vem querer pedir autógrafos, por favor. — ele levanta os braços

 — Idiota. — Fernanda sorri e deita a cabeça no ombro dele

Minutos depois, Elisa se aproxima de mim. Ela está com muita raiva, mas é compreesível. Acho que eu também ficaria assim se estivesse no seu lugar.

— Eu sei que foi você. Você e esses seus amigos idiotas. — ela aponta para o Gui e a Fernanda - Mas saiba que isso vai ter volta, garota. Ah se vai... Quem ri por último ri melhor. — então ela sai bufando, quase literalmente soltando fumaça pelas narinas.

 — Quem ri por último ri melhor. — Guilherme imita a voz irritante dela — Nossa, até chorei de medo aqui.

 O ditado soou tão ridículo saindo da boca dela, que nós apenas rimos.

 Sinto alguém me puxar pelo braço. É o Rafa. Sem dizer nada, ele me guia até uma parte do pátio, atrás de uma árvore. Não há muitos alunos nessa parte.

 — O que foi aquilo? — ele pergunta — Eu não imaginei que era isso o que você queria fazer com o vídeo.

 — Espere aí. — semicerro os olhos — Você está defendendo aquela garota?

 — Hã? Não, claro que não, Pequena. — se inclina para me dar um beijo.

 — Mudando de assunto...— ele diz, quando nos soltamos — Vamos sair hoje?

 — Sair pra onde?

 — Para a praia de novo. Mas dessa vez vai ser uma parte diferente da praia.

 — Que parte?

— Surpresa.

 — Você é muito misterioso!

 — E você é muito curiosa! — ele imita o meu tom de voz, e dessa vez sou eu que me inclino para beijá-lo novamente. — Apenas vá. Você vai gostar, tenho certeza.

 Então o sinal toca, e nós voltamos para a sala de mãos dadas. 

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