Capítulo 51 - Como na primeira vez

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"Se você tivesse uma segunda chance para o primeiro amor... Você aceitaria?" (Para onde ela foi - Gayle Forman)

Acordar a Fê foi realmente a parte mais difícil.

Ainda estou me perguntando por que diabos fiquei tão preocupada em acordá-la enquanto falava com o Rafa pelo telefone, porque é óbvio que eu poderia falar em qualquer tom de voz, ela continuaria dormindo normalmente. Só lembrei disso quando fui tentar. Empurrei, balancei, chacoalhei, fiz de tudo, e ela continuou dormindo feito uma pedra. Fernanda tem um sono tão pesado, que a única coisa que diferencia o seu descanso de uma morte súbita é o leve subir e descer do seu peito - quase imperceptível - que comprova que, opa, ela ainda está viva.

Aí eu tive a brilhante ideia de gritar "Acoooorda!", bem alto no ouvido dela, o que foi bom porque acabei acordando a sua mãe de uma vez também. Fernanda pulou da cama na hora, ainda meio grogue, me xingando de todos os nomes possíveis, e a sua mãe apareceu na porta do quarto perguntando se estávamos bem.

Então eu contei a história toda. Para a Fê, eu precisei apenas falar sobre a ligação e ela sacou tudo, ficou super preocupada na hora. Assim como eu, ela gosta muito da Ju. Mas com a Lúcia eu precisei ter mais paciência, porque ela nem mesmo conhece a irmã do Rafa, então eu tive que explicar tudo do começo. Ela também ficou comovida, então ordenou que nós fôssemos trocar de roupa imediatamente. Eu acabei tendo que vestir uma roupa qualquer da Fernanda, porque na minha mochila trouxe apenas o meu uniforme da escola, e acordar os meus pais tão cedo não está nos meus planos. E também estávamos com pressa.

Depois de tudo isso, estamos agora no carro, indo em direção ao INCA. São 5h00 da manhã. Ninguém está falando nada, nem mesmo a Fê que não costuma calar a boca. Involuntariamente, eu não consigo parar balançar a minha perna esquerda de tanto nervosismo.

- Você tá parecendo o Gui. - Fernanda comenta.

- Hã? - pergunto, ainda meio perdida. O meu corpo está aqui, mas a minha mente e o meu coração estão lá, como o Rafa e a Ju.

- Você está parecendo o Gui. - repete - Balançando a perna desse jeito. Ele fica mais ou menos assim quando tenta mentir.

- Ahn. Bom, no caso é nervosismo mesmo.

Ela assente, e me lança um olhar melancólico, o que só me deixa mais nervosa. Nós duas sabemos a gravidade da coisa, mas ninguém tem coragem ou quer falar diretamente sobre isso.

- Você acha que devemos avisar ao Gui?

- Sim, eu vou ligar pra ele mais tarde. - ela responde

Silêncio novamente.

A minha perna continua balançando loucamente, e a Fê agora está roendo as unhas. A mãe dela nos lança um olhar preocupado pelo retrovisor. Eu já estou começando a ficar com cãibra quando ela diz:

- Chegamos.

No mesmo instante em que ela para o carro, eu salto para fora do automóvel. Fernanda me segue.

- Ei, espere aí! - ela precisa correr um pouco para me alcançar.

Juntas, nós entramos no Hospital, seguindo pelos corredores para a ala infantil, que já sabemos onde fica.

E é aí que eu o vejo, em pé na sala de espera, andando de um lado para o outro com as mãos dentro dos bolsos do casaco que ele sempre usa. Mas uma vez ele faz aquilo, aquele negócio de agir como se só existíssemos nós dois no mundo. Porque é isso o que acontece quando ele corre para me abraçar, tão forte que quase dói. Eu não tinha parado para pensar o quanto senti falta desse abraço. Mentira. Tinha sim. Mas é como se não nos víssemos há anos, quando na verdade faz só um mês que estamos totalmente distantes um do outro.

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