"Mesmo quando digo que isso não vai dar certo, parte de mim ainda espera que dê." (Amy & Matthew - Cammie McGovern)
- O que eu estou fazendo aqui? - ele afunda as mãos nos bolsos da calça jeans preta - Não, essa não é a pergunta certa. Agora era pra ser aquele momento em que você pula nos meus braços e diz que sentiu muito a minha falta.
Ignoro as provocações.
- Mas o que você veio fazer aqui... Como você...?
- Como eu vim? Bom, há todo aquele processo de pegar o carro, seguir viagem e...
- Não seja idiota. - interrompo-o
- Calma, Karinha. - ele se aproxima de mim e passa a mão no meu cabelo - Eu já disse isso, mas acho que tenho que repetir. Você está linda.
A minha vontade nesse momento é de socar a cara desse idiota, mas eu simplesmente fico sem ação. Por que ele tinha que voltar? Depois de tudo o que fez?
Agora eu tenho no mesmo ambiente os dois garotos que me enganaram e me fizeram sofrer. Ótimo.
Eu com certeza terei uma conversa séria com esse garoto, porque ele não pode simplesmente chegar assim achando que é o dono do pedaço. Mas eu vejo pelo canto do olho que Rafael está se mordendo de ciúmes por ver nós dois assim. E ele nem sabe quem é o Henrique, portanto, vou aproveitar para provocar um pouco.
Henrique é realmente muito gato, daquele tipo que já chegou arrancando olhares ferozes das garotas da festa. Ele é alto, cabelo castanho quase loiro, e tem olhos claros. Pena que não vale a beleza que tem.
Viro para o outro lado apenas para ver Fernanda me olhando com uma expressão de quem diz: "Quem é esse bofe?" Eu apenas lanço meu olhar de "Depois eu te conto", e ela entende o recado.
Ironicamente, o "DJ" começa a tocar uma música lenta começa a tocar, e alguns casais vão até o meio da quadra para dançarem juntos.
Henrique estende a mão, na maior cara de pau do universo.
- Vamos?
Eu hesito, mas com outra olhadinha para o Rafael percebo que está furioso, com as mãos fechadas em punho como se a qualquer momento fosse voar em cima do Henrique, então aceito.
Nós dançamos normalmente por alguns minutos, até ele começar a tentar me beijar. Eu esquivo e consigo me livrar de todas as tentativas, até que em certo momento eu viro para um lado e ele vira também, conseguindo com que nossos lábios se choquem.
Eu não penso duas vezes e logo dou um tapa no seu rosto.
- Primeiro um beijo, depois um tapa... - ele está com a mão cobrindo a parte do rosto em que bati. Uma mancha vermelha marcou sua pele branca. - Bipolar você, heim?
- Você não acha antiquado tentar beijar uma garota a força?
- Não. Primeiro porque não foi a força. E segundo porque você não é qualquer garota, e sim minha namorada. Ou já se esqueceu de tudo que vivemos?
- Eu? Sua namorada? - solto uma risada de escárnio - Será mesmo que eu preciso te dar outro tapa para refrescar a sua memória? Ou você esqueceu o que fez comigo? Porque eu não esqueci!
- Mas eu não fiz nada com você.
- Ah, não. Só me traiu, né?
- Mas tudo aquilo foi um mal entendido, Karinha. Eu nunca teria te traído, você sabe.
- Não me chame assim!
- Ué, por que não? - ele segura os meus punhos e eu tento me debater, mas é inútil - Você costumava gostar do apelido.
- Me solta! - grito.
Depois disso a única coisa que eu consigo ver é Rafael - sei lá de onde ele saiu, juro que nem o vi chegar - desferindo um soco no rosto do Henrique, então o vejo se debater no chão. É o soco que eu queria dar, mas obviamente não teria toda essa força.
- Hey, cara! O que você tem?! - Henrique levanta com as mãos no maxilar e o nariz sangrando - Será que agora ninguém pode mais ter uma DR com a namorada que já chega um louco socando você? Vocês do Rio de Janeiro são bem estouradinhos.
- Sua namorada? Desculpe, mas não sei de onde tirou isso. Ela é minha namorada. - ele me abraça pelo ombro, como se eu fosse uma criança que precisa de proteção. O estranho é que eu estou me sentindo exatamente assim. Preciso da proteção dele.
- Isso é verdade, Karinha?
- Karinha? Que droga de apelido é esse?
Vários alunos curiosos já se juntaram ao nosso redor para ver o que está acontecendo. Claro, ninguém quer perder uma boa briguinha.
Eu estou nervosa, confusa e envergonhada ao mesmo tempo. Nem consigo responder, apenas saio correndo para fora da quadra. Sento em um canto no jardim da escola e involuntariamente começo a chorar.
Uma das piores sensações que existem é quando você chora, mas não sabe ao certo o motivo das lágrimas. Por que tantas coisas têm acontecido, sua vida está tão bagunçada, que você poderia ter uma lista de explicações. Mas nenhuma delas parece fazer sentido, então você apenas deixa as lágrimas rolarem.
Rafael vem correndo e senta ao meu lado.
- Ah, não. Não chore. Não gosto de te ver assim. - ele afasta uma mecha do meu cabelo que estava sobre os meus olhos, e alisa meu rosto com o polegar. Isso só me fez chorar mais ainda.
Então ele me abraça, e só agora eu me dei conta de como senti falta desse abraço. Ele vira o rosto, aproximando- o do meu.
Nossas testas já estão coladas e ele se aproxima cada vez mais. Mas aí eu me esquivo e ele beija apenas a minha bochecha.
- Desculpe. - Rafael abaixa os olhos.
Eu não digo nada, mas nós continuamos ali, abraçados. Eu sei que deveria sair, mas não quero. Gosto da presença dele.
- Quem é aquele cara? - ele pergunta, depois de algum tempo.
- Bom, é uma longa história...
- E eu gostaria muito de saber, se você quiser contar.
Então eu conto toda tudo, desde o nosso namoro de crianças até quando eu o flagrei com outra.
- Mas que idiota! - exclama - Como ele pôde ter feito isso com você?
- Como se você também não tivesse me magoado... - desvio o olhar.
- Mas eu nunca te trairia. E eu queria te explicar, Pequena, eu...
- Não, eu não quero ouvir. - digo calmamente - Apenas... Me leve para casa. Pode ser?
- Tudo bem.
Nós andamos em silêncio até a minha casa, numa distância incômoda um do outro. Na verdade eu gostaria de estar abraçada com ele, mas não me parece correto. Não no momento.
- Chegamos.
Ele dá um sorriso torto e me abraça. Mais uma vez eu queria que o tempo parasse, para que pudéssemos ficar assim por horas.
Então ele diz próximo ao meu ouvido:
- Mesmo que você me odeie pelo que fiz, vou estar sempre aqui para te proteger.
A minha vontade é de gritar que eu não o odeio, muito pelo contrário. Eu o amo, o amo muito. Muito mais do que eu imaginava ser possível. Mas parte de mim ainda está muito magoada, então eu apenas sorrio e sigo para o apartamento.
Quando passo pelo Seu João na portaria ele me dá um sorriso caloroso seguido por um: "Boa noite, Karen." E eu retribuo tentando não parecer triste para que ele não pergunte nada. A única coisa pior do que estar triste é ter que explicar para as pessoas o motivo pelo qual você está triste.
- Sabe, vocês formam um belo casalzinho. - ele aponta para Rafael que já estava do outro lado da rua, voltando para a escola.
Eu apenas dou um sorriso amarelo e entro no elevador.
Quem dera que fôssemos um casal...
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Páginas da Minha Vida [Completo]
Teen FictionKaren é uma adolescente autêntica que levava uma vida normal em São Paulo até que, com a separação dos pais, precisou mudar de cidade. Com isso a sua vida vira do avesso, o que surpreendentemente acaba não sendo tão ruim assim. Quando ela conhece n...