Capítulo 10 - Enfim, 15

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"Não quero frases prontas, aliança e rosas vermelhas. Quero um abraço em silêncio, com falta de ar." (Depois dos quinze - Bruna Vieira)

Dizem que 15 é uma idade especial. Para a maioria das garotas, essa data é sinônimo de grandes festas, dança, vestidos caros, muitos presentes e a tradicional valsa. Eu nunca pensei assim, na verdade. Para mim seria só mais um ano na minha vida, como quando completei 13 ou 14. Mas agora vi que estou errada, e com certeza os meus 15 serão mais que especiais.

– Ei – Rafael diz quando desgruda os seus lábios dos meus. Não sei se nos beijamos por muito tempo mas talvez sim, considerando a minha falta de fôlego. – Você ainda não respondeu a minha pergunta.

– E precisa? – sorrio

– Claro que precisa, ué. 

– É claro que a minha resposta é sim. – cochicho, e ele abre um sorriso.

Quando estamos quase nos beijando de novo, ouço um pigarrear. Meu pai  está do nosso lado, emburrado e com os braços cruzados.

– Bom, acho que essa é a hora em que nós temos uma conversa, certo? – ele aponta com o queixo para o meu quarto, e nós vamos até lá. Sentamos todos na minha cama. Eu opto por ficar no meio do Rafa e do meu pai, sabe-se lá se ele não quer estrangular o coitado?

– Então quer dizer que você está namorando o MEU bebê? – meu pai encara o Rafa, intimidador.

– Senhor, pode ficar tranquilo por que as minhas intenções são as melhores possíveis. – o Rafa atropela as palavras. Parece que ele  ensaiou essa frase há dias.

– Pai, eu não sou mais um bebê! – reviro os olhos.

– Ah, você é sim. – ele me repreende com um olhar. Odeio quando faz isso.

Antes que meu pai abra a boca para dar início a um discurso sobre como somos novos, e para ter cuidado com a gravidez precoce porque ele sabe disso e vê diariamente vários casos assim no hospital onde trabalha e blábláblá, minha mãe entra no quarto para salvar a pátria. Ela está usando um longo vestido roxo e florido. Nos braços e no pescoço, vários colares e pulseiras com diferentes significados. Ela gosta disso.

– Não me diga que já veio repreender eles? 

Meu pai suspira de olhos fechados.

– Cíntia, eles são só crianças. 

– Não, não são. Carlos, eles são adolescentes. – diz sorrindo como se estivesse explicando para uma criança coisas óbvias sobre a vida – Até parece que você nunca teve a idade deles.

– Já tive, e é por isso mesmo que tenho medo.

– Você não lembra de nós? – Minha mãe senta ao lado do Rafael na cama. – Também nos conhecemos na escola. Como eles.

– É claro que eu lembro. Mas não é a mesma coisa, e além do mais você escolheu um caminho diferente... – ele desvia o olhar.

– Isso não vem ao caso. – agora ela não está mais sorrindo – Mas você viu tudo aquilo ali na sala, e não é preciso ser um bom observador para perceber o quanto esses dois se gostam.

Meu pai pensa por um tempo.

Deixa, deixa, deixa...

– Ok, ok. Tudo bem. Mas, pelo amor de Deus, juízo!

Yes!

É impressionante como em uma discussão com o meu pai minha mãe sempre acaba saindo vitoriosa, mesmo que ela esteja irremediavelmente errada (o que não foi o caso dessa vez). É como se ela tivesse um jeito especial de lidar com ele.

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