Capítulo 46 - Espinhas da vida

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"Eu nunca tive um coração partido. Não diretamente. Não que a pessoa responsável soubesse. Reformulando. Eu já tive o coração partido diversas vezes, mas a dor sempre foi só minha. Eu me apaixono pelas pessoas, mas elas não sabem disso. Eu desapaixono e elas continuam sem saber." (Por isso a gente acabou – Daniel Handler)

Mais um final de semana monótono da minha vida, e cá estou.
Minha cama, cobertores, moletom, um bom livro, o Mint, e eu no meio disso tudo. Pois é, isso mesmo, eu disse cobertores e moletom. Hoje está sendo um dia chuvoso aqui no Rio, e eu adoro isso.

Esses dias eu tenho feito várias coisas para tentar espairecer, para não pensar no Rafa. Como ficar horas no chat com as minhas amigas, e ler, e assistir a filmes, e comer feito uma louca, e ouvir música, e ler de novo. Mas está ficando cada vez mais difícil, principalmente quando tenho que vê-lo todos os dias na escola, e aí desviar dos olhares que ele lança pra mim, tentar fingir que ele não existe porque ainda estou magoada, embora essa seja a coisa mais inútil que eu já fiz na vida.

Minha leitura é interrompida pelo toque do meu celular, Imagine Dragons  ecoando no meu quarto silencioso.

– Alô?

– Oi. É a Elisa.

– Elisa? Ué, porque está ligando pra mim? Aconteceu alguma coisa?

– Não, garota. Relaxa aí. Eu só queria contar as últimas.

– As últimas?

– Ahã. As últimas, as boas novas, as fofocas, as quentinhas. Chame como quiser. Você acredita que o Henrique não foi expulso da escola? Acabei de ficar sabendo, a Sofia me contou porque a Vitória contou pra ela porque o Lucas contou pra a Vitória e enfim. Agora estou contando pra você. Aliás, acredita que a Vitória e o Lucas estão meio que voltando? Tem gente que gosta de sofrer mesmo. – ela fala, sem pausa para respiração.

– Hã? Espera, fala mais devagar. Uma notícia de cada vez.

– Tá. O idiota do Henrique não foi expulso da escola.

– Como assim não foi expulso? Mesmo depois daquela armação toda?

– Pois é. Eu tô indignada. Fiquei sabendo também que o pai dele foi lá na escola e conversou com a Carmen, daí sei lá porque ela decidiu que não faria nada com ele.

– Assim tão fácil?

– Bem vinda ao Brasil. O país onde as pessoas são facilmente subornadas.

– Peraí, você acha que ele subornou a diretora?

– É o que eu penso.

– Acho que não. Eu conheço o Beto... Ele é bom de papo mesmo.

– Então o que ele fez? Deu uns beijinhos nela?

– Talvez. Quem sabe?

Ela ri.

– E o Felipe? – pergunto

– Foi expulso, né. O que você esperava?

– Isso eu sei. Mas e os pais dele?

– Bom, me disseram que eles nem se deram ao trabalho de vir para o Rio tentar ajudar em algo, ou levá-lo de volta pra Minas. Simplesmente o largaram. Mas parece que a avó dele está sendo legal.

– Nossa. Eu acho que ele já deve estar em algum tipo de clínica para menores ou algo assim, sei lá. Porque não o vejo mais no prédio. Sabe, ás vezes eu penso que isso que o Henrique fez foi bom, em parte. Tudo bem que o Felipe foi expulso e tal, mas pelo menos ele vai se livrar do vício.

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