Capítulo 45 - A verdade

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"As pessoas, descobri, possuem camadas e camadas de segredos. Você acredita que os conhece, que você os compreende, mas seus motivos estão sempre escondidos de você, enterrados em seus próprios corações. Você nunca vai conhecê-los, mas às vezes você decide confiar neles." (Insurgente – Veronica Roth)

 

Um murmúrio interrogativo se instala.

– Por favor, menina. – diz Carmen, impaciente. – Eu entendo que você queira proteger o seu amigo, mas também não precisa inventar mentiras.

– Ele não é meu amigo. E eu não estou mentindo. Eu sei quem colocou as drogas na mochila dele, já disse.

– Sabe, é?

– Sei.

– Então diga logo. Quem foi?

– O Henrique.

– O quê?! – Henrique fica de pé também, olhando incrédulo para Elisa – Não, não acredita nela, diretora. É mentira!

– Então você está dizendo que era o Henrique quem vendia as drogas aqui na escola? – a diretora pergunta.

– Não. Estou dizendo que foi ele quem colocou aquilo lá na mochila do Rafa. Não sei quem vendia as drogas. Mas ele sabe!

– Eu não sei de nada. – Henrique faz a sua melhor carinha de eu-sou-um-anjo-acreditem-em-mim.

– Ah. – uma risadinha sarcástica – Ora, francamente. Vou ter que pedir para que se retire... Como é seu nome mesmo?

– Elisa.

– Sim, sim. Por favor, Elisa. Preciso terminar essa palestra o quanto antes.

Mais murmúrios. Um cara atrás de mim batendo no relógio freneticamente, reclamando que "Ei, eu tenho hora para o trabalho!"

– Deixa ela falar! – eu levanto a voz. Um monte de pares de olhos grudam em mim.

Carmen franze o cenho.

– O que é isso? Um complô adolescente?

Alguns pais riem.

– Olha. – Elisa vira de costas para o mini palco, encarando todos os rostos de todos os alunos da nossa turma – Você que fez isso, quem vendia as drogas. Não acha que deveria admitir? Vai deixar um cara que não tem nada a ver com essa história toda, levar a culpa no seu lugar?

– Oh, Deus. Dai-me paciência. – Carmen esfrega a testa.

Elisa a ignora e continua nos fitando, com um olhar piedoso que eu nunca imaginei que ela seria capaz de reproduzir.

– Faça a coisa certa. – ela diz.

Todos se entreolham.

Alguns minutos de silêncio. A diretora impaciente, os alunos curiosos das outras turmas, os pais do Rafa esperançosos, o Rafa completamente confuso, os pais dos outros alunos quase prestes a levantar e ir embora, Fernanda e Guilherme do meu lado, com o semblante de quem assiste a um filme de ação.

Elisa suspira.

– Fui eu. – alguém diz.

– Put's. – Henrique cobre o rosto com as mãos.

– Uooou! – Fernanda faz uma careta – Felipe? Quem não te conhece que te compre, heim?

– Crazy! – Guilherme a repreende com o olhar.

Todos os outros, inclusive eu, permanecem pasmos.

– Caraca. – diz Lucas, de boca aberta – Isso aqui tá parecendo uma novela mexicana.

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