Capítulo 55 / Fernanda

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Em minha opinião, a única coisa pior que estudar matemática é ter que acordar cedo justamente para estudar matemática - e as outras matérias também, claro.

Férias, minha querida, onde está você? Por onde andas?

Minha mãe para o carro em frente ao colégio.

- Tchau, filha. - diz ela

Solto um grunhido preguiçoso que espero que possa ser compreendido como um "tchau". Eu saio do veículo, me sentindo miserável, a bolsa jogada sobre o meu ombro direito. Para não perder o costume (cof cof), eu meio que acordei tarde hoje, e aí a única coisa que fiz foi amarrar o cabelo às pressas num rabo de cavalo alto e colocar o meu moletom do Mickey, por que, opa, está fazendo frio. Pelo menos algo bom.

Cumprimento o Jorge na portaria e subo as escadas sem muita pressa até a sala de aula. A professora Joana já está na sala, mas ela mal percebe que eu entrei, pois está vidrada em um livro estranho que parece ser meio velho. Os alunos estão sentados em duplas, e no quatro está escrito: LER OS TEXTOS E RESPONDER OS EXERCÍCIOS DA PÁGINA 249.

Sinto muito, Joaninha, mas lendo-e-respondendo os exercícios é tudo menos o que eles estão fazendo agora. Não que ela esteja notando, tampouco. A professora está tão alheia ao mundo a sua volta, fazendo pausas na leitura apenas para suspirar fitando uma pulseira dourada no seu pulso, que eu poderia dizer que ela está apaixonada. Mas se isso é sinônimo de uma aula "vaga" para poder tirar um cochilo, prefiro deixar quieto e só aproveitar.

Corro os olhos pela sala. Elisa está sentada com o Henrique, o Bruno com a Bárbara, o Daniel com a Sofia, Vinicius com o Murilo... Todos conversando. Ao olhar para o outro lado vejo o Rafael e a Karen, tão entretidos que nem notam a minha presença. Depois que a Ju, irmã dele, ficou melhor, o Rafa é só sorrisos por aí. E eu acho que dessa vez ele e a Ka finalmente se acertam.

- Hey, Crazy! - ouço alguém chamando

Mas assim que eu viro, sinto o meu rosto ficar mais quente, e fecho a cara na hora - se é que pode ser possível ficar pior do que já estava antes. Aquela Made in China, digo, a Vitória, está sentada ao lado do Gui. Ele acena para mim e eu caminho até lá, carrancuda.

Vitória tira os olhos do livro e sorri quando me vê. Eu retribuo, porém de uma forma mais irônica. O Gui, percebendo o clima estranho, começa a se defender:

- Ela sentou comigo por que estava sem dupla. Eu...

-... Ele estava esperando você chegar. - ela completa

- Ótimo, agora eu já estou aqui. - digo secamente

O Gui me repreende com o olhar, mas eu percebo que a Vitória nem está mais prestando atenção na gente. Ela está olhando para algo além de mim, e quando eu olho para trás vejo o Lucas entrando na sala, com uma cara de sono pior do que a minha - realmente muito ruim.

Ele se aproxima da nossa mesa, e a Vitória simplesmente levanta e o envolve num abraço apertado. O Lucas fica corado na hora, mas retribui o carinho, segurando ela pela cintura. Alguns garotos começam a zoar, assoviando e cantando um coro de "hmmmmm", mas eles nem parecem se importar. A professora Joana continua dentro da sua bolha.

- Quer fazer dupla comigo? - ele pergunta para ela

- Claro. Eu estava mesmo esperando você chegar. - ela sorri de orelha a orelha, então sai sem nem olhar na nossa cara, o que eu até acho bom.

Eu coloco a minha mochila na parte de trás da cadeira e sento ao lado do Gui.

- Então eles estão mesmo juntos? - pergunto.

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