Capítulo 37 - Loucos, porém felizes

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“(...) Porque a amizade é o suporte do mundo.” (A batalha do apocalipse; Eduardo Spohr)

Três adolescentes coloridos caminhando pelas ruas. Era exatamente isso. Durante o caminho, as pessoas nos lançaram olhares estranhos como se estivéssemos equilibrando uma melancia na cabeça. Nada contra as pessoas que equilibram melancias na cabeça, claro. Deve ser bem difícil. Quando estávamos chegando no meu prédio, um homem cheio de tatuagens nos parou na calçada perguntando se estava acontecendo algum tipo de parada gay aqui no bairro. Eu ia responder que não, mas Fernanda me beliscou e torceu o nariz para mim, depois respondeu para ele que sim, nós havíamos acabado de voltar de uma. Ela passou o braço pela minha cintura, enquanto o Gui remexia os punhos conversando com o homem, fingindo ser gay também. Tive que morder a língua para não cair na gargalhada. Depois o homem disse: “Obrigada, estou indo para lá agora mesmo”. E saiu. Nós rimos até nossas barrigas doerem.

Eu meio que comecei a rezar enquanto o elevador subia, me preparando psicologicamente para a bronca que estava por vir. Mas eu entrei em casa agora e não vi meu pai ainda. Valeu aê, Deus!

Troto até o banheiro de forma desajeitada, tentando ficar na ponta dos pés para não fazer barulho e chamar a atenção da Irene, que está no quarto do meu pai. O banho é a parte mais difícil. Tirar todas aquelas manchas do meu corpo e principalmente do cabelo, exige de mim um grande esforço físico. Mas como o Rafael tinha dito, a tinta realmente sai, mesmo que depois de muito trabalho. Quando estava tentando sair de fininho do quarto para colocar minhas roupas na lavanderia, esbarro com Irene no corredor.

– Olhe só você. – ela sorri – Onde esteve? Seu pai estava te procurando.

– Ah! – oculto as roupas coloridas atrás do corpo – Estava com os meus amigos.

– Ah, sim.

– Onde está o meu pai?

– Acho que ele saiu com a namorada. Ei, o que está escondendo aí? – ela estica o pescoço

– Nada. – disparo

Ela me olha desconfiada

– Deixe-me ver. – puxa as roupas – Oh, você anda pintando suas roupas?

– É-é a nova moda. Roupas tingidas. É tipo havaianas, sabe? Todo mundo usa.

Ela franze o cenho, depois sai com as peças em mãos.

– Eu em. Esses jovens...

Meu pai chega logo depois, vestido com um terno preto que eu só o vi usando uma vez, quando nós fomos para um velório de um vizinho nosso que tinha câncer de pulmão, por fumar feito um gambá. Fora isso, eu só o vejo com o seu jaleco ou roupas simples que ele usa quando está em casa.

– Hey, pai!

Ele inspira e senta no sofá, tirando os sapatos e as meias pretas, sem nem perceber a minha presença.

– Eu disse: Hey, pai! – reforço

– Ah, oi filha. – ele exibe um sorriso triste

– O que aconteceu? – pergunto – Alguém ultrapassou seu carro no trânsito?

– Não. Eu marquei um jantar com a Elena, mas ela não foi. Não entendo. Eu já liguei várias vezes, mas só dá caixa postal.

– Arg. – reviro os olhos – Pai, essa mulher não te merece. E eu não preciso nem dizer que não vou com a cara dela, né?

– Você precisa parar de implicar com ela assim. – ele adverte – Ela é minha namorada! Além do mais, eu também não reclamo do seu skatista juvenil.

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