No final da tarde do dia seguinte Harry decidiu faltar a aula de defesa contra as artes das trevas. Apesar de não lhe agradar faltar a sua aula preferida o moreno sentia que precisava pensar. Pela primeira vez desde muito tempo ele precisava pensar em si mesmo. Gina estava certa, ele havia passado tanto tempo se empenhando em ser o amigo perfeito, o afilhado perfeito, o aluno perfeito, o jogador de quadribol perfeito que se esqueceu da primeira pessoa para quem deveria ser perfeito: ele mesmo.
O moreno suspirou de alívio ao perceber os corredores vazios naquele final de tarde. Teria paz para refletir e compreender suas reflexões. Deixou a mente vagar um pouco, observando as paredes do castelo, ouvindo pirraça irritar Filch no andar de cima. Riu ao imaginar o Zelador correndo atras do poltergeist berrando e dizendo que iria chamar o barrão sangrento para dar um jeito nele.
Esses pequenos momentos pareciam tão bobos mas eram, na verdade, tão preciosos. O moreno se pegou perguntando para si mesmo o quanto sentiria falta deles quando saísse de Hogwarts. Que Harry Potter sairia por aqueles portões dali a dois anos? Harry tinha certeza que seria um bem diferente do que entrou naqueles barquinhos e cruzou o lago em direção ao castelo em seu primeiro ano. Havia passado por tanta coisa desde aquele dia, enfrentado tantos desafios e feito tantos amigos que não deixou de se perguntar onde ele havia se esquecido. Em que parte do seu passado o verdadeiro Harry estava? Onde estava o Harry que era perfeito para si mesmo? O Harry que ele queria ser quando todas as áreas da sua vida estivessem coexistindo em harmonia.
Para que pudesse aproveitar essa realidade ele precisava se buscar agora. Sabia que não seria uma tarefa fácil ou rápida, apenas aqueles momentos de reflexão não dariam conta de resgatar uma pessoa inteira. Uma pessoa inteira.... Quando ele passou a não se sentir inteiro? Desconfiava que poderia ter sido a partir da morte dos pais. Ele tinha apenas sete anos mas se lembrava vividamente do seu padrinho entrando em seu quarto, com o rosto coberto de lágrimas, para lhe contar que os dois melhores aurores do ministério haviam sido mortos por bruxos das trevas em uma missão. Ali, lembrando de seu padrinho desabando em lágrimas e prometendo que cuidaria dele para sempre, o grifinório reconheceu o primeiro pedaço seu que se foi.
Aquele Harry feliz, que descia para o café da manha e encontrava os pais na cozinha rindo divertidos, como se todos os problemas do mundo não fossem capazes de atravessar a porta de sua casa, deixou de existir no momento em que soube da morte deles. Onde estava, dentro dele, esse Harry? A criança que morava em uma casa que exalava felicidade e estava livre de todos os problemas. Onde ela estava?
O moreno respirou fundo, lunado contra as lágrimas que insistiam em querer cair e continuou pensando. Lembrou de quando foi morar com o padrinho em sua casa. Seu quarto foi praticamente clonado em um dos quartos disponíveis no casarão onde Sirius vivia. As mesmas cores nas paredes, os mesmos brinquedos, a mesma cama, tudo para que ele pudesse se sentir em casa. Seu eu de sete, oito, nove anos, entretanto, não se sentia em casa dentro daquele quarto. Como se todas aquelas cores e aquela disposição de móveis e objetos tivessem pertencido a uma realidade distante da qual ele não mais fazia parte. O Harry criança era, assim como o Harry adolescente, muito bonzinho e educado. Não tinha coragem de pedir ao padrinho que mudasse a decoração de seu quarto pois o homem o havia montado com a melhor das intenções e o pequeno Harry tinha medo de parecer ingrato.
O grifinório foi então atingido por uma lembrança da sua mãe, sentada ao seu lado na cama explicando para ele o poder da gratidão, e sobre como ele deveria ser grato em ter um papai e uma mamãe porque muitas crianças não tinham e sofriam muito com isso. Sua mãe também explicou que ele deveria ser grato por ter roupas e comida porque, de novo, muitas crianças eram privadas de ter suas necessidades básicas atendidas.
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Balaço - Drarry
Hayran KurguSer atingido por um balaço é duplamente ruim quando este acontecimento faz você perceber que está apaixonado. * A história se passa no 5 ano* * Universo sem Voldemort* * Essa história já está sendo publicada desde agosto no Spirit*