Estava perplexa com todas as histórias que Cristian me contava das crianças... Elas tão novas e já tinham sofrido tanto. Como eu quis chorar e pedir desculpas à cada criança mesmo que não tenha feito nada a elas... Desde o nascimento da Fanny eu a odiei e odiei todas as outras crianças porque parecia que eu a via em todos os lugares... Depois veio o Fabrízio e o odiei mais ainda.
Fanny era a nova princesa do meu pai e Fabrízio o único menino que ele teve... Eles eram o centro das atenções... Eu os odiava por terem vindo da Poliana, por terem tirado o meu pai de mim... E só agora vejo como fui igual à esses monstros que abandonaram seus próprios filhos.
Eu entendo que não tiveram culpa de nada...
A história de Salvatore mexeu tanto comigo... Ele foi deixado pelo pai depois de se casar com uma bruxa... E era o que eu queria que meu pai fizesse com meus irmãos. Eu queria que ele os deixasse e fosse apenas o meu pai...
Meus irmãos...
Era pra eu ser um exemplo para eles, a inspiração, a melhor amiga... E eu simplesmente não consegui nem olhar em seus rostos direito. Cristian foi mais irmão do que eu mesma...
— O sanduíche é algo mais leve... As crianças seguem uma dieta especial, principalmente as que estão doentes... É um meio de também ajudar a melhorar a saúde deles. — Cristian sussurrou sentado ao meu lado.
Estávamos na parte do refeitório do Instituto, tinham várias mesas grandes unidas uma às outras. Muitas crianças e até idosos que também eram cuidados aqui se aproximavam. O lanche do dia era um sanduíche de frango desfiado, com alface e tomates... Notei que outras crianças receberam um sanduíche mais "restrito" ainda.
— Oi, Cristian... Oi Susan. — ouvi a voz de Paola. Ela se juntou à mesa se sentando ao lado do irmão. — Salvatore me contou que te conheceu... — me lançou um olhar. — Fiquei surpresa quando ele disse que você era legal.
— Paola às vezes também tem contato com o Salvatore. — Cristian me disse. — E por favor, minha querida irmã... Não vai começar.
— Deixe que ela fale, Cristian... Ela tem razão. — me olharam. — Deve ser uma surpresa alguém achar que sou legal mesmo... Ainda mais uma criança.
Eu estava começando a entender a rejeição e o ódio que Paola sentia por mim... Ela nunca foi com minha cara, na infância o motivo era ciúmes pelo irmão, hoje é por conhecer o meu tipo... Como ela mesmo disse.
— Mas bom... Salvatore é um menino muito bom. Vê bondade em todo mundo... Então não se empolgue. — me encarou.
— Paola... — Cristian sussurrou.
— Já parei... — sussurrou de volta.
Cristian pareceu que ia comentar algo quando de repente seu celular começou a tocar... Ele se levantou para atender em outro lugar. Foi rápido mas pude ver o nome na tela... Era Martina que estava ligando.
O que será que ela queria falar com ele? Na hora ele pareceu tão surpreso quanto eu. Os dois não conversavam mais desde o término... Por qual razão ela ligou pra ele agora?
Ah... Não vou ficar pensando nisso como se eu fosse a dona de Cristian. Nem temos nada um com o outro mesmo... E ele e Martina sempre foram muito amigos então... Às vezes ela só quer conversar com ele como uma amiga qualquer... Eu acho.
— Susan... Me diz uma coisa... — Paola começou. — Você e Cristian voltaram a ficar próximos... Ele gosta de você, sempre gostou no fim das contas. — revirou os olhos apoiando os cotovelos na mesa. — Mas e você? Gosta do meu irmão ou apenas está fazendo com ele perca o tempo dele querendo trazer a querida amiga de infância novamente?
— Paola... Eu gosto do Cristian. Acredite se quiser... Realmente ele me faz enxergar quem sou e como é ruim. — a encarei. — Estou passando por um processo de mudança...
— Cristian acredita que no fundo você ainda é boa... — disse baixo sem tirar os olhos dos meus. — Eu não acredito e nem desacredito... Apenas desejo boa sorte.
— É normal que não queira acreditar... Você sempre me detestou. — ela sorriu ironicamente.
— E você também sempre me detestou. — balançou os ombros.
Cortamos o assunto e voltamos a comer enquanto Cristian não voltava... As crianças conversavam entre elas e aproveitam cada pedacinho dos lanches. Mais distante do meu alcance estava Salvatore, que quando me notou sorriu e acenou. Ele era um garotinho realmente incrível...
Todos já haviam terminado de comer e Cristian ainda não tinha voltado. Achei estranho e fui procurar por ele... O encontrei no quintal, sentado em um banco com os cotovelos apoiados nos joelhos e o rosto curvado até as mãos. O que seria que tinha acontecido?
Me aproximei e me sentei ao seu lado em silêncio... Senti que era algo sério.
— O que foi? — toquei suas costas. Ele não me respondeu... Apenas ajeitou a postura no banco e colocou as mãos no bolso da calça, me entregando as chaves do meu carro. — Cristian... Qual é o problema?
— Vai para o seu apartamento... Eu não quero falar agora. Por favor. — disse sem me olhar.
— Mas o que houve? Por que está com essa cara? — segurei em sua mão.
— Por favor, Susan... Depois conversamos. Eu quero ficar sozinho agora. — me olhou enfim... Seu olhar me passava tanta preocupação. — Vai... Se eu estiver melhor passo no seu apartamento mais tarde.
— Tem certeza que quer ficar sozinho? — ele assentiu com a cabeça. — Tudo bem... Eu vou indo. — me levantei e dei um beijo na sua cabeça antes de me afastar dali.
Algo grave aconteceu e deixou ele muito preocupado... O que Martina contou à ele?! O que raios aconteceu?
Estou me enchendo de perguntas e de paranoias. Estou até sentindo uma pequena raiva de Martina por ela ter deixado Cristian daquele jeito...
Cheguei em casa ainda curiosa e preocupada... Mas tentei focar meus pensamentos no resto do dia que tive hoje. No Salvatore e nas outras crianças... Na tristeza que eram suas histórias, mas que mesmo assim eram crianças alegres.
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Sunset
RomanceRica, mimada, egocêntrica e a clássica patricinha do colégio... Essa é Susan Elisa Rossi Carpenter, que aliás, detesta o nome completo. Aos 18 anos concluiu o ensino médio em Theodore Wright, e após desentendimentos com a mãe, Susan volta para seu p...