VI. Um Conselho de Nobres [XXXVIII]

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Diante da ameaça de guerra, Kieran tinha se tornado a menor das preocupações de Radulf no cumprimento do seu dever com o reino de Arcallis. Talvez por conta daquela preocupação, ele tivesse demorado uns bons três dias para dar qualquer atenção a informação de que o ladrão tinha sumido em outra empreitada e nem tinha previsão de retorno. Aquilo ao menos lhe dava alguns dias de trabalho dedicado sem ter que dividir a sua atenção com o objetivo de importunar a vida de Kieran no castelo.

A viagem dele parecia até ter vindo a calhar, já que Idris também tinha mais trabalho administrativo para dar conta, com a possibilidade de guerra no topo da lista de afazeres. Por isso, Radulf também evitou levar Dargan até o castelo e o garoto o acompanhava até o palacete todos os dias para ter tutorias particulares com professores escolhidos a dedo pelo Conselheiro. Depois dos seis meses de vistoria nas fronteiras, Wafula era o único que estava aproveitando o breve descanso e o conforto de casa antes de voltar às atividades plenas gerenciando os treinamentos nos quartéis da capital. Era difícil descansar quando Radulf estava tão fixado na mensagem vinda do norte que, para o General, ainda não passava de piada.

Quase uma semana tinha se passado desde a chegada da mensagem de Táhir e finalmente Radulf tinha recebido uma resposta sobre os acordos com o reino do oeste. A confirmação de Faris era tudo o que precisava para convocar uma reunião com os nobres e anunciar a possibilidade de guerra. Até Wafula foi obrigado a sair do seu breve descanso para ir até o palacete.

– Ei, Andras, como estão os ânimos por aqui? – Wafula chegou perguntando ao funcionário pessoal de Radulf quando o encontrou nos longos corredores do palacete. Havia mais guardas em todas as entradas, já que o lugar reuniria vários nobres e mercadores ricos, alguns cuja riqueza era recente o suficiente para não terem participado ainda de reuniões do Conselho.

– Senhor general. – Andras fez uma reverência em cumprimento para o general, que se aproximou o suficiente para dar uns tapas amigáveis no ombro do outro, quase impulsionando-o para começar a andar na direção do salão de audiências. – Está tudo dentro da agenda. A reunião com o Conselho vai começar em alguns momentos.

– Não tem mais notícias sobre o norte, certo?

– Ainda não, senhor. – Andras respondeu, seguindo lado a lado com o general pelo longo corredor. – Mas recebemos mensagens dos comandantes das fronteiras, o senhor gostaria de...?

– Nahhh, ainda estou de folga, me pergunte semana que vem. – Wafula nem deixou que o homem completasse a sugestão de trabalho. – Cadê o Dargan?

– Nesse horário, ele está na aula de história.

– Sério? – o general quase parou no meio do caminho, surpreso. – O moleque não fica parado dois segundos em casa, ele fica mesmo assistindo aula? O tutor ainda não se demitiu?

Andras quase riu com a pergunta, mas ele pigarreou para disfarçar, levando uma mão aos lábios enquanto continuavam o caminho conhecido pelos longos corredores do palacete.

– O jovem Dargan é espirituoso, mas ele se acostumou com as aulas aos poucos. Ele gosta da aula de história. – respondeu Andras, quando chegaram às enormes portas duplas de madeira que já estavam abertas, com um par de guardas ladeando-a e o burburinho das conversas entre os nobres dentro do salão alcançando o corredor.

– Certo... imagino também que nenhum tutor teve coragem de se demitir pro Rad. – Wafula adicionou, ao que Andras pigarreou outra vez.

– Se me der licença, senhor, tenho que terminar os preparos para receber o regente.

– Ah, é verdade, o Idris vem também. – o general deixou um sorriso breve escapar. – Bom, vai ser divertido. Bom trabalho, Andras.

Andras se despediu de Wafula com mais uma curta reverência e fez o caminho oposto ao da sala, enquanto o general entrava no local. A sala de audiências era provavelmente a maior do Palacete, com fileiras de cadeiras ladeando a passarela central, além de um trono muito exagerado na cabeceira da sala, três níveis acima do resto dos assentos.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora