XXVII. Uma Guarda Especial

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Naquele fim de tarde, Radulf ainda teve muito trabalho discutindo com um Wafula sobre deixar ou não o castelo, considerando que ele não queria de modo algum perder a chance de capturar o ladrão. Mas Wafula foi muito pontual em exigir que voltassem para casa, principalmente porque tinha passado longos dez dias longe da casa e dele, para ainda ter que se preocupar com a empreitada de caça ao ladrão. E se conhecia bem Radulf e os guardas que tinha designado para cuidar do palacete, os últimos dias de Kieran deviam ter sido bem difíceis.

Dargan acordou com uma animação renovada pelo descanso no meio da tarde e pelo fato de que Wafula tinha voltado também, o pior de tudo era que se ele tinha dormido um instante que fosse e estava cheio de energia, seria um inferno fazer o garoto não atrapalhar os dois naquela noite. Mas depois de passar ainda o resto da tarde e a noite no castelo, aproveitando a refeição farta sem ter qualquer trabalho para preparar o jantar, Wafula teve uma ideia bem óbvia de como se livrar da energia do garoto – antes que Radulf decidisse só apagá-lo de verdade.

– Dargan, o que você acha de uma missão especial? – Wafula levantou o indicador, abaixado diante de Dargan antes deles saírem do castelo.

– Eu? – os olhos do menino brilharam. – Eu faz que nem os soldado?!

– Isso mesmo! – o general riu de orelha a orelha e Radulf só cruzou os braços para as intenções do general. – O Idris precisa de um guarda essa noite e o Rad aqui precisa descansar, por que você não fica no lugar dele? Você consegue ser um bom guarda?

– Eu fica!!! Eu fica no castelo de noite de novo?!

– Isso mesmo. – Wafula passou a mão grande no topo dos cabelos ruivos do menino. – Se alguém aparecer no quarto, você caça ele que nem o Rad aqui atrás do ladrão.

– Tá!

– Ótimo! Vamos lá colocar você com o Idris.

Wafula se levantou e seguiu a passos curtos que Dargan acompanhou quase correndo, mas nem estavam na metade do caminho quando o menino puxou a roupa do general, curioso.

– Que foi, Dargan? Quer uma carona? – Wafula nem esperou a resposta, levantou o garoto nos braços para andar mais rápido. Obviamente ele que estava querendo sair logo do castelo para voltar para casa com Radulf.

– Quem é 'dris, tio? – Dargan perguntou, deixando Wafula surpreso com o questionamento por um instante.

– Como assim quem... ahhhh...! – a compreensão surgiu no rosto do general e ele deu uma risada, afinal, só ele e Radulf usavam o nome do regente ao invés do título, se Dargan não tinha ouvido dele, certamente não tinha ouvido de Radulf. – Você ainda não o conheceu? Acho difícil. – Wafula fez um sinal com a mão daquela vez, para indicar o nome de Idris, e Dargan fez uma expressão quase surpresa.

– Ahhhhhh!!! É o moço bonito!!!

Wafula deu uma gargalhada em resposta.

– Eu pisou nele quando ele tava dormindo, ele ficou com raiva. Mas eu não quis pisar, e eu fica perto dele e o Seti não me pega pra tomar banho, o Seti não gosta dele, nem os outros que moram aqui, deve ser porque ele não fala, mas o tio Rad disse que ele sabe falar. E eu sabe falar com as mãos também agora. Eu vai falar com ele assim, pra ver se ele fala comigo.

– Você ficou conversador quando eu estava longe, não foi? – Wafula riu.

– Eu tem muita gente pra falar aqui. E eu tem muita comida tabém. E muito papel! Eu gosta de desenhar no papel!

– Bom, agora você vai ter que gostar de ser o guarda do Idris.

Dargan mal teve tempo de responder, Wafula já tinha chegado ao quarto do regente para abrir a porta sem ser anunciado ou convidado. Idris estava sentado numa das poltronas ao lado da cama, usava o robe branco fechado na cintura, as pernas cruzadas, os cabelos soltos das tranças, e olhava para a porta obviamente já esperando a chegada.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora