XXXII. Uma Nova Família

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Ainda era muito inquietante para Radulf ouvir o choro de Dargan e não poder fazer algo para consolá-lo, mas aparentemente, o lugar confortável no seu colo e nos seus braços foi suficiente para que ele se acalmasse mais rápido. Não tão rápido quanto Radulf queria, mas o suficiente para não o deixar mais preocupado.

Wafula observou a cena com interesse, sentindo uma satisfação renovada de ver como Radulf estava dedicado em cuidar de Dargan naquele estado. Já tinha sido uma boa ideia finalmente ser um casal com Radulf, agora eles eram uma família completa e a despeito do receio no dia anterior em cuidarem oficialmente de Dargan, o general não conseguiu imaginar outro desfecho para aquela situação. Ele se aproximou dos dois no sofá e passou um braço em volta dos ombros de Radulf, beijando a têmpora dele e passando a mão grande no topo da cabeça de Dargan, que depois de um choro intenso, tinha se rendido ao sono de novo, todo torto, mas confortável.

– Vou levá-lo de volta para o quarto, acho que dessa vez ele dorme até amanhã, se não acordar com fome. – Wafula sugeriu, mas antes de segurar Dargan para tirá-lo do colo de Radulf, o conselheiro fez um sinal negativo com a cabeça. – Tem certeza? Você também tem que descansar, Rad.

Radulf só reforçou que ia continuar com o garoto dormindo no colo e ainda fez sinal para que Wafula se sentasse de novo, o que o general fez, dando espaço para que Radulf mudasse a posição no sofá, encostado ao braço do cômodo e apoiando de novo as pernas nas de Wafula. Dargan ficou melhor deitado no peito de Radulf e o conselheiro passou os dedos pelos cabelos emaranhados do menino em uns afagos breves enquanto Wafula retomava a sua caneca de café. Ele só voltou a atenção para Radulf quando ele moveu as mãos em alguns gestos breves "vou conversar com o Idris amanhã".

– Não me faça repetir a mesma coisa sobre o ladrão ser uma má influência só para você, Rad.

O conselheiro lançou um olhar torto para Wafula que riu atrás da caneca de café, mas ele seguiu com alguns sinais mais explicativos "não é sobre o ladrão. É sobre magia". Wafula até baixou a caneca de café, um pouco mais curioso.

– Sobre magia? Hm... você esteve ajudando nisso ultimamente, não foi? Algo errado? Acha que ele devia tentar mudar alguma coisa a mais dos círculos dele e do castelo? Eu tenho certeza que ele vai aceitar seu conselho, Rad, qualquer que seja.

"Não tem nada errado com os círculos", explicou Radulf, baixando o olhar para Dargan e depois seguindo com os gestos "acha que ele pode fazer um selo de proteção para o Dargan? Como o meu?".

O gesto de Wafula para levar a caneca até os lábios parou no meio do caminho. A surpresa no rosto dele era óbvia ao encarar Radulf de volta. Não que ele duvidasse da vontade do homem de cuidar de Dargan, mas ele estava preocupado a ponto de querer apelar para a magia que tinha odiado por tanto tempo?

– Bom... eu certamente espero que o Dargan não vá tão cedo a uma guerra para quase morrer pelas mãos do inimigo. – comentou Wafula, com o tom de ironia que só incentivou o chute que Radulf lhe deu em retorno.

"Estava me referindo a acidentes como o de hoje. Será que a magia dele faz algo assim? Para evitar acidentes graves?", Radulf reforçou, mesmo que Wafula já tivesse entendido.

– Já viu o que o círculo do Idris faz pra ele? O homem nem tropeça. É claro que ele pode fazer isso. Depois do seu, tenho certeza que qualquer coisa é besteira.

"Depois do meu?", o conselheiro questionou, confuso.

– Ele disse que foi o círculo mais complexo que fez. Alguma coisa sobre lhe proteger com a magia dele, mas ainda lhe deixar fora do círculo dele. Eu não entendi, mas ele pareceu satisfeito de conseguir fazer. – respondeu Wafula, e a expressão de Radulf foi de leve surpresa. – Tenho certeza que ele vai fazer algo ideal para o Dargan, assim você não vai precisar morrer de preocupação.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora