XV. Uma Aliança Irrecusável [XLVII]

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Radulf esperava que a presença da princesa fosse lhe causar problemas diplomáticos. Que fosse alguma artimanha do reino vizinho ou dos aliados de Na'im para atingirem Arcallis. Mas o pedido dela e o modo como olhava nervosa para qualquer reação de Idris ― que não veio, mesmo depois que ela declarou o que queria ― tornaram a situação toda quase risível para o Conselheiro.

Depois de tantos anos preparado para os piores desfechos de tratados entre reinados, o pedido de Aeliana lhe pareceu até infantil ― como uma criança que queria muito ganhar um presente grandioso dos pais.

Claro que, a despeito do pedido não lhe causar preocupação imediata e parecer algo muito fácil de resolver, ele não deixou transparecer em sua postura em nenhum momento. Afinal, a jovem diante de si, mesmo que uma criança, estava ali representando o próprio reino, com uma determinação capaz de lidar com a presença do próprio infame Anjo da Morte, ela merecia o devido respeito.

― "O Templo dos Manas foi conquistado com justiça, no conflito treze anos atrás, que foi deliberadamente iniciado, devo dizer, pelo seu rei, numa tentativa vã de tomar nossos territórios e derrubar nosso regente." ― Andras seguiu interpretando os gestos de Radulf. ― "Por todos esses anos, estivemos em paz com o seu rei sobre as fronteiras do reino e não houve disputas desnecessárias. Por que este pedido agora, alteza?"

Radulf fez questão de enfatizar o "seu rei" mesmo nos gestos, e Andras entonou corretamente a ênfase naquele comentário. Afinal, o tratado de paz deles tinha sido estabelecido com o pai de Aeliana, que pelo que Radulf sabia, ainda era o regente.

― Estou ciente, vossa excelência, de que a perda do território foi resultado de uma decisão da regência de meu pai. Por respeito aos tratados de acordo com Arcallis depois do fim da guerra, meu pai manteve as relações estáveis e não tentou reclamar o território perdido, seja por acordos diplomáticos ou por invasões. ― ela prosseguiu, agora mais focada em Radulf, embora ainda olhasse uma vez ou outra para o regente que mais parecia uma decoração na sala. ― Mas o Templo dos Manas ainda tem uma forte influência em todos os moradores de Na'im, o fato de não pertencer mais ao nosso reino traz incertezas para os corações dos meus súditos.

― "Os seus súditos, entretanto, ainda podem ir e vir livremente do templo, como foi acordado na nossa aliança depois da última guerra. Creio que nunca houve problemas com o trânsito deles entre o reinado e o templo, sempre se manteve um trajeto tranquilo, então qual a diferença de reaver o território?"

― Nunca se trata de um caminho tranquilo quando temos que cruzar as fronteiras de um reino como Arcallis, vossa excelência. ― Aeliana fez uma boa escolha de palavras, para não denunciar como Arcallis podia ser implacável, ou violento, ou poderoso se fosse para usar de bonitas palavras. ― Eu acredito que reaver o Templo dos Manas para Na'im fortalecerá a fé dos nossos súditos, afinal, fez parte de nosso reino por séculos, saber que já não é mais uma parte de nós ainda nos afeta grandemente.

Radulf não sabia se ela era só muito ingênua ou se estava treinada para tentar florear algumas ameaças veladas. Mas mesmo com o discurso aparentemente ingênuo e verdadeiramente interessado na fé dos súditos, ele foi mais direto em sua resposta.

― "Fortalecerá a fé dos seus súditos? Uma fé de que vocês podem, então, concretizar a expansão territorial que sonharam na última guerra e quem sabe avançar ainda mais?" ― as palavras de Andras entregando a mensagem de Radulf causaram uma surpresa genuína na expressão da jovem princesa. ― "Espero que os rumores de paz e tranquilidade em Arcallis não tenham passado a impressão errada sobre nossa regência, princesa Lisellot."

― Não! Vossa excelência, por favor, essa não é a intenção de Na'im. ― a resposta dela veio com um ímpeto e surpresas autênticos que confirmaram a Radulf que era só uma criança que mal tinha saído da saia dos pais. Tinha sido um belo erro ir até ali sem um diplomata ou conselheiro mais experiente. Mas talvez tivesse sido uma boa jogada para reafirmar a inocência dos interesses da princesa. ― Eu ainda sou nova em meus deveres de herdeira, peço que perdoe a escolha errada de palavras, mas vim pessoalmente para reforçar que esse não é o interesse do meu reino. M-Mesmo em minha idade, eu sei que não poderíamos enfrentar Arcallis... em qualquer situação m-militar. ― ela olhou de esguelha para Idris de novo, engolindo em seco mais uma vez. O rei continuava tão inerte olhando para os papeis que quase parecia uma estátua. ― E Arcallis têm sido um b-bom aliado para os interesses comerciais e de p-proteção. Nosso reino é fraco em poderio militar, vossa excelência, então por favor, dê uma chance ao nosso povo de manter a nossa maior força, que é a fé.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora