XVII. Um Ladrão de Homens

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O dia de Radulf não tinha sido tão diferente, exceto pelo fato que tinha acordado na casa de Wafula para ensinar alguns novos sinais para uma criança órfã que precisava de um lar. Ele cuidou do trabalho que lhe competia no palacete, adicionando uma atribuição ao seu secretário particular para procurar uma família para adotar Dargan e ainda fez uma visita ao castelo para prestar assistência ao regente com a magia, ao menos as tentativas de invasão tinham reduzido e Idris estava de volta a sua aparência minimamente descansada e saudável.

O que ele não esperava, entretanto, naquele dia quase comum, era retornar à cabana de Wafula para avistar, de longe, que o general dos exércitos de Arcallis não estava sozinho cortando lenha, e não era sozinho por conta da companhia de um Dargan também cortando lenha, mas por conta de uma companhia muito específica do homem que Radulf tinha caçado incansavelmente nos últimos dias: o ladrão da coroa do rei.

A reação de Radulf foi automática, ele desembainhou a espada que carregava consigo, avançando a passos leves e ágeis, bem a tempo de levantar a espada e descer o golpe certeiro na direção do pescoço do ladrão. Podia achar a coroa depois que ele estivesse morto. Mas o conselheiro não percebeu quando Wafula deu um aviso breve de sua presença e o ladrão conseguiu dar um salto para o lado, escapando da sua lâmina.

O fato do ladrão ter se desviado do primeiro golpe não fez com que Radulf parasse. Ao contrário, lhe deu mais ímpeto para continuar atacando e brandindo a espada contra pontos vitais, assim, mesmo que o toque da lâmina fosse leve, ainda podia ser fatal.

As vozes tomaram conta do ambiente, mas Radulf ignorou todas, tanto as reclamações do ladrão ágil, quanto as recomendações de Wafula e a voz infantil de Dargan que tinha entrado na perseguição como se fosse uma brincadeira. Bom, certamente não acertaria a criança, mas talvez Dargan distraísse o ladrão o suficiente para acertá-lo.

Ele nem precisou prestar atenção nas instruções de um Wafula que nem fez esforço para sair de onde estava, cortando lenha, enquanto a bagunça acontecia ao seu redor. O general ainda gritou para Radulf ter cuidado com Dargan, e para Dargan parar de correr atrás dos dois, mas ninguém parou de correr, e só quando Radulf estava ao lado da pilha de toras de madeira foi que olhou para o lado a tempo de ver que Dargan tinha sido muito ágil em escalar as toras empilhadas, derrubar algumas e tropeçar perto do topo para escorregar para uma queda certa e perigosa.

Radulf largou a espada e parou de correr atrás do ladrão para segurar Dargan com um braço antes que ele realmente caísse no chão, e a expressão de susto do menino logo se iluminou numa de animação.

– De novo! De novo!!! – Dargan sacudiu os braços e Radulf soltou um suspiro longo, o coração acelerado com o menino nos braços.

– Boa pegada, Rad. – Wafula se aproximou dos dois, Kieran já tinha sumido antes de Radulf ter a chance de se recompor e voltar a atacá-lo.

– Eu quer brincá de pegar de novo!

A resposta para Dargan foi um cascudo firme na cabeça vindo de Radulf, que fez uns sinais reclamando com o garoto.

– Auuuu!!! – Dargan encheu as bochechas de ar, as lágrimas nos cantos dos olhos ao levar as duas mãos ao topo da cabeça. – Que eu fez?!

– Eu disse pra não correr atrás dos dois, Dargan, olha aí, quase matando o Rad do coração. – Wafula pegou o menino nos braços, para livrar Radulf.

E aquela foi a vez de Wafula levar um murro muito seguro no braço também.

– Auuuu!! O que eu fiz?! – Wafula reclamou também, o que fez com que Dargan se distraísse principalmente com a série de gestos intensos que Radulf começou a fazer, a expressão de irritação notável no rosto dele.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora