XIX. Um Ombro Amigo

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A intenção de Wafula era sair de casa ao nascer do sol para ter coberto pelo menos metade do caminho para a fronteira leste até o começo da noite, mas não teve como fazer aquilo, considerando que quando parou para descansar com Radulf, o sol já estava nascendo e o conselheiro simplesmente apagou de cansaço debaixo de si. Wafula ainda descansou um par de horas antes de ouvir o som dos passos circulando pela casa e ser obrigado a acordar também.

Wafula aproveitou o resto da manhã para fazer comida e terminar de cortar madeira, sempre com Dargan ao seu lado repetindo tudo o que fazia. Foi tempo suficiente também para organizar as suas provisões para a viagem, as roupas e as armas e deixar tudo preparado apenas para carregar a sua montaria. Quando o sol já ia alto, tinha deixado até mesmo o almoço preparado, e só depois de selar o cavalo, com um Dargan pendurado nos arreios, foi que avistou Radulf aparecendo no portal de entrada da casa.

– Bom dia, vossa excelência. – Wafula o cumprimentou a distância, e Dargan se sacudiu mais nos arreios do cavalo.

– Olha, olha! Eu vai de cavalo!!! – Dargan puxou as rédeas, e o cavalo puxou de volta em resposta, fazendo o menino cair de cara no chão. – Aiii!

– Eu disse pra não ficar puxando, Dargan. – Wafula o pegou pelas roupas, colocando-o de pé com facilidade para andar até Radulf depois de terminar de selar o cavalo. – E você vai de cavalo com o Rad, não comigo. Vai é tomar outro banho depois de sujar a cara desse jeito.

– Nummmmm!!! Eu num vai tomar banho de novo!!!

E mais uma vez, ele se desvencilhou da mão de Wafula e saiu correndo pelos arredores da casa, o que Wafula nem se esforçou em acompanhar, só seguindo até Radulf que estava encostado num dos pilares da entrada da casa.

– Como você está? – Wafula se aproximou para beijar os lábios de Radulf, um degrau abaixo dele, passando os braços em volta do corpo do conselheiro. A resposta dele veio em outro beijo breve nos lábios. – Cuidado com as faltas ao trabalho, ouvi dizer que o conselheiro é exigente.

Radulf só bateu no topo da cabeça de Wafula com a mão fechada. Mas ele aproveitou o espaço entre os dois para mover as mãos, perguntando se o outro já não devia ter partido.

– Eu esperei você acordar. Imagine o Dargan correndo pela casa sozinho? Não tem problema atrasar a viagem em meio dia. – ele avisou, seguindo de volta para dentro de casa. – Quer ajuda dando banho nele de novo?

Radulf acompanhou Wafula para dentro de casa de novo, negando com um par de gestos.

– Vai levar o moleque pro palacete? Sabe que ele não pode ficar aqui sozinho, né?

"Ele parece se sair muito bem sozinho", Radulf respondeu sobre Dargan, mas adicionou em seguida. "Vou ao castelo, dar trabalho aos criados do Idris para dar banho nele".

– Tente não matar ninguém depois que eles perderem o Dargan, hein?

"Vou pensar", Radulf devolveu, e nenhum dos dois se preocupou muito em ir atrás do menino que tinha fugido da ideia de banho, afinal, ele foi rápido em aparecer enquanto Radulf se servia do almoço.

O início da tarde foi dos preparos finais de Wafula para a longa jornada, enquanto Radulf tinha ignorado a necessidade de um Dargan todo sujo de terra ter que tomar banho e montaram o cavalo do conselheiro em direção ao castelo fora da cidade. A experiência foi um tanto complicada para Radulf, já que Dargan, a despeito de ter viajado o caminho todo até a capital na montaria com Wafula, ficava se mexendo demais na sela, querendo comandar as rédeas e mexer nos arreios.

O garoto só parou de se mexer quando eles chegaram aos terrenos do castelo e Dargan pareceu muito distraído e impressionado com a construção diante de si para lembrar de se mover em cima da sela.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora