XII. Uma Ajuda Inesperada

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Radulf acordou num susto, com uma sensação de dor em volta da garganta e a impressão de ter ouvido um chamado distante com o seu nome, mais precisamente, com o seu apelido que só Wafula usava. Mas a voz era tão distante que ele não tinha certeza de quem era, e o despertar súbito fez com que um sonho muito vívido rapidamente se esvaísse da mente do conselheiro.

– Rad?

Ele virou o olhar para Wafula que estava bem ao seu lado, sentado na beira da cama. A luz do sol invadia o quarto através das janelas amplas e Wafula, usando apenas as calças, parou de calçar as botas para se voltar para Radulf. O conselheiro deu uma boa olhada nas costas largas marcadas por várias cicatrizes e ficou distraído por um instante, até Wafula se virar completamente em sua direção.

– Está tudo bem? Você parece meio pálido.

Radulf fez um aceno com a cabeça para confirmar que estava bem, sentando-se na cama para constatar que estava melhor do que na manhã anterior, em que mal conseguia andar. Ele ainda passou a mão nos ombros, sentindo a tensão no pescoço, e se voltou para Wafula que tinha terminado de calçar as botas.

"Vai visitar os acampamentos?", Radulf sinalizou para Wafula.

– Isso. Começando pelo sul, meus homens já fizeram o levantamento do estrago depois da guerra com Ohad, mas eu ainda vou passar por lá, ver o estado dos vilarejos próximos também. Geralmente eles nunca resistem nessas invasões, mas deve ter algo pra aproveitar. – Wafula se levantou para pegar uma camisa leve para vestir por baixo das outras peças de roupa e armadura. – Vamos comer? Vou partir logo depois.

Radulf concordou de novo com um aceno de cabeça, ainda distraído. Foi tempo suficiente para que Wafula se aproximasse, se debruçando sobre a cama e se aproximando até roçar os lábios contra os do conselheiro e roubar um beijo breve ali.

– Você está estranho, Rad, o que foi? Está pensando que vai sentir minha falta esses dias todos? Arrependido de não ter aproveitado a noite passada?

A resposta de Radulf veio num bater de testa contra Wafula, e uma palavra desenhada nos lábios que o general nem precisava prestar atenção para saber que ele estava falando "idiota".

– Vamos lá comer, o café da manhã está pronto. – Wafula apenas riu da reação de Radulf e se levantou, sendo logo acompanhado pelo conselheiro para irem fazer a refeição.

Tão natural quanto tinha sido passar o dia anterior na casa de Wafula, foi passar o resto da manhã com o general, enquanto eles tomavam café da manhã e Wafula terminava os preparos para a longa viagem que faria pelas fronteiras do reino. O território era amplo desde que Idris tinha se tornado o regente, então as viagens podiam demorar um ou dois meses, dependendo da necessidade de vistorias. Ao menos Radulf não podia reclamar da competência dos soldados que guardavam as fronteiras e comandavam as tropas instaladas ao redor do reino, eles sempre mandavam mensageiros e relatórios mais regulares, em comparação com a incompetência de seus guardas que tinham deixado um ladrão roubar a coroa bem no palacete real na capital.

Antes do meio dia, Wafula já tinha partido cavalgando para a fronteira sul, onde tinha acontecido a tentativa de invasão mais recente de Ohad, e Radulf voltou para o seu trabalho administrativo para descobrir, não surpreendente, que a noite anterior também tinha reservado mais algumas tentativas de invasão ao castelo e a despeito dos avisos a Idris, sabia que aquilo ia continuar. E não bastasse a raiva do ladrão, ainda tinha ouvido os rumores se espalhando pela cidade sobre o roubo glorioso e a fuga gloriosa, o que só deixava o conselheiro real mais estressado.

Menos de uma semana tinha se passado em que as tentativas de assassinato continuavam e que Radulf deu conta da demora de Idris em retornar os documentos assinados que ele precisava. Mas com as invasões recentes até o castelo, até imaginava o motivo. Por isso que, no meio do dia antes do fim de semana, ele saiu do palacete para ir direto até o castelo do regente, não surpreso de chegar lá e encontrar um Idris cochilando na poltrona atrás da enorme mesa de carvalho na biblioteca, e o lugar onde deveria haver uma série de mapas do reino, documentos de acordos e coisas para assinar, havia vários livros e pergaminhos abertos com rascunhos de círculos e símbolos que Radulf conhecia pouco, mas sabia serem de magia.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora