Já fazia alguns dias que Radulf estava ajudando Idris com os círculos de magia e começava a entender como aquilo funcionava. Com sua ajuda, o regente também podia descansar um pouco mais, considerando que os ataques noturnos ao castelo seguiam persistentes e era muito difícil para Idris ter uma noite inteira de descanso. Naquele meio tempo, Radulf ainda recebeu no palacete os guardas que vinham da fronteira e um relatório e mensagem de Wafula sobre os acampamentos militares. A rotina seguia praticamente imutável, e ele tinha até adicionado ao seu trabalho regular catalogar os símbolos dos grimórios da biblioteca de Idris em categorias específicas e de um jeito que fosse mais fácil de consultar.
Naquela manhã, Radulf adiantou o trabalho que tinha na capital e pouco depois do horário do almoço, ele deixou as poucas pendências com o seu funcionário pessoal, na pretensão de seguir até o castelo e terminar o trabalho que tinha começado com Idris e os símbolos de magia. Ainda recebeu outro aviso sobre tentativa de invasão no castelo, então era capaz do rei estar tentando descansar o que não conseguira na noite anterior.
Ao sair do palacete e pegar as rédeas do cavalo que tinha sido preparado por um dos seus servos, mal teve tempo de montar, quando uma voz conhecida e muito inesperada lhe chamou a distância.
– Rad! Onde está indo? Espere aí!
Radulf arqueou as sobrancelhas, para se virar e pousar os olhos sobre um Wafula que se aproximava montado a cavalo. Ele não devia estar de volta tão cedo, tinha acabado de receber um mensageiro dele vindo do sul. Com o cenho franzido, Radulf ainda levantou as mãos para fazer alguns gestos perguntando o que ele estava fazendo ali tão cedo, mas deteve os gestos no meio do caminho ao perceber que Wafula não estava sozinho na montaria. Quando o general se aproximou o suficiente, Radulf notou uma pessoa muito pequena sentada na sela na frente de Wafula, adormecida. Na verdade, mais do que uma "pessoa pequena", ele demorou a processar o fato de que era uma criança quase sumindo envolto num dos braços grandes de Wafula.
– Olha só o que eu achei!
Qualquer tentativa de Radulf de completar a sentença anterior ou perguntar o que aquilo significava foi por água abaixo com o comentário de Wafula, como se ele tivesse apanhado um gato na rua. O general parecia estar se divertindo com a situação e baixou o rosto para observar a criança adormecida em uma posição que parecia bem desconfortável, segura apenas pelo braço de Wafula.
– Ei, garoto, chegamos. – Wafula chamou o garoto adormecido no seu colo, dando uns tapinhas leves no topo da cabeça dele.
– Hmm...
O murmúrio escapou dos lábios da criança que abriu os olhos a muito contragosto, esfregando-os com as pequenas mãos fechadas. O cabelo estava emaranhado e ele estava com o rosto bem sujo com manchas de terra.
Radulf olhou de Wafula para a criança e de volta para Wafula, finalmente conseguindo processar mais da situação e gesticular um "O que é isso?!".
– Não é "isso", Rad, é um menino, não seja tão insensível.
A expressão de Radulf não melhorou, e o menino na montaria apoiou as duas mãos em cima do braço de Wafula que ainda lhe segurava, bocejando longamente antes de encarar um Radulf surpreso.
– Eu o encontrei na vila ao sul, a que foi devastada na guerra. – Wafula explicou, passando a mão nos cabelos bagunçados do garoto, dando uma risada sonora. – Na verdade, foi uma situação engraçada, eu achei que ele era um soldado do reino inimigo pelo jeito sorrateiro que estava se mexendo por onde eu passava. E ele é bem rápido, viu!
A primeira resposta do conselheiro foi justamente perguntar por que não o tinha deixado na vila com as outras pessoas.
– Não tinha mais ninguém lá, Rad, eu não ia deixá-lo sozinho, não é? Na verdade, fiquei surpreso que depois da invasão, dos meses de disputa, ele ainda sobreviveu sem- au, au, au! – Wafula parou de falar ao sentir o garoto mordendo o seu braço, quase mastigando. – Ei! Eu já disse pra não me morder, moleque!
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Um Silêncio de 15 Anos
Romance࿐ Spin-off: O Ladrão dos 13 Corações ࿐ Por mais de vinte anos, Wafula e Radulf serviram no exército de Arcallis e não há nada que eles não saibam sobre o reino, o regente, as guerras e as duras vitórias conseguidas com muito esforço e a paz alcançad...