XVIII. Um Segredo na Noite

78 16 13
                                    

Wafula e Radulf estavam bem acostumados às situações mais extremas nos campos de guerra, por isso, até uma pedra era uma arma eficiente em casos complicados e mesmo com as ferramentas simples, era fácil se mover rápido e atingir algum possível invasor. No estado de alerta constante, Wafula foi que se ergueu primeiro para observar além do encosto do sofá na direção do portal da cozinha e, no meio do escuro, um movimento lhe chamou atenção.

Ele apertou a mão com mais firmeza em volta do cabo da faca, e Radulf se manteve escondido atrás do sofá, especialmente porque, atuando em dupla, era muito mais útil ter um suporte surpresa. A atenção do conselheiro estava toda na expressão de Wafula, que seria o suficiente para saber se deveria agir ou continuar na surdina.

Mas Radulf ficou levemente confuso quando a expressão de Wafula mudou para uma de surpresa e ele até afrouxou a mão em volta do cabo da faca. Radulf tinha claramente ouvido o som de passos sorrateiros e leves, e para ser tão discreto, o invasor devia ser muito hábil... ou muito leve. A risada abafada de Wafula foi o suficiente para Radulf erguer o corpo e olhar além do encosto do sofá bem a tempo de ver os pezinhos pequenos de um Dargan ágil correndo escada acima carregando uma sacola de pano cheia do que, ele imaginava, fosse comida. E o menino não pareceu sequer perceber que estava sendo observado enquanto subia as escadas rapidamente.

– Hahaha! Esse menino não tem jeito mesmo. – Wafula riu, deitando sobre Radulf de novo, largando a faca de lado. – Ele acha que vai morrer de fome, não é possível.

Radulf só bateu uma mão na testa, passando-a pelo rosto com um suspiro pesado. Wafula se moveu sobre o corpo de Radulf e o beijou de novo, roçando os quadris contra os dele, e embora o conselheiro não tivesse protestado muito, ainda afastou o rosto de Wafula para apontar para cima, indicando que Dargan estava acordado.

Ele já voltou pro quarto, Rad, deve ter levado comida para três dias.

E desceu o nariz e os lábios, roçando contra o rosto de Radulf e distribuindo beijos pelo rosto e pelo queixo dele, pelo pescoço e puxando a gola da camisa para beijar a curva do ombro. Foi bem em tempo de ouvirem, de novo, o som de passos apressados, e Wafula foi obrigado a parar os avanços para olhar de novo por cima do encosto do sofá a tempo de avistar Dargan entrando na cozinha de novo.

Radulf rodou os olhos e Wafula suspirou pesado.

– Já vi que não vou ter folga agora. – Wafula reclamou, e Radulf só passou a mão no topo da cabeça dele, compreensivo.

Mais passos foram ouvidos, mas ao invés do menino subir de volta para o quarto, ele jogou os braços em cima do encosto do sofá, encarando os dois homens mais velhos.

– O que 'cê tá brincando?

– Tô tentando trans- au! – Wafula foi obrigado a se calar no meio da resposta ao sentir o puxão de cabelo seguro de Radulf.

– É de guerra?! – Dargan se pendurou mais no encosto do sofá, balançando os pés que não tocavam o chão. – Eu quer tabém!

Radulf fez um sinal breve para indicar que ele tinha que dormir, o que Dargan não entendeu.

– Certo, hora de ir pra cama. Você já devia estar dormindo, Dargan. – Wafula se levantou do sofá e segurou o braço da criança antes que ele saísse correndo, erguendo-o do chão com muita facilidade. – Você precisa mesmo comer mais, menino.

– Eu vai! Eu tem comida! Bem muita!

Ele mostrou a sacola de pano muito orgulhoso de si mesmo e Wafula só riu, levando o garoto para cima para deixá-lo no quarto de novo.

Radulf aproveitou o tempo curto para apagar o fogo da lareira e juntar todos os papeis que estivera lendo antes, deixando tudo organizado para subir as escadas também e ir para o quarto que dividia com Wafula. O general ainda demorou uns bons longos minutos conversando alguma coisa com Dargan, que Radulf entendia muito pouco através das paredes de madeira, até retornar ao quarto.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora