XII. Uma Noite Fria [XLIV]

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O castelo, Seti, Dargan, todos os criados e qualquer objeto ao redor pareceram sumir diante da visão de Radulf que se concentrou só no alvo que ele precisava decapitar: Kieran. Ele avançou tão rápido e preciso contra o ladrão que nem mesmo todos os anos de experiência de Kieran foram suficientes para livrá-lo de ser atingido pela lâmina da sua espada. Tinha sido um golpe só na altura da perna, mas pelo menos tinha penetrado bastante na pele, a ponto de Radulf ter sentido os músculos se partindo sob o fio da sua espada.

A determinação do Conselheiro em arrancar mais do que só um membro de Kieran foi tamanha que ele mal percebeu Dargan correndo atrás dos dois e menos ainda quando Wafula se colocou no seu caminho, segurando-o com um dos braços com tanta força que o impulso de Radulf por pouco não o levou junto.

– Wow, calma aí, senhor santo conselheiro, pra quê tanta pressa? – Wafula precisou usar uma força considerável para segurar Radulf com um dos braços, e um pouco de agilidade para alcançar Dargan antes que ele passasse direto por suas pernas também. Radulf não tinha ouvido nada antes de ser detido e antes que Wafula pudesse adicionar ao questionamento, Dargan que veio com a mesma animação de sempre e um chamado que deixou o general de orelhas em pé.

– Pai Wafula! Eu rouba a espada pa ser o herói! Ó, ó! – Dargan sacudiu a espada de madeira, e não fosse suficiente ele ter dito que tinha "roubado" a espada, o comentário adicional foi a cereja do bolo. – Eu ser o herói como o pai maluco!

– Como quem...?

Wafula piscou algumas vezes, contendo a vontade de rir daquele comentário de pronto, mas o som do "pai maluco" fez com que a resposta de Radulf fosse bem mais rápida e se ele não tinha feito muito esforço para se soltar de Wafula antes, daquela vez, usou técnicas de combate muito ágeis para lhe puxar um dos dedos, torcer o braço e se livrar rápido o suficiente a ponto de fazer o general cair de joelhos com uma chave de braço que fazia bastante tempo que ele não experimentava. A postura de Wafula só foi encerrada com a lâmina da espada de Radulf apontada na direção do seu pescoço.

– Au, au, au, calma aí, Rad...

– A gente brica de soldado com o pai Wafula?? Eu mata o vilão, eu é herói! – Dargan se aproximou, sacudindo a espadinha de brinquedo.

– Você devia estar do meu lado, Dargan!

– Eu não é, eu é o herói, como é o pai maluco!

Radulf não podia descontar em Dargan, então, logicamente, quem sofreu as consequências foi Wafula que teve o braço ainda mais torcido na chave de braço.

– Au, au, au, tá bom, tá bom, pegue leve, Rad, vai quebrar mesmo o meu braço dessa vez! – Wafula reclamou, sentindo a dor intensa no ombro, mas ainda assim, não fez muito esforço para se soltar.

Ele ainda sentiu a pressão da chave de braço aumentar um pouco antes de Radulf finalmente lhe soltar de uma vez, só então o general soltou o ar em alívio. Wafula mal se levantou, foi bombardeado por uma série de gestos de Radulf que envolviam palavras como "ladrão", "matar", "não interromper" e "absurdo". Ele não deu tanta atenção ao discurso de ódio, só segurou os dois pulsos de Radulf para impedir que ele continuasse reclamando e uniu os lábios aos dele num beijo rápido.

– Melhor agora? Acho que ao invés de descontar a raiva do ladrão, não devia se concentrar em explicar o mal-entendido ao Dargan?

A expressão de Radulf ainda não era a mais animada, mas ele deixou um suspiro pesado escapar aos lábios e relaxou os ombros e os braços, que Wafula finalmente pode soltar sem a perspectiva de alguma reação mais violenta.

– Não brica mais de herói? Eu vai brincar com o Seti então!

Antes que Dargan pudesse sair correndo desenfreado pelos corredores, Wafula que o segurou pela roupa, colocando-o no braço com facilidade.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora