A pretensão inicial de Radulf de voltar ao palacete na capital depois de falar com Idris no castelo foi por água abaixo depois de encontrá-lo no quarto da falecida esposa. Ele acabou ficando ali mesmo, discutindo assuntos que teria resolvido sozinho no palacete e usando os mensageiros do castelo para enviar mensagens pontuais para o secretário que tomava conta das coisas quando não estava.
Naquele tempo, foi Dargan que deu trabalho a todos os criados do castelo. Idris estava tão imerso no trabalho, ou ao menos em pensar no que tinha perdido naquela noite, que ele só seguiu do escritório até o quarto quando o trabalho estava encerrado e nem deu tempo de Radulf explicar sobre a criança que estava perambulando pelo castelo, ou talvez o rei nem tivesse parado para prestar atenção que havia outra alma viva em cima do seu círculo de proteção.
A noite já ia alta quando Radulf seguiu pelos corredores conhecidos, se informando com os criados no caminho até descobrir que Dargan estava na cozinha, o que não era muita surpresa, já que o menino parecia ser guiado por comida.
Quando chegou ao local, ele estava muito entretido, sentado no colo da criada responsável pela cozinha, uma mulher de seus quase cinquenta anos, pele alva e cabelos castanhos com fios grisalhos, os olhos escuros afáveis e muito parecidos com os de Seti.
– Vossa excelência. – a mulher nem se levantou para cumprimentar Radulf, enquanto todos os outros criados pararam o que estavam fazendo para se curvar diante da presença do homem. – Seti disse que essa criança estava com o senhor?
Radulf apenas concordou com um aceno de cabeça e Dargan levantou uma colher cheia de sopa na direção dele.
– Tio Raddd! Ó sopa! Gostoso!!
Radulf deu uma boa olhada no garoto e percebeu que ele estava com a mesma roupa que tinha chegado. Ele voltou o olhar estreito para Seti e as duas criadas que estavam paradas ali do lado, a quem tinha encarregado de dar banho no garoto assim que chegaram. Seti nem levantou a cabeça, e estava tão branco que parecia a ponto de desmaiar. Radulf estalou os dedos, e só então os três ergueram o rosto.
– D-desculpe, v-v-ossa excelência, ele ac-c-cabou...
Seti nem terminou de explicar, Radulf fez um par de sinais para indicar que ele preparasse o banho e o criado aproveitou a chance para concordar com uma reverência completa para só então sair quase correndo da cozinha, acompanhado das duas mulheres.
– Ó tio, pa você. – Dargan empurrou o prato de sopa na direção de Radulf, mas ainda continuou comendo do prato que estava oferecendo, e Radulf se aproximou para estender as mãos na direção da tigela de comida.
O gesto que era só para pegar o prato logo mudou para que ele fechasse a mão em volta do pulso de Dargan com firmeza.
– Ahhhh! Eu não! A sopa!
O menino fez um bico para Radulf, que estava lhe impedindo de continuar comendo, mas o conselheiro usou a mão livre para fazer dois movimentos simples, um apontando para Dargan, e o outro para indicar "banho".
– AHHHH!!! Eu não quer! Banho não!
Dargan entendeu até muito rápido o sinal de Radulf, mas ao tentar se afastar, o braço do Conselheiro foi mais firme em lhe puxar com facilidade por cima da mesa para colocá-lo debaixo de um dos braços enquanto ele esperneava quase desesperado.
Os olhares dos criados se voltaram para a cena, curiosos, mas Radulf só se virou na direção da senhora responsável pelos criados, fazendo um aceno rápido com a cabeça em agradecimento.
– Vou deixar comida pronta para levarem de volta, senhor.
E Radulf seguiu para fora da cozinha ainda com o menino esperneando debaixo do seu braço com um aperto firme. O desespero de Dargan não mudou nada, ele só continuou reclamando até chegar na banheira com água morna que os criados tinham preparado, as duas mulheres e Seti continuavam paradas esperando as próximas ordens.
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Um Silêncio de 15 Anos
Romance࿐ Spin-off: O Ladrão dos 13 Corações ࿐ Por mais de vinte anos, Wafula e Radulf serviram no exército de Arcallis e não há nada que eles não saibam sobre o reino, o regente, as guerras e as duras vitórias conseguidas com muito esforço e a paz alcançad...