XVI. Uma Concordância Indireta [XLVIII]

32 7 10
                                    

Não havia uma palavra melhor para descrever o estado de Radulf naquele momento, dentro daquela sala de reunião tomada por um ar de tensão maior do que o de uma guerra prestes a estourar com o norte, do que "satisfação". Pura e simples satisfação. O tropeço na interpretação de Andras foi rapidamente substituído pela expressão de puro choque no rosto sem cor da princesa de Na'im, que só não superava a surpresa e a palidez de todos os guardas pessoais dela que se entreolharam sem saber se tomavam alguma atitude ou esperavam o desenrolar da conversa. E claro, a princesinha estava muito chocada para assimilar a sugestão de aliança de Radulf, a ponto de não perceber de modo algum como Idris até tinha mudado a posição na poltrona, encarando o Conselheiro tão firmemente que só faltava abrir um buraco na testa de Radulf com o olhar. E Idris sabia, tão claro quanto o dia, que Radulf estava lhe ignorando de propósito.

― P-p-perdão... v-vossa excelência, e-eu... eu acho que... entendi- eu... errado... ― claro que, naquela situação muito delicada, Aeliana sequer se atreveu a desviar o olhar para o regente de Arcallis e correr o risco de morrer.

― "Visto que nos comunicamos perfeitamente até agora, não acho que tenha entendido errado, princesa Lisellot" ― Andras interpretou os gestos de Radulf, e Aeliana engoliu em seco, sem se arriscar a levantar o olhar para Idris.

― Vossa excelência sugeriu um... casamento? C-c-com... vossa m-majestade A-A-Av...?

A hesitação de Aeliana fez com que os guardas ficassem inquietos, eles trocaram olhares entre si, imaginando se deviam fazer qualquer coisa para interferir, embora uma proposta de casamento não oferecesse exatamente um risco imediato à integridade da jovem.

― "Avestan Verethragna, isso mesmo." ― Andras interpretou os gestos imediatos de Radulf para completar as palavras de Aeliana.

O engolir em seco da princesa foi audível. Ela abriu a boca para tentar falar alguma coisa, mas nenhum som foi produzido. Se possível, ela ficou ainda mais pálida e estava tão desnorteada com a sugestão inesperada que não viu quando Idris se levantou.

― Andras, por favor, acompanhe a princesa Lisellot até a sala do conselho. Cuide para que ela e seus guardas tenham toda a assistência que precisem. A viagem foi longa, estou certo de que eles precisam de um tempo de descanso.

― Como desejar, vossa alteza. Eu saúdo o sol e a vida do reino de Arcallis. ― Andras fez uma mesura exagerada e então se dirigiu até a jovem princesa, que permanecia paralisada. Foi necessário que Andras pigarreasse perto da princesa para que ela saísse do breve transe. ― Princesa Lisellot? Poderia me acompanhar com seu contingente?

― Ah, s-sim, claro! Me desculpe! ― o ímpeto dela em se levantar quase fez com que tropeçasse, e só então a garota finalmente pousou os olhos na expressão do rei, que a encarava do mesmo modo sóbrio de quando tinha entrado.

Não era uma expressão amigável, claro, mas também não era uma expressão completamente assustadora. Na verdade, a despeito da seriedade, era um rosto muito bonito. Talvez ela tivesse passado tempo demais encarando o regente, porque foi tirada do momento de contemplação quando ouviu outro pigarro discreto de Andras, que permanecia parado ao seu lado, uma mão enluvada estendida na direção da porta.

― E-eu saúdo o sol e a vida do reino de Arcallis. ― ela fez uma reverência exagerada na direção de Idris e então, se voltou também para Radulf, o único que permanecia sentado e inabalado. ― Vossa excelência.

Ela finalmente seguiu Andras para saírem da sala de reuniões, sendo acompanhados de perto pela comitiva que mal esperou o fechar da porta para dar início a burburinhos indiscretos. Só com a porta fechada e alguns longos minutos foi que Idris voltou a atenção para Radulf, cuja expressão satisfeita ainda era muito gritante.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora