IV. Um Dia de Descanso [XXXVI]

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Quase um dia inteiro sem paradas – depois de mais de uma semana nas trilhas para voltar a Zahi –, e uma noite de sexo com Radulf não diminuíram a disposição do general. Ao contrário, ele pareceu muito mais disposto na manhã seguinte depois de dormir só um par de horas sob a luz do sol matinal. Como de costume, ele se levantou cedo e deixou Radulf adormecido, para descer as escadas da cabana agora bem iluminada e encontrar com Orsolya, que ele não teve ressalva alguma em abraçar sem nem pedir licença, a ponto de tirar a mulher do chão.

– Tia Lya! Há quanto tempo! Como a senhora está? O Rad e o Dargan deram muito trabalho enquanto estive fora?

– Me ponha no chão, menino! Isso é jeito de tratar uma mulher da minha idade?! – a mulher deu uns tapas firmes no topo da cabeça de Wafula até ser colocada de volta no chão. – Ora, ora, pelo menos os anos de guerra não tiraram a sua disposição. O Lorde Branimir e o menino dão menos trabalho do que os seus irmãos mais novos já me deram. Mas o Lorde trabalha muito, ele devia descansar mais, se quer saber.

– Se a senhora conseguir convencê-lo disso, eu assino embaixo. – Wafula deu uma risada, andando pela cozinha para pegar pão e café, cruzando o caminho de Orsolya no meio dos afazeres. – Tem muita coisa pra fazer na casa, tia?

– O mesmo de sempre, menino. Cortar a lenha, cuidar dos cavalos, aliás, consertar uns buracos no teto, é bom fazer isso antes que a chuva chegue.

– Argh, dem be lembre. – Wafula reclamou, com a boca cheia de pão e uma careta de desagrado para a informação do clima chuvoso. Ele engoliu o pedaço de pão de uma vez e deu um gole generoso do café quente. – Eu vou adiantar o estábulo que é menor, então. Deixar o Rad descansar mais umas horas, tenho que ir no castelo buscar o Dargan e resolver os assuntos do reino também.

– Quer que eu deixe comida preparada?

– Não precisa, tia, a gente almoça no castelo. – Wafula respondeu, pegando mais dois pães inteiros numa mão e a caneca de café cheia na outra para sair de casa e ir até o estábulo, comendo no caminho.

Wafula já estava acostumado com todo o trabalho pesado na casa, por isso o trabalho no estábulo, com a limpeza, o ajuste de algumas cercas e colocar a comida para apenas três cavalos não foi difícil nem demorado. Um par de horas tinha se passado quando ele voltou para dentro de casa, Orsolya estava estendendo os lençóis lavados e não havia ainda nenhum sinal de que Radulf acordaria. Wafula passou direto para preparar o banho e se livrar das roupas sujas antes de voltar para o quarto para acordar o Conselheiro. Mesmo depois de circular pelo cômodo e vestir as roupas limpas, Radulf continuou quase imóvel debaixo do cobertor grosso que, àquela altura da manhã, já devia estar deixando-o com calor.

– Rad, você vai continuar dormindo o resto do dia? – perguntou Wafula ao se aproximar da beira da cama, sentando ao lado do parceiro e procurando pelo menos o topo da cabeça debaixo do cobertor. – Eu tenho que ir no castelo falar com o Idris e recuperar o Dargan, você não vai?

A falta de reação imediata de Radulf fez com que Wafula franzisse o cenho em confusão. Ele levou uma das mãos até o que seria a altura do ombro do conselheiro para puxar um pouco do cobertor e dar uma boa olhada no rosto com uma expressão irritada, mesmo dormindo, como se ele estivesse brigando com alguém no meio do sono.

– Espero que não seja comigo dessa vez. – o general deu uma risada, mas antes de tentar acordar Radulf do pesadelo, notou as maçãs do rosto coradas, a respiração um pouco intensa e o suor que escorria na testa. – Deve estar passando muita raiva nesse sonho, hm?

Wafula levou a mão até a testa de Radulf apenas para confirmar que o conjunto de detalhes no rosto do conselheiro indicavam que ele devia estar com febre, no mínimo. Não era normal ver Radulf naquele estado, mas Wafula já tivera a cota de irmãos e primos doentes para saber identificar com facilidade uma indisposição. Pela temperatura, não era nada com que devesse se preocupar ainda, e o gesto da mão grande e provavelmente fria na testa de Radulf foi o suficiente para despertá-lo finalmente do sono pesado.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora