IX. Um Campo de Treinamento [XLI]

42 13 24
                                    

Wafula não teve a manhã que gostaria na companhia de Radulf, mas também não podia reclamar de ter descoberto um novo lado do marido que conseguia ficar muito constrangido e quase parecer uma pessoa normal ao ouvir uma declaração direta do parceiro. Ele certamente usaria aquilo contra Radulf algum dia, então acabou seguindo para o seu dia de trabalho com muito mais disposição do que teria depois de sexo matinal. E não seguiu sozinho, já que Dargan tinha dormido no dia anterior com a promessa de que iria treinar com o pai "Wafu".

Os trajetos que eles seguiram foram distintos, Radulf foi até o palacete para dar continuidade ao trabalho, enquanto Wafula cruzou a cidade até os limites imediatamente opostos ao lugar em que ele morava, para chegar numa área bem ampla reservada para treinar os novos recrutas e manter os veteranos em forma, especialmente quando estavam em época de guerra. Pelo visto, com a quantidade de homens adultos que estava chegando no local ao mesmo tempo que o general, Radulf tinha no mínimo sido muito eficaz em emitir o primeiro alerta de guerra.

– Aaaahhhhh!!! Tem um muito de soldado aqui, pai Wafu! – Dargan pulou na sela do cavalo, sem muito medo de cair daquela altura, e acostumado como estava, Wafula só o segurou com um dos braços que estava livre das rédeas.

– Tem muita gente pra você atormentar, Dargan. – respondeu Wafula, descendo do cavalo bem a tempo de um dos cavalariços se aproximar para segurar as rédeas da sua montaria e fazer um cumprimento em respeito ao general.

– Eu vai treinar! E vai aprender a usar uma espada, como o pai Rad! – Dargan não perdeu tempo em correr na direção do campo de treino onde homens e adolescentes se acumulavam, alguns que obviamente se conheciam e tinham tempo de treino, outros que pareciam estar chegando ao lugar só naquela manhã.

Wafula não se preocupou em acompanhar Dargan e só deixou que o garoto se perdesse entre a horda de homens, dando uma olhada breve em todas as pessoas que estavam presentes e seguindo o trajeto, cumprimentando todos os soldados que estavam no caminho.

– Voltou cedo ao serviço, General.

A voz mais familiar fez com que Wafula se virasse para trás para avistar um soldado que conhecia há bons quinze anos. O general abriu um sorriso largo debaixo da barba espessa e estendeu a mão para cumprimentar o companheiro de guerra com uns tapas firmes.

– Galen, há quanto tempo! – ele se afastou para olhar o homem que devia ser uns bons trinta centímetros mais baixo e magro também, parecia capaz de desmontar debaixo do peso da mão do general, mas ele sequer balançou nos pés com a firmeza do cumprimento. – Sua vida não está mole demais aqui na capital não? Eu devia ter te mandado pra comandar o campo de treinamento do norte. Você até tá mais magro.

– E você mais gordo.

– São músculos, músculos. – Wafula exibiu os músculos.

– Sei. Dizem que a vida de casado engorda, acho que tem mais aí do que só músculo. – Galen deu um par de tapas no ombro do general também.

– Eu queria dizer que sim, mas os últimos quatro meses eu estava em vistoria, então, não foi culpa do Rad. E se quer saber, se eu depender das habilidades dele pra engordar... pff.

Wafula chegou ao centro do campo de treinamento acompanhado de Galen, notando a enorme quantidade de homens espalhados em várias áreas de treino com equipamentos diversos. Toda a área livre de treino era ladeada por prédios e construções que serviam de dormitórios a depósitos de armas e mantimentos. Em outros anos, ao retornar da vistoria nas fronteiras, aqueles campos costumavam estar mais vazios e com uma quantidade maior de adolescentes em seus quatorze e quinze anos para iniciar o período de treinamento militar. O grande número de veteranos era sempre uma péssima notícia e Wafula suspirou pesadamente só com a perspectiva.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora