III. Uma Quase Morte [XXXV]

46 15 47
                                    

Nem um dia inteiro de cavalgada diminuiu a disposição de Wafula em passar a noite com Radulf, e pelo visto, Radulf também não tinha a menor intenção de descansar ou lhe deixar descansar. Wafula perdeu a conta de quantas vezes se rendeu ao prazer do sexo com o parceiro, muito mais até pela insistência de Radulf, a noite certamente já ia muito alta quando eles resolveram se render ao cansaço e tomar um banho merecido depois de preparar a água quente na banheira de madeira. Não era o espaço mais confortável para dois homens muito grandes, mas foi bem conveniente para aproveitarem mais da proximidade.

Dentro da banheira de madeira, Radulf que se sentou de frente para Wafula, as pernas passando por cima das dele, para ajudá-lo a aparar a barba que tinha se tornado bem espessa depois dos meses de viagem.

"Você costumava se cuidar melhor quando ia visitar as fronteiras. Quase parece que você está voltando da guerra, desse jeito", Radulf gesticulou, depois de limpar a lâmina na toalha pendurada na borda da banheira, para voltar a raspar parte da barba e aparar o resto, notando então um sorriso convencido no rosto alheio.

– Das outras vezes eu não tinha motivo pra chegar logo em casa. Além do mais, eu gostei da ideia de você me ajudando. – respondeu Wafula, o arquear de sobrancelhas de Radulf lhe fez temer um pouco pela integridade da sua pele com Radulf em posse de uma lâmina.

"Não se acostume", Radulf sinalizou com a mão livre, enquanto continuava o trabalho quase minucioso.

– Tarde demais, Rad. – ele deu uma risada em resposta e só recebeu uns gestos em reclamação para que ficasse parado para não atrapalhar. – Sim, senhor.

Radulf seguiu aparando a barba dele e limpando a navalha na toalha, sob o olhar muito focado de Wafula com um sorriso idiota de satisfação. O olhar intenso não lhe incomodava, mas quase lhe fez rir pela disposição como se Wafula fosse um cachorro feliz por ver o dono.

"Acho que eu devia agradecer então pela sua disposição em voltar mais rápido", Radulf gesticulou. "Eu não lembrava como era tempo demais..."

Demais. – Wafula se inclinou mais na direção de Radulf, sem se importar que ele estava com a navalha perto do seu rosto, até unir os lábios aos dele num beijo muito rápido, para ser empurrado de volta pelo peito.

"Fique quieto ou vou acabar arrancando sua pele."

– Eu gostaria de ficar com tudo no lugar ainda, obrigado. – respondeu Wafula, voltando para a posição anterior, quando Radulf se aproximou para terminar de aparar a barba no pescoço. – Ei, Rad?

Um aceno breve com a cabeça foi o suficiente para indicar que ele estava ouvindo. Radulf levou a navalha até a toalha de novo, para só então ouvir o questionamento de Wafula.

– Enquanto eu estava fazendo as vistorias, você dormiu com outros caras?

Foi em plena consciência que Wafula fez a pergunta exatamente quando Radulf tinha afastado a navalha do seu rosto. A dúvida era genuína, porque em algum lugar no fundo da mente, ele ainda lembrou de como tinha sido fácil penetrar o parceiro depois de quatro meses distantes. Mas talvez ele devesse ter escolhido uma situação menos perigosa para fazer a pergunta, porque Radulf não respondeu de imediato, mas se virou em sua direção segurando a navalha com tanta força que não só a mão dele estremecia, mas o corpo todo, como se tentasse conter a raiva ou a vontade de simplesmente usar a arma e lhe matar ali mesmo.

Wafula não precisava ver os gestos para saber qual era a resposta, mas ele engoliu em seco sonoramente, forçando um sorriso muito sem graça na direção do parceiro que estava com os olhos injetados como se estivesse prestes a torturar um inimigo de guerra.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora