XXIX. Uma Má Influência

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O gesto de Radulf para atacar Kieran só não foi melhor sucedido porque ele sentiu a mão firme em volta de seu pulso e logo Idris tinha tirado a espada da sua mão para fincá-la no chão, onde era mais seguro. As reclamações do conselheiro só não foram mais eficazes porque ele não podia falar, mas os gestos foram tão intensos contra o regente que as veias saltavam nos braços a cada movimento das mãos.

– Você não pode acertar o cavalo. – foi a única justificativa que Idris deu para lhe impedir de arremessar a espada no ladrão, Radulf gesticulou intenso que ele tinha uma mira muito boa, mas a resposta indignada de Kieran chegou aos seus ouvidos.

– Ouu!! E eu aqui?!

Radulf se voltou para o ladrão que tinha descido da montaria e se aproximava convenientemente ao lado de Wafula. Se era possível, a sua aura assassina era até mais intensa do que quando Idris estava prestes a usar sua magia agressiva e o rei ainda deu a ousadia de responder ao ladrão que ele sabia se livrar.

A meros dois passos de distância, Radulf já estava alcançando a adaga que tinha na cintura para avançar em Kieran, mas foi Wafula que se colocou entre os dois, bloqueando sua visão muito eficazmente e passando o braço em volta dos seus ombros.

– Eu estava querendo falar com você mesmo, Rad, venha comigo.

Radulf tentou se debater e se livrar dos braços fortes de Wafula, mas não foi muito útil, a única coisa que lhe restou foi observar enquanto Kieran seguia Idris de volta para o castelo com muita naturalidade, como se ele pertencesse àquele lugar, o que lhe deixava muito mais revoltado. Quando o conselheiro finalmente sentiu a força do braço de Wafula diminuir e conseguiu se soltar, eles já tinham cruzado metade dos jardins e passado por uma série de criados do castelo que nem ligaram para o modo que os dois se portavam.

Tudo que Radulf precisava era se livrar de Wafula para começar a mover os braços em reclamações intensas sobre ele ter lhe impedido de prender o ladrão. Mas Wafula nem reclamou ou tentou retrucar, só se adiantou para segurar ambos os pulsos de Radulf e puxá-lo para perto para um beijo intenso o suficiente para fazer com que todos os criados que ainda estavam por perto se afastassem de pronto. A força dos braços de Radulf foi diminuindo gradualmente enquanto ele cedia ao toque e só quando sentiu o outro mais calmo foi que Wafula se afastou.

– Melhor agora?

O estreitar de olhos do conselheiro só anunciou o golpe certeiro que ele deu no topo do estômago de Wafula, a ponto do general sentir o ar faltar.

– Auu! Você tem que deixar dessa violência, Rad! – Wafula massageou a área atingida, e Radulf só voltou a reclamar em sinais sobre a atitude do general de ajudar o ladrão a se aproximar de Idris. – Eu sei que você está mais do que revoltado com o ladrão e tem seus motivos, mas não está na hora de deixar isso pra lá?

Foi uma péssima escolha de palavras, porque o gesto de Radulf para se sentar, aparentemente mais relaxado, parou no meio e ele deu um impulso na direção de Wafula como se fosse atacá-lo mais uma vez, indignado com a sugestão.

"Depois de tudo o que ele fez?! Qual o problema de vocês?! A coroa! O relicário! Até o meu selo pessoal ele teve a ousadia...!"

– Você sabe que o Idris não... espera, ele roubou o seu selo? – a expressão no rosto de Wafula foi de leve surpresa, e com a raiva estampada no rosto de Radulf para a pergunta, ele acabou contendo forçadamente a vontade de rir da ousadia de Kieran. Em resposta, para evitar atormentar ainda mais o conselheiro, ele só pigarreou. – Tá, ele podia ser punido um pouco...

Mais uma vez, o estreitar de olhos de quem discordava daquela complacência.

– Está na hora de considerar a influência dele com o Idris, não acha?

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora