Um Silêncio de 15 Anos

XIII. Um Assunto Complicado [XLV]

Wafula dormiu o resto da madrugada sem se levantar para fazer café ou buscar outra fonte de calor. Ele certamente não estava brincando quando disse a Radulf que não podia reclamar do seu peso, porque mais do que nas noites anteriores em que os dois tinham se acostumado a dividir a cama, Radulf sentiu o peso dos braços e das pernas do general em volta de seu corpo o resto da madrugada, o que lhe impediu de tentar sequer mudar a posição na cama ao longo do sono.

O conselheiro só aceitou a proximidade e o calor confortável no meio da noite. Com o clima esfriando, era até bom não ter que depender de cobertores e lareiras, mesmo que ambos estivessem bem acostumados ao frio e desconforto dos incontáveis acampamentos das guerras em que tinham batalhado nos últimos dez anos. O conforto da companhia foi maior do que Radulf tinha imaginado, porque só acordou na manhã seguinte com a cama vazia, a ponto de nem sentir o movimento de Wafula ao se levantar.

O conselheiro deixou o quarto já preparado para sair de casa e ir direto ao palacete. Talvez devesse ter dispendido mais energia ao ladrão para se vingar do que ele tinha ensinado a Dargan no dia anterior, mas com uma guerra em vista, seus afazeres administrativos tinham aumentado bastante, assim ele achou por bem devolver a moeda a longo prazo. Haveria tempo suficiente para ser criativo até lá.

Depois de passar na cozinha para se servir de uma caneca de café que ainda estava quente sobre o fogão, ele saiu de casa só para confirmar que Wafula já tinha saído e levado Dargan junto, provavelmente para lhe deixar descansar um pouco mais. De todo modo, ele não demorou muito ali, terminou o café, trocou de roupa, fechou a casa e montou o cavalo que já estava selado para ir até o palacete.

Não era incomum chegar ao palacete e ser recebido por Andras para que ele lhe atualizasse dos assuntos do reino, mas em geral ele estava no seu escritório, e não na entrada do palacete, descendo as escadas num passo comedido para lhe alcançar antes mesmo que um dos cavalariços levasse seu cavalo até os estábulos.

– Vossa excelência, chegou uma mensagem urgente da fronteira leste. – Andras estendeu a pequena mensagem já aberta para Radulf enquanto eles subiam as escadas do palacete.

"Não me diga que é mais uma ameaça de guerra?"

– Na verdade, a comitiva real de Na'im está chegando à capital. Eles já passaram da fronteira, devem estar a meio-dia de distância.

Radulf parou onde estava na entrada do palacete, olhando em confusão para Andras. Mas antes mesmo que ele pudesse gesticular sobre alguma falha de comunicação entre os reinos, Andras foi mais rápido em explicar.

– Sim, excelência, nós adiamos os assuntos diplomáticos com Na'im depois da ameaça do norte. – Andras adicionou. – Acredito que tenham decidido vir por conta própria.

O conselheiro pressionou o espaço entre os olhos por um instante, soltando o ar num suspiro pesado antes de continuar o caminho para entrar no palacete sendo seguido de perto pelo funcionário.

"Mande prepararem minha casa para hospedá-los enquanto estiverem aqui. Reforce a segurança. Envie um mensageiro para o castelo para trazer o rei, se eles quiserem dar trabalho, o Idris resolve. Tenho assuntos mais importantes a tratar com o norte."

– A mansão já foi preparada e a segurança reforçada, também enviei um mensageiro ao castelo para requisitar a presença do regente. – Andras explicou.

Radulf não se impressionou com a proatividade de Andras, mas respondeu com um aceno de cabeça em concordância e um sorriso discreto. Ao menos podia confiar boa parte do seu trabalho aos funcionários fiéis no palacete, o que lhe deixava com tempo livre para maquinar vinganças contra o ladrão. Ele seguiu o resto do trajeto pelo palacete até a sua sala sendo informado por Andras sobre os assuntos mais importantes do reino, a eficiência do funcionário lhe dava mais calma para pensar no que fazer a seguir com a situação de tensão no norte.