Um Silêncio de 15 Anos

VII. Um Nome Proibido [XXXIX]

Qualquer assunto de guerra dentro de Arcallis era delicado, mas não era novidade para o Conselho de Nobres, fossem os integrantes mais jovens que nunca tinham participado de um conselho de guerra, ou os mais antigos acostumados às perdas financeiras. Mas era sempre mais fácil fazer aquilo sob o olhar analítico de Idris quando ele estava presente nas reuniões do Conselho. Era por isso que Radulf nunca falhava em trazer o regente para o palacete quando se tratava de guerra. Já que todos tinham que investir muito dinheiro nas defesas do reino, conseguir os resultados com o regente ali pessoalmente era simples.

Se era fácil notar que Wafula estava quase dormindo em todos os demais assuntos não relacionados a guerra, era muito difícil entender a expressão imparcial de Idris. Ninguém podia dizer com certeza se ele estava concentrado no assunto ou prestes a cochilar de olhos abertos em seu trono. A atenção dele só foi reafirmada quando Radulf começou a apontar sobre cada uma das fortalezas que protegiam o norte e seus comandantes em atuação. A interrupção do rei foi pontual exatamente quando Radulf começou a tratar da receita da segunda fortaleza, a mais próxima da capital de Táhir.

– O Urien está em serviço há quanto tempo nessa fortaleza? – perguntou Idris.

– Ele acabou de deixar a Fortaleza, estava lá há mais de seis meses, eu o dispensei. – Wafula que respondeu. – Vegard está na Fortaleza agora.

– Eu o quero aqui, se precisarmos discutir as estratégias. – adicionou o regente. – Mande uma mensagem para que ele fique em alerta, se necessário.

Radulf só precisou fazer um aceno para um dos funcionários sair da sala e atender logo a ordem de Idris. Ele seguiu a discussão sobre os assuntos de guerra, mas o gesto do funcionário de deixar o salão acabou interferindo no andamento das discussões de novo, quando a porta entreaberta deu passagem para um Dargan que entrou como um furacão, como sempre.

– Pai Rad! Eu terminou a aula com o- ahhh!!! – o menino mesmo que interrompeu o caminho correndo até Radulf ao avistar o regente no topo do lance de escadas e desviou o caminho sem nem pensar duas vezes. – Tio Idris! Tio Idris!!

O silêncio que tomou conta do salão foi sepulcral e imediato. Todos os nobres que discutiam os assuntos entre si e aguardavam as demais instruções do Conselheiro pararam o que estavam fazendo diante da voz infantil e o modo como o garoto tinha se dirigido ao regente. Agora, todos os nobres já estavam mais do que acostumados às invasões de Dargan às reuniões de Conselho nos últimos meses: ele corria ao redor da mesa, era ignorado por Radulf, riscava alguns papeis e depois sumia na companhia de algum outro tutor.

Ele fazia barulho, mas não incomodava, não era um garoto ruim, principalmente porque estava sendo cuidado e criado pelo Lorde Branimir Ishmerai. Qualquer criança do reino teria muita sorte de ser criada pelo conselheiro. Era uma pena que ele fosse morrer tão cedo por causa do modo ingênuo e inocente com o qual tinha se dirigido ao regente em público. Aquele foi o primeiro pensamento que passou pela cabeça de todo o Conselho enquanto os olhares temerosos acompanhavam a trajetória condenada da pobre criança – no momento de surpresa, nenhum deles tinha parado para calcular mentalmente quem é que tinha ensinado aquele nome ao garoto.

A tensão era quase palpável no ambiente, o que foi facilmente percebido por Wafula que deu uma olhada curiosa nas expressões assustadas dos nobres enquanto Dargan tropeçava no caminho pelas escadarias até alcançar Idris que já tinha voltado a atenção exclusivamente para o garoto. Radulf estava tão concentrado em um documento entregue por Andras que nem parecia ter notado a chegada de Dargan, menos ainda o silêncio na sala e o fato de que todos tinham prendido a respiração.

Foi uma cena interessante para Wafula que precisou conter a vontade de rir enquanto Dargan finalmente alcançava o "tio Idris" e escalava o trono, a roupa e as pernas do regente até procurar um lugar para sentar no colo dele, balançando os pezinhos para fora do trono e começando a narrar a sua aula de história. Foi mais assustador ainda para os nobres quando Dargan pareceu muito curioso sobre a coroa que ele não tinha visto até então, e até ficou em pé no braço do trono para tocar no adorno e perguntar ao "tio Idris" o que era.