Um Silêncio de 15 Anos

XIV. Uma Visita Diplomática [XLVI]

Não fosse pela gracinha do ladrão em distorcer o que já tinha ensinado a Dargan, a notícia inesperada da visita da delegação do reino ao leste e o beijo roubado do Anjo da Morte na entrada do palacete, o dia de Radulf estaria correndo mais tranquilo. Mas as perturbações matinais não o tiraram completamente do que tinha planejado para o resto do dia e na companhia de Idris, ele voltou para o palacete, usando o tempo do curto trajeto para informar sobre a visita da delegação de Na'im e as estratégias iniciais para lidar com o norte.

― Eles não disseram o que querem com a visita?

"Pelos últimos tratados diplomáticos, queriam discutir sobre o território do templo dos Manas. Talvez queiram reaver o controle sobre o templo, mas eu adiei as discussões depois de recebermos a ameaça do norte. Sinceramente, não tenho tempo para perder discutindo religião." Radulf gesticulou no meio do caminho.

― Se fez com que viessem pessoalmente, é importante para eles. ― Idris respondeu, e Radulf teria retrucado sobre a pouca importância do assunto diante de uma guerra, mas visto que o templo dos Manas era um dos locais favoritos da falecida rainha, ele achou por bem mudar a resposta.

"Por isso pedi para que viesse, assim vão ver que nos importamos também."

Aquele certamente não era o motivo e Idris sabia, mas não se importou com a decisão de Radulf, ele sabia muito bem como sua imagem era utilizada na maioria das reuniões com os reinados vizinhos ― e a sua imagem era exatamente o mesmo motivo que o regente nunca se envolvia em assuntos diplomáticos. Antes que pudesse adicionar qualquer comentário ou questionamento, o trajeto tranquilo dos dois foi interrompido pela voz conhecida e animada.

― Tio Idris, tio Idris!! Eu não vai mais matar você! ― Dargan praticamente pulou na direção da dupla, parando bem aos pés de Idris enquanto saltitava nos próprios calcanhares com uma animação renovada. ― O pai Rad diz que você cuida da nossa casa, então eu cuida de você também!!

― Ele disse? ― Idris olhou breve na direção de Radulf, depois se voltou para Dargan com um sorriso discreto. ― Obrigado.

― Eu não achei que o ladrão ia escapar dessa vez, mas que sorte de esbarrar logo em você, hein, Idris. ― Wafula comentou, aproximando-se do trio sob o olhar ainda de julgamento de Radulf. ― Já que está tudo resolvido aqui, eu vou para o campo de treinamento.

― Eu vai também!

"Não, você tem aula.", Radulf interveio, o que colocou uma expressão desanimada em Dargan.

― Mas eu quer ir aprender a lutar pra cuidar da casa!

― Eu levo ele comigo agora, Rad, vocês têm coisas mais importantes pra se preocupar. Além do quê, eu disse que ia arrumar um colega de estudos pra ele, não foi? Voltamos depois do almoço. ― Wafula adiantou a sugestão antes mesmo que Radulf negasse o interesse de Dargan.

― É! Eu vai com o pai Wafula!

Radulf não protestou contra a sugestão de Wafula, só concordou com um aceno de cabeça e seguiu o caminho acompanhado de Idris para encontrarem com Andras e iniciarem o trabalho. Já que Idris já tinha saído do castelo para atender ao seu chamado urgente, Radulf fez por bem em ocupá-lo o resto do dia enquanto discutiam estratégias políticas e militares não só com o Norte, mas com outros reinos vizinhos.

Wafula não voltou tão logo depois do almoço como tinha sugerido, mas Radulf sequer teve tempo de pensar na ausência dele e de Dargan, quando no meio da tarde, o furor tomou conta do castelo com a chegada da comitiva real de Na'im.

Na'im era o reino que fazia fronteira com Arcallis ao leste, ainda dentro do território Sul. Não era um reino grande, tinha um poderio militar irrisório comparado aos reinados vizinhos, por isso não apresentava muita ameaça a Arcallis. Mas o reino tinha uma boa vantagem territorial por ser costeiro, o que significava que muitos dos itens que eram raros e trazidos de continentes além-mar só poderiam ser obtidos com facilidade através de Na'im.