X. Um Banho Relaxante [XLII]

45 15 35
                                    

───✧ +18 ✧───

Exceto pela constante atenção que Wafula precisava dispender a Dargan para se certificar de que ele não ia acabar caindo no depósito de armas e saindo de lá com algo mais perigoso de uma adaga, o dia no campo de treinamento foi exatamente como ele estava acostumado dos seus afazeres gerais no reino. Talvez não tão idêntico, já que o chamado não-oficial de Radulf do dia anterior tinha surtido bastante efeito em veteranos de guerra que precisaram sair de suas casas e seus afazeres ordinários para se apresentarem no campo de treino, o que se chocava com a quantidade de adolescentes que estava só iniciando o período de treino militar aos quatorze e quinze anos de idade.

Mas Wafula não estava totalmente alheio ao efeito que uma notícia de guerra com o norte podia causar nos mais antigos soldados de Arcallis. Desde antes mesmo de Idris ascender ao trono, a mãe dele antes dele e até o pai dele tinham entrado em inúmeras disputas territoriais com Táhir até conseguirem consolidar o território de Arcallis. Uma guerra a cada três anos, nos últimos dez anos, na verdade era uma perspectiva até positiva.

O general se resignou a fazer apenas o seu serviço de orientação geral, passou instruções e avaliou soldados e recrutas na companhia do comandante responsável por aquele centro de treinamento na capital. Dentro de um campo de treino tão amplo, ele pelo menos podia deixar Dargan solto dentro dos muros, porque os recrutas e soldados sabiam que teriam que pagar muitas voltas correndo pelo campo se perdessem o garoto ruivo de vista.

O dia no campo de treinamento foi mais cansativo do que as viagens para as fronteiras, apenas porque a tensão da perspectiva de guerra deixava os nervos de todos a flor da pele, mesmo que fosse a menor das possibilidades, e Wafula precisava se certificar de contornar todo aquele ânimo negativo e dissipar a tensão acumulada.

Foi com aquele pensamento em mente que, ao fim do dia, com um Dargan que parecia ainda mais energético mesmo depois de todos os supostos "treinamentos" que tinha feito junto dos outros recrutas, ele seguiu o caminho para casa com um desvio rápido pelo castelo para deixar Dargan na companhia dos criados e voltar sozinho para casa para um descanso merecido com Radulf. E depois do dia cheio e daquela manhã, ele estava mesmo precisando de um tempo a sós com o marido.

A noite já ia alta quando Wafula finalmente chegou em casa, a iluminação baixa que surgia pelas frestas das janelas e portas era um indicativo de que havia alguns candelabros acesos e provavelmente a lareira. O cavalo de pelo bronze solto no pequeno cercado ao lado da cabana foi a confirmação para o general de que Radulf já estava em casa, o que era surpreendente, já que ele costumava estender até demais as horas de trabalho.

– É novidade você estar em casa antes de mim, Rad. Não me diga que ficou doente de novo? Eu nem peguei pesado com você ontem. – Wafula chegou anunciando assim que entrou na casa, fechando a porta atrás de si e se desfazendo da jaqueta pesada e das armas embainhadas logo na entrada.

Só depois de seguir até a sala foi que Wafula avistou Radulf sentado no sofá de três lugares com vários papeis sobre as pernas cruzadas, aparentemente tão focado em todos eles que nem se prestou a fazer qualquer sinal para lhe responder. O general se debruçou sobre o encosto do sofá e tirou os papeis das mãos do Conselheiro, finalmente obtendo alguma reação dele, que ergueu a cabeça para lhe encarar de volta com uma expressão cansada.

– Você vai ficar cego se continuar lendo tanto nessa iluminação, Rad. – o general deixou os papeis ao lado no sofá. – E você já não fala, imagine como vai ser difícil sobreviver n- au-au-auuu!!

A puxada que Radulf deu nas tranças de Wafula foi forte, a ponto do general sentir o tranco com o corpo quase caindo sobre o encosto do sofá. Mas ele conseguiu se manter de pé só para ver os gestos de Radulf com uma só mão.

Um Silêncio de 15 AnosOnde histórias criam vida. Descubra agora