Capítulo 24

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(...)

Coloco a arma no cos da bermuda. Empurro o grande portão de ferro adentrando no galpão, aperto o adaptador de luz dando iluminação ao local escuro. Quando as luzes se acendem consigo enxergar o quadro branco com anotações e fotos, e alguns papéis organizados que deixei sobre a mesa no dia anterior.

Caminho em direção da mesa com algumas cadeiras, encosto as costas na mesa enquanto encaro o quadro com a foto de Pavanelli, o federal. Fotos dele saindo da base policial, outras dele com alguns colegas do mesmo ramo, algumas com a familia. Aliás, muito bonita a familia, esposa, dois filhos.. Interessante.

O que é mais interessante são as suas fotos a noite com uma mulher, não uma qualquer mulher, provavelmente alguma garota de programa ou até mesmo a sua amante. Além de imbecil em entrometer em coisas que não é da conta dele, ainda trai a mulher. O que a mulher dele pensaria ao ver essas fotos? 

Será que a familia dele continuaria a mesma, ou a mulher surtaria? Entre essas duas opçoes fico com a segunda, mulher é tudo surtada. Mas também tem aquelas que não largam do cara, isso tem de montão na favela. Mas Paloma, mulher do federal não tem cara de quem sustentaria o chifre.

Aguardem as cenas do próximo capitulo.

Riu com o meu proprio pensamento, descruzo os braços quando ouço passos. Olho vendo o filho da puta de Gafanhoto, estava tão pensativo que não o vi chegando.

- Fala tú. - Se aproxima fazendo um toque comigo.

- E aí, Jão. Demorou pra caralho heim? Tá doido.

Gafanhoto está me ajudando nessas coisas, não envolvi mais ninguém nessa parada. Gafanhoto é filho da puta, mas é um filho da puta que eu confio.

Além de Gafanhoto, aqui no Brasil, tem Pato que também tem a minha confiança, mas deixei ele de fora dessa, até porque Pato tem os problemas dele, já Gafanhoto é um desocupado.

- Tu viu como que tá o trânsito?

- Peguei o mesmo que tu e cheguei a mó cota. - Aponto pegando a caderneta.

É claro que eu sei que o trânsito estava foda, até porque fiquei mó cota no sinal. Mas é claro também que eu não perderia a chance de implicar com ele.

- Só se eu viesse voando.

- Iih caraí, era só esperar o vento bater em tu que ele te trazia.

Gafanhoto me manda dedo do meio rindo. Tira um bolado do bolso tacando fogo.

- Tu já é lerdo e quer queimar um.

- Qual foi caralho, um pra dar um ânimo.

- Só se for ânimo memo, vai ficar mais lento que já é. Se ficar lerdão vou meter dois tapão pra acordar e deixar de se besta.

- Pega no meu, eu heim. Mas fala aí, o que nois tem pra hoje?

- Fiquei sabendo que vai ter um bagulho de casal, uma parada assim, tô olhando direito. Maioria do quartel vai tá lá.

- E quem não tem uma dona?

- Vai com uma mina qualquer, e tu acha memo que os cara vai levar esposa? Maioria vai levar as amante.

- É memo. - Aponta tragando. - Tú acha que Pavanelli vai tá lá?

- Acho não, certeza que vai com a novinha

- Esses cara é pior que nois, imagina a esposa chegando, ai papai.. dava tudo pra assistir o barraco. - Riu aproximando do quadro.

Imagino como seria o quebra pau, Pavanelli tem dois filhos pequenos, acabou com a família de bobeira. Acabou com a família por causa de buceta mais nova.

Posso ser o que for, mas não concordo com essas paradas, muita falta de caráter traição, desde amizade até relacionamento.

Relacionamento é pior ainda, ainda mais quando isso envolve outras pessoas, pessoas que não tem nada a ver com as suas ações. É foda.

- Quero que tu arrume um convite pra mim.

- Essa festa aí é que dia memo?

- Sexta que vem, tu consegue?

- Desse jeito cê me ofende caralho, é claro que consigo, tá duvidando do meu talento? Isso aí é de menos. - Assopra a fumaça apagando a ponta no cinzeiro.

Gafanhoto manja dessas paradas, para ele conseguir entrar no site privado e descolar o convite pra mim é de menos.

- E tú vai entrar na toca dos lobo?

- Rato. - Corrijo. - Entrar em toca de rato pra lobo é mole.

- Tú é doido pra caralho.

- Pira não, Gafanhoto.. aaah pega o pai. - Solto um gritinho esfregando uma mão na outra.

Gafanhoto nega rindo, ele senta na cadeira ligando o computador.

Transformei o galpão vazio em uma base da hora, com tudo que é preciso para mim resolver as minhas paradas. Galpão afastado para não correr risco, segurança reforçada, câmeras, radares na estrada.

- Se o bagulho é de casal, tú vai sozinho?

Encaro Gafanhoto e cruzo os braços, mais lerdo só dois dele.

- Vou.. é claro que não Jão, parece lerdo. Se o bagulho é pra casal e acompanhante.

- Iih véi, só perguntei. O convite é já pros dois?

- Até que enfim colocou a cabeça pra pensar. - Dou um tapa na sua nuca, ele me olha feio passando a mão onde eu bati.

O convite é feito por casal, vai estar só com o nome de um, mas o convite é para ambos. Além do convite o seu nome tem que estar na lista, isso Gafanhoto também consegue resolver.

- Ruan Alencar. - Gafanhoto fala elegante. - Nome de playba da porra.

- Empresário pô. - Riu encarando a tela do computador. - Essa é a intenção.

É claro que eu não vou colocar o meu nome mesmo, não sou trouxa. Identidade tudo falsa, mas se procurarem por mim no banco de dados vai estar a minha ficha completa. Ruan Fagundes Alencar, 28 anos, militar por quatro anos.

- Vai levar quem contigo? Tauane?

- Sem condições levar ela, parada é sigilosa pra levar qualquer pessoa, ainda mais Tauane.

- Preciso fazer a ficha da mina, no caso que resolvam puxar a dela.

- Coloca aí Samira Andrade da Silva. - Falo o primeiro nome que vem em mente. - Vinte e quatro anos.

- Demorô.

Deixo Gafanhoto fazendo o resto do trabalho e afasto para não atrapalhar. Sento na cadeira com a caneta em mãos.

A grande parte das pessoas que vão nessa festa são policiais em geral, mas é claro que não e qualquer um, são os "melhores". Vem gambé até da puta que pariu, esse negócio de "evento de acompanhante" é só fachada.

- Mas fala aí pra nois, quem vai nessa contigo? - Solto uma risada fraca rodando a caneta entre os dedos. - Não vai me dizer que...

- Isso memo, Jão.

- Tu é doido pra caralho. - Ri com atenção na tela do computador.

Dou de ombros rindo, talvez eu realmente seja.

Doce TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora