Point of view Âmbar.
Tudo parece estar em câmera lenta, vejo o momento exato que os tiros são disparados, tento agir contra mas é tarde demais. Os olhos de Douglas aos poucos vão ficando sem brilho e o seu corpo sem força tomba pra trás atravessando a barra de segurança e caindo, não sei como é possível em meio de tanto barulho, mas ouço o momento exato que o corpo colide contra o chão causando uma fincada forte no meu peito, junto a dor insuportável.
As minhas vistas ficam turvas e um grito desesperado e agoniante deixa a minha garganta. Fico cega quando vejo o corpo do causador dos disparos caído no chão, chuto com força a sua mão que está segurando a arma. Tiro forças pegando o corpo maior que o meu, machucado dos cacos de vidro e jogo da grade do andar de cima.
Desço a escada pouco me fodendo de estar com coturnos de salto, nada me importa agora. Corro sentindo o meu coração acelerado com um grande aperto, vejo o corpo do meu menino estirado no chão sujo. O meu maior medo se tornou realidade, o meu maior medo era ver ele em uma situação parecida.
Caio de joelhos sem forças ao seu lado, lágrimas e mais lágrimas deixam os meus olhos. Passo a mão trêmula no seu rosto.
- ALGUÉM ME AJUDAA! - grito desesperada sentindo a minha garganta arder, encosto minha testa na cabeça dele enquanto choro desesperada.
Não mecho no corpo, sei que qualquer movimento errado posso piorar a situação. Viemos preparados, sabia de todo plano, mesmo Douglas não me contando a parte que ele entrava sozinho para o seu acerto de contas, eu sabia que ele não iria deixar isso passar batido, eu o conheço mais do que ele mesmo.
Nessas operações sempre alguém se fere. Sabendo do nível da operação que estava por vir, sabia que não era coisa fácil. Por isso mesmo uma pequena equipe veio conosco, além da aeronave vieram carros com os nossos soldados, e junto aos carros uma ambulância.
Tendo a visão de cima, vimos o momento que quatro carros corriam em alta velocidade pela estrada de terra, esses quatro carros não era ninguém dos nossos. Atiramos de cima mas não foi o suficiente, tínhamos a visão deles mas não tínhamos a posição certa para abrir fogo. Por isso os nossos carros entraram em cena, eles resolviam com os que estavam de fora enquanto eu iria tentar entrar pelo painel de vidro. Era arriscado, mas nada que eu nunca tenha feito na vida a esses anos todos, mas dessa vez era diferente, não era um membro qualquer da facção que estava ali.
O único jeito de entrar era pelo painel de vidro, em solo firme estava havendo troca de tiro. Por coincidência e sorte Santino estava na frente do painel, no ângulo perfeito que fez ele ser atingido, ele estava no momento certo, no lugar certo. Por azar Douglas também estava ali, no momento errado, no lugar errado.
Todos deles estão mortos, conseguimos tomar o controle da situação, são anos de experiência. A equipe médica entra com a maca de mão, eles imobilizam o corpo e os três médicos erguem a maca na força do braço. Olho para Pérola que aponta para mim com a cabeça secando os olhos, me mandando ir que ela acabaria com o resto.
Entro na ambulância vendo o meu garoto lutando para ficar acordado, sendo forte como sempre foi. Na própria ambulância os médicos dão início aos primeiros socorros.
- Ele não pode dormir. - Kainan, um dos médicos fala realizando um dos procedimentos.
- Não dorme Douglas, fica comigo! Você consegue, falta pouco meu amor, você é forte. MANDA IREM MAIS RÁPIDO! - Grito desesperada. - Por favor, fica comigo, fica comigo.. - sussurro acariciando o seu rosto.
A todo momento pedia para ele ser forte e ficar comigo. Ele ia e voltava, os seus olhos faziam esforços para abrir e quando conseguia ficava por poucos segundos, mas era como se ele não estivesse de fato ali. A máquina de batimento começa a aumentar de uma hora pra outra.
- Se ele continuar assim ele vai ter um infarto, a pressão dele está muito alta. Falta pouco para chegarmos, não podemos aplicar nenhum medicamento para sua pressão porque pode interferir no hospital.
Eu estava vendo tudo em câmera lenta, as vozes estavam abafadas. Os batimentos da máquina aumentando cada vez mais, os médicos tentando regular a situação, até pelo menos chegarmos no hospital. Cada segundo parecia que levava uma interinidade para passar.
Quando chegamos no hospital foi tudo tão rápido, uma equipe maior estava a nossa espera, já estavam todos preparados. Eles tiraram a maca com poucos segundos e entraram na passagem de emergência do hospital.
- Me soltem, EU QUERO VER O MEU FILHO! - me debato sendo segurada por dois homens.
- Anna, se acalma, se acalma! - Fernandes diz me tirando dos braços dos dois homens e segura no meu rosto me fazendo parar de me debater. - Vai ficar tudo bem, os médicos já estão tomando conta da situação. Shh, se acalma, agora ele está em boas mãos.
- Isso tudo é culpa minha, minha culpa!
- Você não tem culpa meu amor, não tem. Não faz isso com você. - seguro nas suas mãos que estão no meu rosto negando com a cabeça. - Você fez o que pode, vai ficar tudo bem. Você acha mesmo que ele vai se entregar tão fácil assim? Ainda mais quem, Relíquia é forte, ele é duro de queda igual a você. - beija a minha testa e deita minha cabeça no seu peitoral enquanto choro lembrando do meu menino.. O meu filho..
A cena dele se repete na minha cabeça, junto das lembranças, dos nossos momentos, da primeira vez que peguei ele no colo, ele era tão pequeno, cabia direitinho nos meus braços. Quando ouvi aquele chorinho pela primeira vez prometi que iria protegê-lo de tudo, promessa que infelizmente não fui capaz de cumprir.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Doce Tentação
Teen FictionMelissa Santos, uma grande mulher com opiniões fortes e dona de si. Melissa se mudou para o Rio de Janeiro, em busca de conquistar e correr atrás dos seus sonhos. Mal sabia ela que o seu destino no Rio, não fosse apenas correr atrás de seus sonhos. ...