Capítulo 71

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Acordo desorientado sentindo a minha cabeça pesar uma tonelada, ao mesmo tempo que o meu corpo está leve como se eu estivesse flutuando. Sou recebido por uma luz forte que me faz fechar os olhos de novo pela claridade, pisco algumas vezes sentindo as minhas vistas embasadas.

Mas que.. porra é essa?!

- Caralho viado.. e-eu fui pro céu? - não consigo manter a minha voz firme, sinto a mesma sensação de quando estou bêbado. - Cadê o fogo?

Percorro os olhos vendo tudo branco, até que uma figura invade as minhas vistas. Leva um tempo para as minhas vistas focarem e perceber que é Melissa. Sorrio grogue pra ela.

- O que cê tá fazendo aqui? - pergunto com a voz arrastada. - Shh.. - pisco algumas vezes sonolento. - Erraram o meu caminho na hora do julgamento.

- Dorme amor, você está sobre efeito de remédio. - sinto uma carícia no meu rosto fazendo que eu deixe me levar adormecendo.

(...)

Acordo com a sensação estranha ao ouvir o "bip, bip, bip". A minha cabeça está pesando uma tonelada, ao mesmo tempo que sinto o meu corpo leve. Sinto dificuldade para respirar, mesmo com o aparelho de oxigênio no meu nariz, que ao invés de ajudar me dá aflição.

O silêncio me incomoda de certa forma, diferente da última vez que estive acordado, tudo estava tão barulhento, o barulho agudo dos tiros, até mesmo da munição caindo no chão. Foi tudo tão rápido, mas ao mesmo tempo lento. Tudo aconteceu em um piscar de olhos, de uma hora pra outra eu não sentia mais o meu corpo e as minhas vistas estavam turvas.

Não lembro de tanta coisa, a minha mente estava longe em diversos pensamentos misturados com vozes, nada foi nítido.

Dizem que quando você está prestes a morrer um filme passa na sua cabeça, nunca acreditei nisso. Mesmo sentindo que eu não pertencia mais aquele corpo que estava jogado no chão, eu estava ciente, a minha mente estava ciente do que estava acontecendo. Era como se eu estivesse vendo tudo do lado de fora.

No tempo que fiquei acordado, não sei se foi segundos ou minutos, na minha cabeça parecia horas. Eu vi os olhos de cada pessoa que eu tirei a vida, das vozes pedindo perdão, o barulho do último suspiro, os olhos perdendo a cor. Eu vi um por um. Não sei o porque, o porque daquelas memórias, não sei se elas tinham alguma intenção ou objetivo, mas em nenhum momento eu senti remorso, nem um mísero pingo de arrependimento.

Junto de todas lembranças um barulho estranho as acompanhava, entre os olhos sem vida das pessoas que matei, o som desconhecido chamava a minha atenção. Eu tentava identificar o som, mas quanto mais eu tentava mais ele ficava abafado. Até que todos aqueles olhos sem vida sumiram e eu apaguei.

Após o meu apagão tive flashes, parecia que eu ia e voltava. Conseguia ouvir vozes dizendo "não dorme, fica comigo", mas eu não conseguia, mesmo que estivesse alguém me pedindo para ficar acordado eu simplesmente não conseguia, eu queria mas não conseguia. Eu tentei, tentei diversas vezes..

Eu não tinha mais forças, até que o som que eu não conseguia identificar voltou, e dessa vez voltou com mais força e clareza. O tempo todo aquele som era um choro, não era um choro qualquer, era um choro muito forte ao mesmo tempo agudo. Junto ao choro um par de olhos tomou a minha vista, me tirando da escuridão, não era um par de olhos qualquer, diferente dos diversos olhos que eu vi, esse era cheio de vida. Era um par de olhos negros, um negro intenso e brilhante. Eles me transmitiam paz, um sentimento diferente. Eles me mantiveram acordado.

Quando acostumo com a claridade, percebo que estou em um quarto. A mão no meu peito chama a minha atenção, ainda mais por reconhecer de quem é. Melissa está deitada com a cabeça no pequeno espaço do colchão, toda torta sentada na cadeira. Ala, depois vem reclamar de dor na coluna. Faço menção de acariciar o seu rosto, mas uma dor forte atinge o meu braço me fazendo gemer de dor. Mesmo não querendo acabo acordando ela.

Doce TentaçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora