Capítulo 16

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Aleksandra Ivanov-Orlov

Soneto 116

“De almas sinceras a união sincera

Nada há que impeça: amor não é amor

Se quando encontra obstáculos se altera,

Ou se vacila ao mínimo temor.

Amor é um marco eterno, dominante,

Que encara a tempestade com bravura;

É astro que norteia a vela errante,

Cujo valor se ignora, lá na altura.

Amor não teme o tempo, muito embora

Seu alfange não poupe a mocidade;

Amor não se transforma de hora em hora,

Antes se afirma para a eternidade.

Se isso é falso, e que é falso alguém provou,

Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou.”

— William Shakespeare

— Aleksandra, se quiser, já podemos descer. Já está pronta? - Mikhail perguntava entrando no quarto enquanto eu terminava de subir o zíper lateral do meu vestido.

Nós tínhamos bastante intimidade, não nos importávamos com como ambos nos víssemos, aliás, quem é que nunca viu um par de seios, uma bunda ou uma boceta?

“Ai mas por respeito, por ele ser o seu funcionário, ele não pode te ver dessa forma…”

Fodam-se os padrões e as regras impostas pela sociedade. 

Esses dois eram como irmãos para mim, mesmo eles sendo homens e eu não acreditando muito na resistência de um perto de uma mulher, eles me respeitavam e agíamos de igual para igual. Então tinha essa com a gente, a não ser que Peter estivesse por perto, pois caso contrário ele arrancaria a cabeça dos dois com um único arranco. 

Fora isso, tudo seguia normalmente entre nós. Eu fazia questão de arrumar belas mulheres para eles quando estávamos curtindo em alguma boate ao redor do mundo, e era a melhor coisa que podíamos fazer. Os outros boyeviks, os que ficavam em Moscou, sempre diziam que ao invés deles terem ganhado um serviço árduo ao terem que fazerem minha segurança, eles ganharam férias sem data prevista para retorno. Mas eles não faziam ideia dos apertos que passávamos quando aprontávamos por aí, então apenas ignorávamos os comentários mordazes.

Eu nunca poderia esquecer o quanto eles me ajudaram com a minha recuperação, o apoio moral quando eu pensava em desistir de dar mais um passo, estando sempre ao lado me apoiando, mesmo que esse não fosse o real serviço deles, pois eles tinham apenas que me vigiar e não deixar que eu fizesse qualquer besteira, e não permitir que ninguém que representasse uma ameaça chegasse perto de mim. 

Mas não, chegaram como dois anjos na minha vida, mesmo que essas palavras soassem estranhas até demais para se referir a Mikhail e Ivan, os meus dois armários loiros de quase 2 metros de altura com cara de mau e assassino.

O Recomeço - Livro III        |COMPLETO|Onde histórias criam vida. Descubra agora