O Recomeço - Livro III |COMPLETO|

Capítulo 56

Capítulo 56

Matteo Greco

"Esse é o problema da dor. Ela precisa ser sentida."

- A Culpa é das Estrelas, John Green

A sala de espera estava fria, como sempre, os hospitais eram assim, congelantes.

A cada minuto que se passava, mil coisas tomavam conta dos meus pensamentos. Meu irmão em uma sala de cirurgia e minha mulher sendo costurada em outra. Não, isso não estava certo, as coisas não deviam seguir por esse caminho.

Éramos a Cosa Nostra, quando foi que eu perdi o controle do poder que se encontrava em minhas mãos há tanto tempo?

Quando eu deixei de ver a verdade bem estampada na minha cara?

Eu já fui um Capo melhor, nenhum detalhe me passou despercebido. Eu era cruel, as pessoas tremiam quando ouviam o meu nome. Agora, isso não parecia acontecer, eu tinha traidores bem embaixo do meu nariz, tudo bem que muitos deles eram soldados de Stefano, e que meu pai ainda possuía a confiança cega de muitos dos nossos homens, mas mesmo assim, eram traidores.

Isso estava errado, não era para ser assim.

O que aconteceu no meio do percurso que as coisas fugiram do controle? E tudo, simplesmente, começou a se esvair por entre os meus dedos?

Meu próprio pai tentou tirar de mim algo que me era muito valioso, tramou pelas minhas costas sem se importar com as consequências e até mesmo com os efeitos colaterais ao longo do caminho.

Até que ponto um homem vai pelo poder?

E o que adiantou? Agora ele estava morto, não pelas minhas mãos como era meu desejo, mas morto, longe das pessoas que me importam, realmente, e que ele desejava com todas as forças machucar.

Eu sou um homem que faço de tudo para conseguir o que quero, mas até mesmo eu tenho os meus limites, homens de honra o devem tê-lo, é isso que prometemos quando somos iniciados, não mexemos com nossas mulheres e crianças, e em nenhum momento Stefano Greco se importou com o seu juramento, a única coisa que ele queria era limpar o seu nome e manter as aparências de uma família perfeita.

Mas Helena era o defeito que lhe incomodava, ela era a linha solta em toda a sua trama que ele não conseguia se livrar, não importava que ele a puxava, cada vez mais ela crescia.

De nada valeu o seu incômodo e guerra. Morreu por um motivo insignificante, que em completo silêncio, apenas incomodaria a ele, já que nenhum dos capodecinas tinham conhecimento da verdade.

Então, por quê?

Por que tanto ódio? Quando sabia que me mataria de dentro para fora ter a minha mulher morta em meus braços "mais uma vez".

A porta da emergência é aberta e minha atenção se volta de imediato para o doutor que não está com a melhor expressão em seu rosto, não sabia dizer se era medo por estarmos aqui no seu hospital ou se algo, realmente, tinha acontecido.

- Senhor Greco, o seu irmão já está em uma de nossas unidades de tratamento intensivo, a cirurgia se complicou um pouco, pois com o disparo teve o intestino perfurado e precisávamos salvá-lo antes que atingisse um quadro de sepse irreversível, conseguimos reverter o quadro e precisamos ficar atentos às próximas 24 horas, pois elas serão decisivas. - quando ele termina de dizer ouço um suspiro femino atrás de mim e só então me dou conta de que mamãe estava ali e que estava tão absorto em meus pensamentos que nem mesmo me dei conta.