Capítulo 13

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Aleksandra Ivanov-Orlov

Soneto 30

“Quando à corte silente do pensar

Eu convoco as lembranças do passado,

Suspiro pelo que ontem fui buscar,

Chorando o tempo já desperdiçado,

 

Afogo olhar em lágrima, tão rara,

Por amigos que a morte anoiteceu;

Pranteio dor que o amor já superara,

Deplorando o que desapareceu.

 

Posso então lastimar o erro esquecido,

E de tais penas recontar as sagas,

Chorando o já chorado e já sofrido,

 

Tornando a pagar contas todas pagas.

Mas, amigo, se em ti penso um momento,

Vão-se as perdas e acaba o sofrimento.”

— William Shakespeare

A primavera já havia chegado e com ela o meu jardim havia se renovado. Eu poderia muito bem ser conhecida por aí como a senhora das trevas por ser fechada e usar mais preto do que qualquer outra cor, mas eu amava o meu jardim verdinho e repleto de flores. Por mais que eu tivesse a minha estufa, nada se comparava a essa imagem diante de mim.

O jardim ao lado do Shopping Gum da Praça Vermelha já estava magnífico, as cores eram capazes de hipnotizar qualquer um que passasse por lá, não havia como não chamar a atenção, os turistas ficavam maravilhados, e isso era ótimo, pois os incentivava a voltar mais vezes, e os deixavam alegres o bastante para gastarem ainda mais na nossa cidade.

Taz e Czar, os meus Dobermanns, estavam sentados um de cada lado deixando-me no meio entre eles. Eles eram totalmente pretos que chegavam até mesmo a refletir de tão espelhado os pelos, os olhos tinham um tom muito forte de mel, tinham suas orelhas cortadas, portanto elas eram pontudas e em pé, cada um deles pesava quase 50 quilos, e eram bem grandes. Acho que por terem sido feitos em laboratório por demanda, eles haviam ultrapassado um pouquinho das características normais dos cachorros dessa raça, mas não podia dizer ao certo, pois não sabia realmente qual foi o pedido do ex dono deles. 

Sentados eles batiam no meu quadril mesmo eu usando saltos altos, e com aquela cara de poucos amigos que eles tinham juntamente do tamanho, eles com certeza metiam medo em qualquer um que os visse ou em quem tivesse o desprazer de ficar sozinho com eles dois no mesmo cômodo.

Eu os “ganhei” de um fornecedor, fui fazer um acordo com um fornecedor de heroína da máfia eslovaca, e eu os encontrei em condições desumanas. Por mais que eles sejam cães de guarda e que eles tenham sido treinados para serem violentos diante de qualquer ameaça, a maneira como eles estavam sendo tratados era inaceitável. Cheios de cortes para aguentarem dor ao extremo e muitas outras coisas desagradáveis que eu não gosto nem de lembrar.

O Recomeço - Livro III        |COMPLETO|Onde histórias criam vida. Descubra agora