O Recomeço - Livro III |COMPLETO|

Capítulo 45

Capítulo 45

Helena Greco

"Porque eu fazia do amor um cálculo matemático errado: pensava que,
somando as compreensões, eu amava. Não sabia que, somando as
incompreensões é que se ama verdadeiramente. Porque eu,
só por ter tido carinho, pensei que amar é fácil."

- Clarice Lispector

- Sabe Helena, eu desejei tanto ter você de volta na minha vida, mas eu não esperava que fosse assim. - a sua voz parece com a de um homem cansado que perambulou por dias sem rumo.

- Assim como, Matteo? - a minha voz trêmula me entrega completamente, não sei o que se passa nem o que esperar dele.

- Uma Helena sem memória, problemática e que só sabe mentir para mim. - seu tom é ácido que me corrói por dentro. - Uma Helena que consegue fingir tão bem, mesmo olhando no fundo dos meus olhos, e o paspalho aqui acredita. Acredita porque o que mais deseja é ter a esposa que tanto ama, do seu lado novamente, então aceita o que você está disposta a dar. Você ainda não percebeu Helena? Eu faço tudo por você, eu quebro promessas, leis da Cosa Nostra, regras impostas a mim mesmo, eu passo por cima das minhas próprias vontades para satisfazer as suas, eu não te contradigo para não irritá-la e lhe causar estresse, eu deixo as coisas correrem soltas à sua maneira para deixar você feliz, te levo a lugares que eu nunca me atreveria a colocar os pés, muito menos com você ao meu encalço devido ao perigo, eu abdiquei muitas coisas por você e ainda o faço, e talvez esse tenha sido o meu erro desde o início. Pois talvez se tudo tivesse sido diferente e eu não tivesse tratado você como um ovo de pele, coisa que você não é, talvez você nem teria sido sequestrada para começo de conversa. Eu deixei essa corda correr solta demais nas suas mãos, tive meus homens tão obcecados por você que eles comiam na palma das suas mãos e faziam o que você dissesse para ser feito. Prova viva disso é que Alessandro e Carlos soltaram os russos que estavam presos. - o interrompo para me defender, mas ele não permite que eu fale mais do que três palavras.

- Eu não pedi...

- Não interessa, fizeram por você, sei que você não pediu agora, mas antes sim, e muitas vezes. De Carlos eu até esperaria algo assim, agora Alessandro? Aí sim você foi longe, atingiu o homem que no passado se eu mandasse ficar apenas de pé por três dias sem se mover do lugar o faria sem pestanejar, mas ele me desobedeceu para atender uma de suas vontades. Mas a questão que mais me magoa não é essa, é o fato de você mentir descaradamente para mim sem nem mesmo pestanejar, as palavras simplesmente saem dos seus lábios como se fossem a mais pura verdade, ou então a sua facilidade em me esconder as coisas. Coisas importantes, CARALHO!

Até agora sua voz estava tão calma que causava até mesmo um arrepio congelante em minha espinha devido ao timbre da sua voz, mas ele se exalta de uma vez e se aproxima bruscamente fazendo com que eu me afaste com medo.

- Nunca foi minha intenção, Matteo, as coisas simplesmente se desenrolaram assim e eu perdi o controle e não soube como voltar atrás e lhe contar a verdade.

- Mais mentiras. Estou cansado delas, eu fingi muitas vezes não ver o que estava bem na minha frente, simplesmente pela necessidade de ter você, de ter nem que fosse um pingo do seu amor respingado em mim, pela saudade que eu tinha da mulher que um dia eu amei e me deixou aqui quando partiu há mais de um ano. Mas você não é ela, a minha Helena não faria isso comigo, ela não mentiria para mim, ela não manipularia a mim e aos outros que estão ao redor dela para conseguir algo, pois ela não precisava disso.

- Matteo não fale assim, não diga coisas que possa se arrepender, por favor. - as lágrimas rolavam grossas e pesadas em nossos rostos, não dava mais para segurar a dor que toda essa situação causava.