Capítulo 5

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Matteo Greco

“Lembrar é fácil para quem tem memória. 

Esquecer é difícil para quem tem coração.”

— William Shakespeare

Eu encarava os meus filhos que estavam dormindo no mesmo berço um ao lado do outro com as mãozinhas juntas.

As babás os deixavam ficar assim quando estavam irritados, pois eles sabiam se acalmar viviam em seu próprio mundinho onde eles se comunicavam ao ponto de um consolar outro.

A cena não podia ser mais perfeita, trazia calma para o meu coração de pai de primeira viagem, pois eu sabia que nos momentos em que eu não podia estar presente eles dois se uniam para aguardar os nossos momentos juntos.

Às vezes eu surtava secretamente por pensar estar fazendo tudo errado. Eu podia muito bem ser um homem confiante e destemido nos negócios da Cosa Nostra, mas quando o assunto era sobre a criação dos meu filhos, eu já não tinha essa pompa toda sobre mim.

Mesmo tendo minha mãe para me assessorar, pois era única a quem eu pedia conselhos quanto às situações a respeito das crianças, eu não sentia que estava proporcionando tudo que fosse, realmente necessário para eles.

No fundo sempre ficavam aquelas centenas de dúvidas, principalmente, devido a falta da mãe deles. Não havia como parar de ser repetitivo quanto a esse assunto. Era impossível simplesmente esquecer disso como se fosse um mísero detalhe ou alguém insignificante no passado que não mudaria em nada a vida deles.

Não dá para dizer isso, pois… porra… ela é a mãe deles. Que filho não quer a mãe por perto? Isso é impossível.

Só serviria a distância caso ela fosse uma mãe cretina com eles, mas ela nunca seria alguém assim. Não era do feitio dela ser assim com ninguém, a alma generosa que ela possuía a impedia de ser assim. Claro que ela não era de ferro e trataria alguém mal caso fosse necessário, mas não os nossos filhos.

E trazendo todas essas questões à tona, me lembro que daqui duas semanas seria o nosso segundo aniversário de casamento. Passei o primeiro aniversário sozinho, pois ela já não estava aqui e passaria mais um deles, completamente, sozinho, seria assim pra sempre.

Ela já estaria com os seus 20 anos, mãe de duas crianças maravilhosas e continuaria a ser a esposa do homem mais sortudo e indigno por ter ela ao seu lado, mas nada disso aconteceu. Ela partira muito antes do que seria previsto para alguém tão jovem.

As lembranças me abalam mais uma vez e me acertam em cheio, sobretudo o ódio e a raiva, nem mesmo ver os meus filhos ali tão calmas estava surtindo qualquer efeito tranquilizador em mim.

Eu me lembrava da armação da filha da puta da Nora. Todo o seu plano sórdido para tirar Helena da minha vida na vã esperança de um dia tomar o lugar dela em minha vida. 

Eu sei que ela já havia feito besteira antes. Ela havia me entregado aos russos, de forma que passei pelo verdadeiro inferno sobre a terra, mas pela primeira vez na minha vida e quis tentar entendê-la, entender que eu havia acabado com a vida dela por tê-la usado e a ter feito, praticamente, a minha prostituta fixa.

Nunca prometi nada a ela.

Eu quebrei uma regra importante da Cosa Nostra ao ficar com uma das nossas meninas sem sermos casados. Eu tentei levar em conta que talvez, com o tempo que “dediquei” a ela eu poderia tê-la feito acreditar e criar falsas esperanças em sua mente tola, mesmo que eu não quisesse. 

O Recomeço - Livro III        |COMPLETO|Onde histórias criam vida. Descubra agora