Capítulo 25

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Aleksandra Ivanov-Orlov

Soneto LXV

“Se a morte predomina na bravura

Do bronze, pedra, terra e imenso mar,

Pode sobreviver a formosura,

Tendo da flor a força a devastar?

Como pode o aroma do verão

Deter o forte assédio destes dias,

Se portas de aço e duras rochas não

Podem vencer do Tempo a tirania?

Onde ocultar - meditação atroz -

O ouro que o Tempo quer em sua arca?

Que mão pode deter seu pé veloz,

Ou que beleza o Tempo não demarca?

Nenhuma! A menos que este meu amor

Em negra tinta guarde o seu fulgor.”

— William Shakespeare

Estou sentada em um banquinho próximo a uma fonte enquanto inúmeras coisas passam pela minha cabeça, cenas que tento usar de cada uma delas para acalmar a minha alma novamente.

Eu vejo e ouço os meus homens, quebrando ossos, esfacelando pessoas bem ali na minha frente enquanto me mantenho sentada com as pernas cruzadas e com uma taça de champagne em minhas mãos ou um copo com uma dose de whisky e não pisco um segundo sequer diante daquela cela, pois ela não me comove, não me toca, eu não sinto pena.

Só permaneço ali, no pedestal que criei para mim mesma. Inabalável, inatingível, perfeita.

Mas não consigo trazer a calmaria, pois de repente, tudo isso acontece.

Eu venho lidando muito bem com isso, já há algum tempo, então isso que aconteceu não deveria me afetar. A ideia de procurar por Joseph se infiltrou em minha mente e não saiu mais desde que eu ouvi o nome dele pela primeira vez. Desde o momento em que acordei e recebi uma história, dois homens para a minha proteção e uma posição respeitada em uma organização criminosa.

Mas eu nunca esperei que os motivos dele fossem esses. E isso me tirou do eixo, isso está errado. E o pior de tudo é que tenho a sensação de que Peter já sabia sobre tudo isso e escolheu omitir completamente esta parte quando contou a minha história. 

Por que?

Para me proteger eu sei que não foi, pois ele sempre foi franco e duro com as palavras, sempre frisou gostar de deixar a verdade exposta sobre a mesa, mas ele escolheu mentir sobre isso. O quão conveniente essa história era para ele? Eu não conseguia entender e juntar as peças, não sem falar com ele e ouvir o lado dele da história e estudar as suas expressões corporais.

Afinal de contas, eu sou apenas uma mulher sem memória, onde podemos constatar de que tudo que existe em minha mente a respeito de lembranças, ou fora contato por alguém, ou eu mesma venho criando-as desde que acordei.

O Recomeço - Livro III        |COMPLETO|Onde histórias criam vida. Descubra agora