Capítulo 29

1.9K 167 12
                                    

Matteo Greco

“Se por te beijar tivesse que ir depois para o inferno, 
eu faria isso. Assim, poderei me gabar aos demônios 
de ter estado no paraíso sem nunca entrar.”

— William Shakespeare

— Bom dia, querida… - paraliso com as crianças vindo logo atrás de mim, impedindo-as de entrarem no quarto ao bloquear a porta com o meu corpo.

— A mamãe, papai. Deixa dá bom dia. - Antonella faz birra atrás de mim tentando empurrar as minhas pernas, mas não saio do lugar.

— Safira! - grito o nome da babá e ela logo aparece. — Leve eles daqui.

— Sim, senhor Greco. - com certo custo ela consegue ludibriá-los e seguem para longe daqui.

— O que você está fazendo? - pergunto já entrando correndo no quarto e me agachando ao lado de uma Helena bêbada sentada no chão em um canto cercada de no mínimo sete garrafas de whisky e licores.

— Você não deveria ter me dado vinho ontem, porra! - ela diz irritada e de forma toda arrastada.

— Mas do que diabos você está falando, tomamos apenas algumas taças, Helena.

— Por que você não me contou a verdade, hein? O seu discurso é de que você quer se redimir e contar toda a verdade, mas mesmo que eu não me lembre, eu não sou idiota, você está me enganando mais uma vez. Todos vocês me enganam, nenhum é totalmente verdadeiro comigo. Você e Peter, são dois mentirosos de merda, eu vou sumir da vida de vocês dois, vocês não perdem por esperar. Vocês nunca mais irão me encontrar, vai ser como se eu realmente tivesse morrido. Mentirosos!!

— De que porra você está falando? Eu não minto para você, te disse que estou sendo sincero, lhe contando as coisas…

— Então por que não me contou que ele estuprou você? - ao escutar isso me afasto dela como se tivesse acabado de receber uma descarga elétrica pelo meu corpo. — Eu te fiz uma pergunta, Matteo Greco! Por que não me contou que ele violou você durante toda a sua infância e que ninguém fazia nada para te ajudar não importasse o quanto você implorasse?

Ela ficava má quando bêbada e com raiva. Ficava perversa na verdade. Soltava todo o seu veneno, não importava quem fosse atingido. E nesse momento eu era o alvo dela, mas eu não me importava, eu a amava demais para poder me importar com isso, eu prefiro passar por tudo isso ao invés de não não tê-la, de não poder vê-la todos os dias e ouvir aquela voz.

Deus, eu a amava perdidamente de forma obsessiva até. 

E nesse momento, mesmo que de forma acusatória, ela estava aqui, expondo os meus podres, o meu lado mais desgraçado e imundo, um lado que ninguém conhecia, que absolutamente ninguém sabia, mas ela sim.

Como ela sabia de algo assim?

— Quem te contou isso? - a minha voz estava fraca, mal conseguia sair de dentro de mim.

— Eu vi! Eu vi tudo. Vi o que aquele desgraçado fez a você, por isso eu o matei, você não viu? Na verdade isso foi apenas um dos motivos, mas eu não sou o tipo que é a favor de que estupradores vivam para pagar pelos seus erros, eu os prefiro mortos e bem longe de crianças ou de qualquer pessoa a quem possam fazer mal.

— Você matou Antonio por isso?

— Foram muitos os meus motivos.

Não consigo dizer nada. Não dá. Não esperava que ela soubesse disso dessa maneira, e muito menos que enquanto contava a ela na note passada que uma pessoa não me permitia ser feliz, no fundo ela já soubesse da identidade dessa pessoa. Ela apenas fingia escutar pela primeira vez.

O Recomeço - Livro III        |COMPLETO|Onde histórias criam vida. Descubra agora