Capítulo 55

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Capítulo 55

Matteo Greco

"A traição e a violência são facas de dois gumes:
ferem mais aqueles que as manejam do que seus inimigos."

- O Morro dos Ventos Uivantes - Emily Brontë

Desço correndo as escadas com o intuito de ainda alcançá-los enquanto rastejam um corpo pequeno saindo por entre as árvores.

Meu coração está disparado dentro do peito, não só pela correria e sim pela sensação que já preencheu todo meu corpo, o gelo que ela injeta em minhas veias capaz de até mesmo me paralisar é rápido em se espalhar.

Conheço a sensação.

É o medo!

Medo de tudo se repetir, mas de que agora ele "finalmente" tenha obtido sucesso naquilo que tanto desejava desde o início, ele sempre quis destruir minha esposa. E agora, com a possibilidade de que aquele corpo encoberto pelas sombras seja o dela, faz com que memórias que eu desejaria ter esquecido retornem com toda a força.

É assim que eu vivo em relação à Helena, sempre com este medo do outro lado da porta, pois enquanto o inimigo não fosse neutralizado e expulso das nossas vidas, essa sensação nunca partiria.

Existiria sempre aquele ar de coisas inacabadas e assuntos mal resolvidos.

Mas eu não permitiria que isso acontecesse dessa vez. Tudo isso precisava ter um fim, merecíamos ter paz e um minuto de felicidade em todos esses anos que passamos sofrendo, desde o momento que nos casamos, até o instante em que nos encontramos.

Quando alcanço o jardim e consigo avistar os homens, reconheço-os como os soldatos de Stefano e não paro muito para pensar, disparo contra a cabeça de um e quando ele cai me dando maior visibilidade ao outro, o atinjo com um tiro no coração.

Tudo é muito rápido, pois quando dou por mim mais homens aparecem da floresta incluindo o homem que por um tempo chamei de pai, bem como os meus homens que se posicionam ao meu lado.

Enquanto todos apontam suas armas para as cabeças uns dos outros não consigo tirar os meus olhos de cima de Stefano que se posiciona de modo que tampa minha mulher.

Ela não se move.

Completamente paralisada.

- Me entregue Helena. Ela não tem nada a ver com as suas maluquices, nunca fez nada a você, muito pelo contrário, sempre tentou nos aproximar como se fossemos uma família normal.

- Nunca me fez nada?! Ver esta garota andando na minha cidade, pisando nas minhas terras, gerando crianças com o mesmo sangue que o meu... Matteo, não houve ofensa maior para mim do que ver tudo isso acontecendo. Uma filha da Outfit na minha casa comendo da minha comida quando ela não deveria ter nem mesmo os restos que jogamos no lixo, essa cadela nunca mereceu o lugar que ela ocupou por tanto tempo.

- Ela nunca quis estar aqui! Você e o pai dela armaram todo este circo, ou já se esqueceu disso? - como alguém podia dizer tantas coisas sem sentido? - Tudo isso é culpa sua, se você a teve embaixo do seu teto, foi porque você falhou, não destruiu o seu inimigo quando...

- Exatamente! - ele me interrompe. - Ela é o meu fracasso ambulante, aguentar esta afronta de tê-la aqui só demonstra que eu fracassei quando era Capo, meus homens não foram capazes e letais o suficiente para acabar com a raça do povo da Outfit à época. Quando vocês iam se casar, quando tudo estava se aproximando eu pensei que antes de eu conseguir matá-la, você faria da vida dela um inferno, imaginei que você continuaria sendo o demônio que sempre foi, mas não, você amoleceu, ela estragou até mesmo você, a minha melhor máquina de matar, até isso ela conseguiu atrapalhar.

- Você está errado, ela não me estragou, muito pelo contrário, ela me deu motivos para me tornar um homem ainda melhor, principalmente no que eu faço, pois só assim eu conseguirei proteger a minha família. Ela me deu motivos para ter por quem lutar, para poder tirar tudo do meu caminho que possa servir de ameaça para minha família. E acredito eu que todos os meus caporegimes preferem mil vezes que eu a tenha do meu lado, pois eles já sentiram na pele como foi a minha governança sem ela ao meu lado, e eles viviam pisando em ovos comigo, com medo de que ao menor comentário um deles perdesse a cabeça. Ela me sustenta como o homem que eu sou hoje, não me faz um fraco. Fraco, é você que utiliza de uma mulher como desculpa para o seu fracasso como Capo, se seus homens não eram bons o suficiente para que destruíssem a Outfit, fosse você mesmo arrancar a cabeça de Joseph Thompson e impor o seu respeito, não queira ser respeitado em cima dos outros "papai" é a partir das suas próprias atitudes que os outros irão lhe respeitar se quer algo, pegue você mesmo e faça.

Enquanto eu dizia eu ia me aproximando com minha arma apontada para ele e todas dos seus homens apontadas para mim neste momento.

- Eu tenho vergonha de você. Na verdade eu tenho nojo! Como pode apontar uma arma para o seu pai para defender essa mulher?

- Eu já apontei uma arma bem na sua cara uma vez para defender minha mãe, não me incomodo em fazer de novo para defender a mãe dos meus filhos, uma mulher inocente em toda esta história. Eu deveria ter te matado a muito tempo, uma pena ter demorado tanto.

- Vamos lá, atire, viva com essa culpa de ter o sangue do seu próprio pai em suas mãos.

- Como eu queria não ter o seu sangue correndo em minhas veias, tê-lo em minhas mãos é o de menos, você sim me dá vergonha e nojo de ter como pai.

Ele se aproxima encurtando a pouca distância que existia entre nós e colando seu peito no cano da arma enquanto diz baixo em meu ouvido:

- Se quer viver com uma bastarda ao seu lado e ter filhos com sangue de prostituta como a avó e a mãe, vá em frente, mas não espere que eu fique parado e não faça nada enquanto você desonra o meu nome! Eu fiz muito para chegar até aqui, essa mulher parece ter mais vidas do que um gato, mas dessa vez ela não escapará das minhas mãos terei certeza absoluta de que dessa vez ela morreu antes de partir...

Ele pega a arma do coldre e quando pensa em se virar para disparar contra Helena um tiro lhe atinge na cabeça e seu corpo cai para o lado com toda força.

Todos nós paralisamos completamente.

De onde a porra do tiro havia vindo?

Observo o local olhando na direção em que a bala saiu e quando olho em uma das janelas do terceiro andar reconheço Federico Mancini, o meu esecutore, ele estava com um rifle de alta precisão em suas mãos e acabara de salvar minha esposa de levar um tiro.

Quando os soldatos se dão conta que alguns segundos se passaram o inferno se instaura, tiros começam a ser disparados e corpos caem no chão e se escondem para se proteger.

Enquanto alcanço o corpo de Helena um tiro atinge o meu braço, mas sigo firme em meu propósito, aquilo não era nada, dou a volta no carro e abro a porta do passageiro deito o banco e a coloco deitada, dou a volta e quando travo as portas tiro o capuz da sua cabeça e consigo ver o tanto de sangue que cobre todo o seu rosto e o estrago de um machucado enorme em sua cabeça em um corte bem profundo.

- Eu vou te levar para um hospital, você vai ficar bem!

Saio acelerado enquanto mais tiros atingem o carro, mas nada me faria parar.

"Oh, pequeno fantasma, você vê a dor
Mas juntos, nós podemos fazer algo bonito
Então pegue minha mão e perfeitamente
Nós preenchemos as lacunas, você e eu fazemos três
Eu fui feita para você, e você para mim

Você sempre amou os pássaros estranhos
Agora, eu quero voar em seu mundo
Eu quero ser ouvida
Minhas asas feridas ainda batem
Você sempre amou o estranho dentro de mim
Bela feiura"

_ Strange Birds, Birdy

O Recomeço - Livro III        |COMPLETO|Onde histórias criam vida. Descubra agora