Capítulo 30

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Matteo Greco

“Lembrar é fácil para quem tem memória.
Esquecer é difícil para quem tem coração.”

— William Shakespeare



As semanas que se passaram foram a maior tormenta de toda a minha vida, ao mesmo tempo que muito boas em alguns momentos.

Helena fora examinada mais uma vez, e após várias opiniões médicas, finalmente, ficou constatado que a perda da memória dela se deu devido a uma enorme quantidade de certa substância, a qual, se tratava de neurotransmissores inibitórios do cérebro.

Ao ser utilizada, e quando dentro do organismo, a substância apresentou a função de inibir algumas células do cérebro, e com o passar do tempo em que Helena esteve fora e nas mãos de Peter, ele continuou a medicá-la continuamente, mas mesmo que tenha sido em menores doses isso não impediu que ela adquirisse certa dependência.

Muitas vezes, remédios como esse, são utilizados por pacientes com certo grau de ansiedade, e também por outros que apresentam condições ainda mais graves de saúde. No caso de Helena, ele foi formulado com o intuito de que pensamentos normais para ela não fossem acionados e viessem à tona, ou seja, toda vez que ela tentasse se lembrar da real identidade e da vida que ela levava aqui conosco, esses neurotransmissores fariam o papel de impedir que isso acontecesse, suprimia totalmente as lembranças que ela tinha do seu passado.

Tal descoberta se mostrou um completo alívio para todos nós, principalmente devido ao fato de que fora possível manipular outro medicamento para reverter os efeitos causados pela substância. 

Mas nem tudo é tão perfeito assim, é claro que deveria haver mais problemas.

Acontece que, devido a falta dos remédios de Peter, Helena se tornou extremamente irritadiça, mesmo sem que ela quisesse, acabava sendo grossa e histérica, nem mesmo as crianças puderam ficar perto dela durante esses dias. O problema do álcool era o menor de todas as nossas preocupações, pois diferente do que ela pensava, ela não é uma viciada em álcool ou em cocaína ou qualquer outra porcaria, tudo isso era o que a mente e o organismo dela a fazia pensar, na verdade, toda essa ânsia advinha da ansiedade que vinha à tona devido a falta do medicamento.

Na Rússia, quando ela fazia o uso dessas drogas, era apenas por diversão e devido a vontade de se ausentar por algum tempo, mas não era sempre, pois lá ela ainda fazia o uso do medicamento. Então não porquê ela querer anuviar a mente dela com outras coisas, sendo que esse já era responsabilidade dos remédios.

Então, mais uma vez, nos restava apenas esperar.

Isso cansava, pois a única coisa que eu sabia ouvir era:

“Espera. Tenha paciência. Se acalme. As coisas vão voltar a ser como eram antes. Tudo no seu tempo, Matteo.”

Mas não dá para agir tão pacificamente quando você vê a pessoa que mais ama sofrendo bem diante dos seus olhos.

E doía, nossa como doía, ter que ouvi-la chamar por ele em seus momentos de alucinações. Me partia o coração, eu chorava no canto daquele quarto enquanto ela se contorcia na cama. A tormenta se instalava de noite e de dia agíamos como se tudo estivesse perfeitamente bem, eu não brigava ou trazia o fato de ouvi-la falar “Peter” às vezes, e talvez nem ela se lembrasse.

Enquanto essa desintoxicação não se fizesse totalmente 100% nenhum de nós teríamos paz, a memória dela tinha que voltar. 

Instituí para mim mesmo que enquanto ela não se lembrasse, eu faria de tudo para recriar os momentos novos, então, quando era possível e ela estava mais tranquila, fazíamos algo juntos em casa, passeávamos pela vasta propriedade, nadavamos, fazíamos nossas refeições juntos, qualquer coisa que nos aproximasse mais e mais.

O Recomeço - Livro III        |COMPLETO|Onde histórias criam vida. Descubra agora