"Sentei-me na cama. Apoiei a minha cabeça nas mãos. Tinha sido só um pesadelo, um pesadelo entre muitos. Deitei-me já mais ciente do que se estava a passar à minha volta e pus-me a apreciar o teto. O quarto só estava iluminado graças à luz da Lua. Não queria voltar a dormir e também não queria estar acordado. Amava a noite, da mesma maneira que a detestava. Decidi ir à varanda. A noite parecia ser a mais calorosa deste verão. Olhei para baixo, e à primeira vista, não havia ninguém na rua - achava eu. Lá em baixo, encontrava-se uma mulher a olhar para cima. Ela sorria, como se o seu trabalho fosse esse: guardar-me. Os seus olhos cor de diamante brilhavam com a luz da Lua, tornando-os maiores. Intensos. Ela não se atreveu a desviar-me o olhar. Nem por um instante. E eu estava completamente e igualmente hipnotizado. Como se nada mais importasse, para além de nós e daquele momento."
Acordei desnorteado. Olhei para o lado e vi a Mafalda a dormir. Estava num sono profundo. Levantei-me, vesti-me e saí da casa dela, deixando-a sozinha. Como já era de manhã, pus-me a andar até casa.
Pelo caminho, fui pensando no sonho que tive. Parecia ser tudo tão real, tão verdadeiro. Mas não passava de mais partidas da minha cabeça. Pensar sobre ela tanto me dava paz como me angustiava e portanto decidi afastá-la da minha cabeça.
Sim, claro que vais. Como se fosse possível.
Chegando ao apartamento, troquei de roupa e saí de casa novamente, entrando de seguida no carro. Conduzi até chegar a metade do caminho até ao Empire. Estacionei perto do hotel e peguei no meu telemóvel. Dei-lhe um toque.
— Desculpa se me atrasei! Uma colega minha levou-me a conhecer melhor a cidade e acabámos por ir parar a um bar e pronto... já deves calcular o porquê de estares a ouvir isto! — Lúcia explicou-se, depois de entrar no carro e apertar o cinto.
— Tu não te atrasaste, eu é que desta vez dormi demais — sorri para diminuir o peso na sua consciência. Ela retribuiu o gesto.
Falámos pouco pelo caminho. Ela ia vendo as ruas a passarem pela janela, eu ia concentrado na condução. Estranhei o facto de ela estar tão calada. Pensei em inúmeras coisas que lhe podia dizer para quebrar o gelo, mas nenhuma me pareceu razoavelmente boa para aquele momento.
— Eu... — começou, calando-se de seguida.
— Sim? — Olhei para ela.
— Nada.
Apreciei-a mais um pouco e voltei a concentrar-me na estrada. Por uma razão que desconhecia, estava um clima tenso no carro. Um certo desconforto da parte dela deixava-me em alerta e o facto de não saber o que lhe dizer estava a deixar-me também nervoso.
— Não pareces estar muito bem — decidi ser franco com ela. — Passou-se algo ontem?
— Não, nem por isso. Talvez seja só da ressaca.
Estava a mentir. Notava-se a milhas.
— Há algo que te preocupe? — Questionei-a, fazendo-a encarar-me. — Talvez... Algo relacionado com a mudança? Eu sei que viver num hotel pode ser stressante e não muito saudável para a carteira.
— Não, está tudo bem — insistiu. — E quanto à carteira, eu tenho poupanças de quando era nova... Não vai durar para sempre, mas penso que vai durar tempo suficiente até arranjar um apartamento.
— Se precisares de algo...
— Eu sei, eu sei — interrompeu-me.
Uns minutos depois, a entrada do Empire apareceu.
— Parece que chegámos — avisei-a.
— É... — saiu do carro. — Obrigada, Duarte.
— De na... — A ruiva interrompeu-me fechando a porta do carro, deixando-me ali sozinho a olhar para ela.

VOCÊ ESTÁ LENDO
Desejo: Fazer-te ficar
Romance[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...