-IV

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— Conheço-te de ginjeira — sentou-se na beira da minha cama. — Quem é ele?

— Porquê este interrogatório todo?! — Posicionei-me à frente do espelho para observar-me enquanto me penteava. — Geralmente sou eu quem faz as perguntas! — Bocejei. — Já para não falar que estou a morrer, quero descansar! — Pousei a escova e atirei-me para cima da cama.

— Porque sou a tua irmã mais velha. E se não andasses pelo Porto a namorar, não estarias tão cansada! — A Leonor deitou-se do meu lado.

— Eu não namoro! Nem sequer sei do que estás a falar — virei-lhe a cara.

— Que mentirosa d'um raio! — Mandou-me com uma almofada na cara.

— Está bem, pronto! — Levantei-me para me livrar de outro ataque. — O nome dele é Félix.

— Hm... — endireitou-se. — Continua.

— Ele é girito e tem piada. Apenas isso.

Encarámo-nos durante uns cinco segundos até ser atingida várias vezes pela mesma almofada.

— Está bem, está bem! — Rendi-me. — Eu não desgosto dele. Há algo nele... — caminhei até à janela. — Ele sabe sempre como me fazer interessar por ele. Ou com as suas meias-palavras ou através do descaramento das suas ações. Não sei — encarei-a. — Eu nunca gostei de alguém. Porém eu estimo a companhia dele. Um pouco de mais.

— Mas ele gosta de ti?

— Não sei... Pelas coisas que ele me diz, ele está pelo menos interessado.

«— Pareces ser um livro aberto e eu quero ler-te.»

Definitivamente.

— Nunca vos vejo juntos no recinto. Tem algum motivo em especial?

— Nós só nos encontramos no final do dia, a pedido dele. — A Leonor arqueou a sobrancelha perante aquela explicação. Notava-se que esta intrigada. — E eu não levei a mal... — sentei-me. — Também prefiro não misturar muito as coisas.

— Hm... — desviou o olhar.

— O que foi?

— Não há a mínima possibilidade de ele te estar a usar, Vera? — Encarou-me.

— Usar? Como assim "usar"? — Questionei-a ingenuamente, tendo como resposta um inclinar de cabeça. — Oh, esse usar? Não! — Senti as minhas bochechas corarem. — Nós só somos mesmo amigos.

Ela inclinou-se para a frente como se fosse contar algum segredo.

— Se ele te fizer alguma coisa, o paizinho pode...

— Eu não quero saber o que é que o paizinho pode ou não pode fazer — interrompia de imediato.

— Certo — levantou-se. — Contudo, esse secretismo todo geralmente nunca leva a lado nenhum. E quando leva, não é a algo muito bom — abriu a porta para sair do quarto.

— Por favor, não reflitas a tua antiga relação na minha.

"Que raio é que acabaste de dizer? Estás parva?"

A loira voltou a fechar a porta e encarou-me.

— Desculpa? — Cruzou os braços e olhou-me incrédula.

"Agora não há como voltar atrás."

— Tu ouviste bem, mana. Se a tua relação com o Rui não resultou, a culpa não é minha. Nem todos são o Rui Gama, apesar de ainda achar que ele não fez nada de mal...

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora