Sentei-me no sofá. Ela tinha o espaço bem arrumado. Sofá grande e cinzento, com uma pequena mesa de centro retangular de vidro e, não muito afastado, uma cómoda com a televisão e alguns livros. Ainda na mesma divisão, mas a uns metros de distância, encontrava-se uma mesa redonda também de vidro com lugar para quatro pessoas. Depois, as bancadas da cozinha com todos os eletrodomésticos a que tem direito, com o detalhe de uma televisão mais pequena do que a da sala em cima do frigorífico. Uma portada dava passagem para a varanda, enfeitada por flores. Para desvendar o resto da casa, bastava entrar pela porta que simulava a separação das duas divisões anteriores e caminhar pelo corredor que, a julgar pelo número de portas, devia dar ao quarto e à casa de banho. Logo reparei que a Lúcia ainda não tinha começado a cozinhar, se calhar por não a ter avisado que viria. Contudo não havia pressa. Naquele momento eu era todo dela.
Só nesse momento?
Consegui ouvir os passos da ruiva a aproximarem-se, apesar de estar descalça.
— Eu já volto, sim? — Apareceu do meu lado com as roupas dela na mão e foi-se embora quando assenti como resposta.
Assim que ouvi a água a cair, pus mãos à obra. Comecei a pôr a mesa para despachar logo essa parte e depois fui ao frigorífico dela para ver o que ela tinha para cozinhar. Abri todos os armários e lembrei-me de fazer esparguete. Peguei numa panela grande e coloquei água, pu-la no fogão e tapei-a com a tampa para que fervesse mais depressa. Quando já estava a ferver, adicionei-lhe sal grosso e por fim o esparguete. Pus-lhe também um pouco de milho e alho. Quando a massa já estava no ponto, ouvi-a com o secador. Graças a mim e aos meus grandiosos dotes de culinária, já tinha quase tudo pronto. Servi o vinho e de seguida o esparguete, pondo um pouco de ketchup e queijo ralado por cima dele. Liguei a televisão da cozinha num canal de música e nivelei o volume do som. Olhei para a sua varanda e reparei no vaso com flores roxas que a enfeitava. Decidi apanhar um ramo delas e pô-las numa jarra para enfeitar também a mesa.
— Acho que está satisfatório — comentei para mim mesmo com as mãos na cintura, apreciando o que acabara de fazer.
— Até diria mais, acho que está perfeito.
Virei-me para a encarar e concluir que o almoço não era a única coisa bem feita naquele lugar.
A Lúcia estava encostada à ombreira da porta do corredor, a olhar para mim e para aquilo que eu tinha feito com um sorriso na cara. Um sorriso que, diga-se de passagem, era o mais lindo que já tinha visto. (Sim, nunca me vou cansar de repetir isto.)
Os seus lábios estavam pintados com um batom de uma cor não muito diferente do seu tom natural. Os seus cabelos ruivos compridos desta vez estavam mais ondulados, formando no final pequenos cachos que lhe davam um toque especial. Os seus olhos azuis estavam pintados com o rímel, o eyeliner e uma sombra não muito chamativa. Como adornos, ela usava o colar que eu encontrei no chão, umas pulseiras douradas no pulso direito e um relógio, também dourado, no pulso esquerdo. Os seus dedos estavam enfeitados com anéis. Vestia umas calças de ganga justas e uma camisola de alças branca trilhada nas mesmas. Continuava descalça. Tanto as suas unhas dos pés como as suas unhas das mãos estavam pintadas de preto.
Claro que já tive outras oportunidades para tal, mas aquela pareceu-me perfeita para reparar em como ela era linda, em como a sua simplicidade a tornava tão única. Os seus traços e aquela timidez tornavam-a especial. E eu estava curioso para ver até onde eu a conseguia levar, fosse até à cama, fosse até ao altar.
— Permite-me dizer que esse elogio não se aplica só ao almoço.
Os seus lábios representaram a sua timidez através de outro breve sorriso e o seu olhar desceu ao mesmo tempo que as suas bochechas adotaram uma cor avermelhada.

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Desejo: Fazer-te ficar
Romance[CONCLUÍDO] Duarte Gama, um homem de negócios de 26 anos, sai do bar noturno que gerencia secretamente. Ao constatar que se esqueceu das chaves, recua caminho indo contra uma rapariga. Esta, atrapalhada, pede desculpa e segue a sua vida. Porém, ao...