-II

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— Ei, tu aí! Encantadora de máquinas!

Olhei para a direção de onde vinha aquela voz feminina que me era familiar.

— Sim, tu! Isso mesmo!

Analisei-a de longe. Parecia ser a rapariga da máquina.

— Vá lá, não me ignores! Preciso de ajuda outra vez!

Levantei-me do banco de pedra com os livros na mão e fui ter com ela até à máquina de comida.

— Creio que a máquina está a mandar-te comer algo mais saudável — disse-lhe ao reparar que mais uma vez o seu croissant com fiambre e queijo tinha ficado preso.

Dei dois murros na máquina e depois uns abanões. O croissant acabou por cair na caixa.

— Parece que sim, mas não lhe vou dar ouvidos — disse, reclamando o seu prémio. — Sou a Alice, — estendeu-me a mão para me cumprimentar — Alice Tróia.

— Sou a... — tentei apresentar-me.

— Eu sei quem tu és. Belmonte, certo? — Interrompeu-me.

— Bem, parece que toda a gente já sabe quem sou. Agora eu pareço não conhecer ninguém.

— Parece algo a se mudar — devolveu com um sorriso amigável.

Ela era linda. Olhos da cor do mel, cabelos loiros e compridos. O corpo dela era perfeitinho, parecia uma modelo. A julgar pelos livros que trazia no braço, parecia estar na faculdade de design.

— Design? — Procurei confirmar a minha teoria.

— De moda — completou. — Belas Artes?

— Música — completei. — Mas também tenho queda para o desenho.

— Teres queda, lá isso tens .

Era ele. Intrometeu-se na conversa ao passar por trás da Alice. Assim que ergui o olhar para o encarar, piscou-me o olho.

— Belmonte — cumprimentou, antes de se afastar por completo.

Não reagi. Limitei-me a observá-lo a seguir caminho.

— Não te babes — aconselhou Alice num murmúrio, puxando-me para terra firme.

— O quê? — Perguntei embaraçada com o comentário.

— Nada... — aproximou-se de mim de uma forma suspeita. — Mas posso ajudar-te com isso — piscou-me o olho.

— Conhece-lo?! — Perguntei. Era agora a minha oportunidade de desvendar o que se tinha passado no outro dia. Ela assentiu. — Quem é ele?

— Acho que é amigo de um amigo meu... Eles costumam andar juntos... — A loira focou o olhar na direção para onde o "desconhecido" seguiu. — Olha, lá estão eles ao fundo. O meu amigo é o moreno.

Prestei atenção no que tinha dito. Depois de uma pequena busca com o olhar, encontrei-o a falar com os amigos. 

— Os pais dele e o meu pai vão fechar negócio — prosseguiu. — Conhecemo-nos aí. Damo-nos bem. Ai... — suspirou e voltou a mirá-lo — Ele é lindo e ainda por cima é rico...

— Não te babes! — Roubei-lhe as palavras.

— Se o conhecesses, talvez soubesses do que estou a falar.

— Ele faz-me lembrar o primo da minha irmã — contei.

— Então...? — Franziu a testa. — Um primo da tua irmã que não é teu?

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora