XV

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— Eu não sei muito bem o que se passou, foi tão depressa e tão estranho... — contou, agarrada ao Paulo. — Eu fui ao carro para ir buscar a prenda da Ali. Um homem agarrou-me e encostou-me à parede. Perguntou-me onde estava uma mulher, se ela estava escondida ou se tinha vindo trabalhar. Perguntou-me se eu a vi ali perto, mostrou-me uma fotografia dela... Eu não a vi bem, estava muito escuro... parecia ter cabelo comprido, de um tom... castanho... talvez? Não sei, um castanho muito clarinho... Mas agora que penso, nem sei se era sequer algum tom acastanhado...

— Jéssica... — aproximei-me dela. — A mulher chamava-se Lúcia?

— Não... ele chamou-lhe outro nome qualquer — a morena respondeu-me. — Bel... "Bel" não sei quê... 

— Belmonte? — A Cátia perguntou. — Mas esse apelido é d-...

— Da família da Leonor! — A Alice concluiu, de olhos arregalados. — Jéssica, tens a certeza que foi esse o nome que ele falou?

— Sim! Quer dizer, não. Não, não tenho a certeza.

— Malta, não nos vamos precipitar — a Helena interveio. —  De certeza que existem outros nomes começados por "Bel". Não sejamos paranoicos.

— A Helena tem razão — Nicole apoiou-a. — Não é possível ela fazer parte da família da Leonor. Ainda mais com cabelos coloridos. A Leonor é loira.

— E a Mónica é ruiva — Sérgio argumentou.

— É, e porque andaria um homem desconhecido no meio da noite no Porto à procura de uma das Belmonte, sendo que nenhuma delas saiu de casa desde o incidente? — Nuno contrapôs.

— Bem... não é bem assim. — A Alice pronunciou-se. — No outro dia vi a Leonor aqui no Porto à noite. Estava com outra mulher, mas não a vi muito bem. Passei por elas de carro.

Deveras interessante, não achas?

— Talvez "Bel" seja mesmo o nome dela. Quem sabe? 

— Mas para onde é que ele foi? — O Diogo perguntou referindo-se ao atacante.

— Eu não sei. Eu dei-lhe um pontapé no meio das pernas e ele afastou-se. Ele ia para contra-atacar, mas acho que se arrependeu. Quando abri os olhos, ele tinha sumido. Parecia que estava fora de si...

— Jéssica, concentra-te — pedi-lhe. — Como é que ele era?

— Era alto, forte... O cabelo era escuro, olhos claros. E tinha um braço todo tatuado... o braço direito, uma tatuagem sem cor, toda preta.

Distanciei-me deles para pensar melhor. O Diogo apercebeu-se do que se estava a passar e veio ter comigo enquanto os outros continuavam a discutir sobre a situação. Peguei no meu telemóvel e liguei para Lúcia. A chamada foi parar ao atendente.

— Merda! — Reclamei.

Subi apressado até ao escritório alertando o resto do pessoal, mas apenas o Diogo seguiu-me. Dirigi-me à gaveta onde guardávamos os ficheiros daqueles e daquelas que empregávamos.  

— Achas que...? — Diogo começou.

— É ele — olhei-o e mostrei-lhe o ficheiro da Lúcia. — Lúcia Belgrado Matoso. Ele estava à procura da Belgrado, cabelos ruivos e compridos. Ele viu-a a trabalhar aqui e por isso veio aqui buscá-la. Não a deve ter encontrado no hotel e daí ter perguntado se ela estava escondida. Tenho a certeza absoluta que é ele! E pensar que me cruzei inúmeras vezes com o gajo... — Dei um murro leve na secretária em que estava encostado. — Devia ter desconfiado logo! Tudo bate certo!

— Duarte, não te culpes. — Pousou uma mão no meu ombro. — Tu não fazias ideia de que era ele.

— Eu deixei-o entrar aqui, para apreciar a Lúcia e estragar-lhe a vida. Como é que tu não queres que eu me culpe?

Desejo: Fazer-te ficarOnde histórias criam vida. Descubra agora